Arthur Soffiati: Goa e Campos no contexto da globalização (I)
* Arthur Soffiati - Atualizado em 20/01/2024 09:39
Os impérios coloniais formados por cinco países europeus representaram o primeiro passo para a globalização, mundialização ou planetarização. A Espanha largou na frente com a conquista do arquipélago das Canárias, em 1402, depois de uma luta de quase cem anos com os nativos. Portugal lançou-se em 1415, com a conquista de Ceuta, no norte da África. Depois, vieram a França, a Holanda e a Inglaterra. Todos os cinco países já se movimentavam no âmbito da economia de mercado. O grande motor da expansão foi a procura de matérias-primas, produtos manufaturados e mercados. A Ásia era o grande objetivo, pois de lá provinham as famosas especiarias.
Aos poucos, Portugal foi formando seu império colonial de maneira bem mais pragmática que a Espanha. Seu objetivo era dominar o Atlântico sul e alcançar as Índias, como então era conhecido todo o oriente asiático. Em 1460, Cabo Verde foi conquistado. Em 1493, foi a vez de São Tomé e Príncipe. Logo depois, Guiné Equatorial foi conquistada (1494). Em 1500, Portugal tomou posse oficial do Brasil, embora não de forma efetiva. Ele enfrentou grande ameaça de estrangeiros até 1530, principalmente da França. A ameaça continuou depois dessa data.
Em 1558, apossou-se de Guiné Bissau. Descendo pela costa atlântica da África, Portugal fundou uma feitoria em Luanda, Angola, em 1575, ampliando aos poucos o seu domínio. Passando para o oceano Índico, tomou a ilha de Moçambique no início do século XVI. Goa foi conquistada em 1510; Diu, em 1546 e Damão em 1559. A ilha de Ormuz foi conquistada duas vezes: em 1507 e 1515. Malaca caiu em poder de Portugal em 1511. Timor em 1512 e Macau, em 1553. Portugal formou o maior império colonial do mundo no século XVI. Lisboa era a grande capital dele. Goa ocupava o segundo lugar na hierarquia. Tornou-se o maior centro comercial do oriente, assim como a cidade do México foi a maior do ocidente.
Diante da ameaça dos franceses, Portugal decidiu colonizar o Brasil, dividindo-o em capitanias hereditárias, em 1534. Uma delas, a de São Tomé, era o oposto de Goa, embora seus territórios guardem algumas similitudes. Em ambos, existem montanhas no interior, terrenos intermediários e terras baixas junto ao litoral. O território de São Tomé é banhado por vários rios, como Goa, sendo o Paraíba do Sul o maior deles. São Tomé foi doado a Pero de Gois e definido seu limite setentrional no rio Itapemirim por acordo com o donatário vizinho do norte. Houve uma tentativa de colonizá-la entre 1539 e 1546, fundando-se um núcleo português que ficou conhecido como Vila da Rainha, junto à foz do rio Itabapoana, nas terras intermediárias. Na última cachoeira dele, Pero de Góis instalou um engenho movido à energia hidráulica. As terras baixas assustavam os colonos por serem cobertas por extensos brejos e habitadas por povos nativos muito temidos pelos europeus.
Do outro lado do mundo, Goa reinava soberana como o maior e mais importante núcleo urbano fora de Portugal. Seu território alcançou cerca de 3.702 km². Supõe-se que o território da capitania de São Tomé tivesse a dimensão de 14.118 km², ou seja, quase cinco vezes mais que Goa. Mas, em termos do que então se chamava civilização, São Tomé era um território coberto de brejos e florestas, habitado por povos incivilizados e ferozes. Só em 1632, começou uma colonização contínua de São Tomé em moldes europeus. Cabia reduzir o volume de água das terras baixas para a colonização. A capitania passou para o domínio da família de Salvador Correia de Sá e Benevides e, posteriormente, passou a integrar a capitania do Rio de Janeiro com o nome de Distrito dos Campos dos Goytacazes. O mais importante núcleo urbano era Campos, fundada na segunda metade do século XVII. Com a independência do Brasil, em 1822, a capitania passou a província, dentro da qual o antigo distrito recebeu a designação de comarca de Campos. A república foi proclamada em 1889. A província passou a estado do Rio de Janeiro e a comarca de Campos mudou o nome para região norte fluminense. Depois, foi dividida em duas: norte e noroeste fluminense.
Por outro lado, Goa, Damão e Diu foram integrados à Índia independente em 1961. Ormuz já tinha sido perdida em 1622. Malaca passou para o domínio holandês em 1641. Com a Revolução dos Cravos, em 1974, os domínios portugueses na África tornaram-se independentes. O processo de Timor foi tumultuado em 1975 com a dominação da Indonésia. Hoje é um país independente. Finalmente, Macau foi reintegrada à China em 1999 com o estatuto Região Administrativa Especial.
A capitania de São Tomé/Distrito dos Campos Goytacás/Comarca de Campos/Norte –Noroeste Fluminense não estava nas rotas comerciais Lisboa-Luanda-Salvador (depois Rio de Janeiro)-Goa e vice-versa. Que paralelismo cabe então entre São Tomé e Goa? Elas podem ser entendidas como opostas dentro do império colonial português. Diretamente, Campos não deve ter recebido nada de Goa. Mas algum intercâmbio indireto existiu.

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