Fernanda faz parte de uma das turmas do curso de astroturismo, ministrado no Parque, promovido pelo Clube de Astronomia Louis Cruls em parceria com o DarkSky da Argentina. Essa modalidade de turismo vem crescendo nos Estados Unidos e em alguns países da Europa. E no Brasil, ainda que timidamente, começou a angariar adeptos.
Para aumentar esse número, o Parque do Desengano recebeu um título importante no final do ano passado. Como o primeiro Dark Sky Park (parque de céu escuro) da América Latina, com reconhecimento mundial pela International Dark-Sky Association (IDA), o Desengano começa a ser um destino prioritário para os entusiastas da astronomia.
O Parque do Desengano possui um dos principais requisitos para receber o reconhecimento da IDA: baixa poluição luminosa — não há iluminação artificial por lá, possibilitando uma incrível experiência contemplativa. Atualmente existem apenas 117 Dark Sky Parks no mundo.
— É um local onde é possível observar o céu sem a influência da poluição luminosa. O Parque Estadual do Desengano não possui iluminação artificial. Ter uma região que assume este compromisso é muito importante e possui uma divulgação internacional. Além de trazer problemas para a observação do céu noturno, a poluição luminosa afeta o nosso ciclo de vida e também os ciclos da fauna e da flora — explica Marcelo.
Segundo o professor, o reconhecimento internacional do parque tem atraído para a região amantes da observação do céu noturno, além de pesquisadores que estão cada vez mais visitando a região. “Há uma expectativa de que vários projetos de pesquisa sejam desenvolvidos no parque”, conta.
Astroturismo
Na região serrana do Rio, a 124 km de Campos, o município de Santa Maria Madalena, com pouco mais de 10 mil habitantes, cidade que abriga o jardim frontal da sede do Parque do Desengano, já começa a sentir os efeitos de seu reconhecimento mundial.
Além de Madalena, a tendência é que essa certificação fomente o astroturismo em toda região, uma vez que o parque deve, além de substituir sua iluminação por uma de baixo impacto, promover atividades de educação ambiental e receber pesquisadores de todo país.
Pesquisa e Clube de Astronomia
O Clube de Astronomia Louis Cruls, coordenado pelo professor Marcelo, celebrou 27 anos de atividades neste ano. Atualmente conta com mais de 100 integrantes, com um núcleo principal em Campos composto por 30 membros.
— Na nossa história contamos com o envolvimento de centenas de pessoas e se considerarmos a participação em nossos cursos de capacitação, nas atividades nas escolas e nos eventos que organizamos tivemos o envolvimento de milhares de pessoas. Somente nas observações dos eclipses tivemos um público total de mais de 15.000 pessoas. Somos atualmente um dos grupos de ensino e popularização da Astronomia e da Astronáutica mais ativos do mundo. Coordenamos vários projetos internacionais no Brasil. Nos últimos anos percebemos um aumento no interesse pela Astronomia e de modo particular em participar de nosso grupo. Atualmente temos núcleos em mais 5 cidades, além do núcleo principal em Campos dos Goytacazes. Um fato que nos deixa muito felizes e motivados é saber que, dentro das nossas limitações, contribuímos para despertar vocações — conta o coordenador.
Além do Clube, Campos centraliza instituições públicas de ensino importantes que possuem braços em toda região. Embora ainda não exista a oferta de cursos de graduação em Astronomia, duas disciplinas associadas com o tema foram aplicadas na Uenf. “Com o aumento do interesse na área, o nosso grupo tem planos, que já estão próximos de serem realizados, para o desenvolvimento de um núcleo de formação na área de Astronomia para as regiões Norte e Noroeste Fluminense”, disse Marcelo.
O destaque mundial do Parque do Desengano incentivou também a pesquisa, associadas a mitigação dos efeitos da poluição luminosa, e na área ambiental. Ciência e turismo podem e devem andar juntos, e o professor da Uenf espera que o interesse cresça:
— É uma atividade muito importante porque mostra que há um grande interesse pela ciência por parte da população e que este interesse também pode trazer benefícios econômicos para as cidades. O que está ocorrendo é um sinal que mostra a importância de museus interativos de ciência, e de modo particular dos planetários. Eu gostaria que fosse visto pelos governantes como uma motivação para investir na construção destes espaços de ensino e popularização da ciência, como ocorre em vários países do mundo.