Há um amansar nas transições. As semanas sem os divertimentos do verão, o clima começa a ficar menos quente, mesmo sem estar frio. Às vezes uma brisa nordeste refresca, em outras uma chuva com inveja das de verão cai forte na cidade — chegando até a alagar algumas ruas.
Transições podem ser calmas e confusas ao mesmo tempo. Os acontecimentos não param, mas parece que podemos dar um tempo para que eles se acomodem. Mas sem nos livrarmos da ansiedade. Confuso. Com a chegada do inverno vai dar para viajar para aquele lugar que havíamos planejado, iludimo-nos. Mas a transição não pode ser espera apenas; deve ter momentos de destruição. Se encararmos as transições como esperas inertes não teremos entendido nada de movimentos concêntricos.
A terra sabe disso como ninguém. Deixa as folhas das árvores caírem, aumenta os ventos para varrer as impurezas, abaixa os rios sem os secar, só o bastante para se reconstruírem, diminui a umidade do ar para que as vidas sejam menos férteis e consiga focar em transições; não em proliferações.
Política e economia também fazem suas frenagens de arrumação, reestruturam os programas, restabelecem acordos, acomodam apoios. Ao mesmo tempo o vento mais forte faz com que as rêmoras se soltem quando os tubarões pulam fora d´água. Transições.
Acredito que quarta e outono servem para a mesma coisa. Não são exatamente meios, são confusas, não dão prazer, não produzem alívio, não deixam confortáveis. São ao mesmo tempo esperanças e cansaços. Equilíbrio que sempre pode ser distorcido pela ação do ser humano, este que não respeita os ciclos necessários. Provoca furacões em regiões que não existia, ou muda os outonos. Permite pandemias que esticam transições até que elas se tornem algo desnecessário; até virar angústia.
Quartas são necessárias e outonos também. Mesmo que aconteçam em segundas ou verões, a depender da vida no momento. Mas sempre necessárias as transições. Sem elas, estamos fadados apenas às destruições.