"O Céu que nos Protege" no Cineclube Goitacá
27/11/2018 18:24 - Atualizado em 29/11/2018 18:59
Em homenagem ao cineasta italiano Bernardo Bertolucci, falecido na segunda-feira (26), o jornalista e poeta Aluysio Abreu Barbosa apresentará nesta quarta-feira (28), às 19h, no Cineclube Goitacá, o filme “O Céu que nos Protege” (1990) por considerá-lo bem representativo de sua obra, embora não seja tão famoso como “Último Tango em Paris” e “O Último Imperador”, que recebeu vários Oscars, em 1988, inclusive o de melhor diretor. “Eu ia apresentar o filme ‘As Bruxas de Salem’, mas, diante da morte de Bertolucci, decidi propor ao Cineclube essa sessão de homenagem”, explicou.
Aluysio destaca que a história do filme é centrada num casal burguês de Nova York, a escritora Kit (Debra Winger) e o compositor Port Moresby (John Malkovich), que acompanhados do amigo playboy George Tunner (Campbell Scott) partem num navio rumo ao Norte da África.
— É 1948, três anos após o fim da II Guerra, da qual a região foi um dos palcos de batalha, saindo do conflito para iniciar seu processo de descolonização de uma Europa devastada. A diferença no caráter da viagem para o casal e o amigo fica estabelecida logo ao desembarque: Turner: “Somos os primeiros turistas desde a guerra”/ Kit: “Somos viajantes, não turistas.”/ Turner: “Qual a diferença?”/ Port: “O turista pensa em voltar para casa assim que chega.”/ Kit: “E o viajante pode nem voltar”.
Ele observa, ainda, que “na verdade, o único retorno planejado pelos Moresby é à paixão que esfriou em ambos no ócio de Nova York. Ao perceber que a atração (correspondida) de Turner por Kit pode ser um empecilho ao seu objetivo, bem como à fuga do conformismo opulento que o amigo representa, Port o deixa para trás em sua jornada cada vez mais para dentro da África e fora do mundo moderno. Na busca do amor, da música e, mesmo, da humanidade (da qual a África é o berço) em seus estágios mais primitivos, Port encontra o tifo, num forte da Legião Estrangeira, em pleno deserto do Saara, onde a vida abandona seu corpo em contraponto à areia que entra por todas as frestas do aposento. Antes, confessa à esposa que amá-la foi toda a razão da sua vida, e que tudo que fez foi por ela. Atônita pela morte do marido, Kit simplesmente segue uma caravana que passa, tornando-se amante de um nômade bérbere. Ela mergulha naquele mundo árido, miserável, tribal e repleto de moscas, onde o dinheiro não tem serventia e a língua estranha só se torna íntima ao traduzir o desejo. Como Ofélia, que enlouquece de verdade, enquanto Hamlet apenas simula, é Kit quem completa a busca de Port”.
Sobre a construção de “O Céu que nos Protege”, Aluysio salienta que “embora os transgressores ‘Último Tango em Paris’ (1973) e ‘Os Sonhadores’ (2003) também sejam filmes de Bernardo Bertolucci que poderiam integrar qualquer lista de melhores filmes de “romance”, a opção se dá por essa solar transposição às telas do livro homônimo e autobiográfico (adaptado pelo próprio diretor italiano e pelo roteirista queniano Mark Peploe) do escritor estadunidense Pawl Bowles. É dele a voz da narração em off e é o próprio que surge, já idoso, encarando Kit, ao final do filme”.
Aluysio mostra seu entusiasmo pelo filme ao lembrar que “além da direção e das atuações de Winger e Malkovich, o destaque fica por conta das envolventes melodias compostas na parceria entre o japonês Ryuichi Sakamoto e o estadunidense Richard Horowtiz, assim como para a belíssima fotografia em planos amplos do gênio italiano Vittorio Storaro, conhecido como “mago das luzes” e discípulo assumido do pintor renascentista Caravaggio. À luz do sol real, é fato: no deserto ou no amor, só o céu nos protege”.
Alusyio considera Bernardo Bertolucci um dos mestres do cinema face à sua genialidade demonstrada através de sua obra.

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