Clodomir Crespo: 'Estou aberto a qualquer apoio'
Aluysio Abreu Barbosa, Cláudio Nogueira e Matheus Berriel - Atualizado em 03/04/2024 09:06
Clodomir Crespo
Clodomir Crespo
“Eu não tenho grupo político. Sou uma pessoa 100% independente, mas aberta a qualquer apoio político”. A declaração foi dada pelo empresário e produtor rural Clodomir Crespo, pré-candidato a prefeito de Campos pelo Democracia Cristã, durante sua participação no programa Folha no Ar, da rádio Folha FM 98,3, nessa terça-feira (2). Clodomir também avaliou as pré-candidaturas a prefeito da cidade entre os grupos políticos dominantes dos Garotinhos e dos Bacellar, além de ter analisado o espólio eleitoral de Jair Bolsonaro em Campos. Apoiador do ex-presidente da República, ele não se esquivou ao afirmar que o PL, partido de Bolsonaro, está “bastante confuso”. Sobre a atual administração do prefeito Wladimir Garotinho, Clodomir ressaltou que o chefe do Executivo “nada mais é do que um herdeiro” e criticou o aumento da carga tributária. Em relação a construção de nominatas, o pré-candidato vê com dificuldade para um partido pequeno, como o seu, fechar esse número em um sistema legislativo, que segundo ele não é mais uma instituição independente. E por falar em Legislativo, Clodomir disse ser uma injustiça a cassação dos seis vereadores e que acha um absurdo a cota de gênero.
Espólio eleitoral de Bolsonaro — Para mim está muito claro que o PL, o partido que representa o nosso ex-presidente, está bastante confuso. O partido está bastante dividido. Posso afirmar isso. Após o pronunciamento do filho do capitão, o senador Flávio Bolsonaro, dando explícito apoio ao atual prefeito, o jovem Wladimir, houve uma repercussão bastante ruim na cidade e acredito que em todo o estado. Sei porque converso com outras pessoas do estado. Eu sou de direita, apoio o presidente Bolsonaro. Enquanto ele tiver condição de estar na política, eu estarei apoiando. Obviamente, se um dia ele estiver impedido ou ele próprio desistir, vamos definir por alguém que tem o mesmo segmento dele. Em Campos, eu cedi o espaço no prédio onde eu tenho o meu diretório. O meu segundo andar está ocupado pela direita, que se diz direita bolsonarista mais forte, mais radical. Eu cedi o espaço para eles, que ali montaram a sua estrutura, estão lá bem instalados. Um deles, que é até um personagem dos mais radicais, mas é uma pessoa muito querida no meio da direita, no meio dos bolsonaristas, é um pré-candidato nosso. Muitos deles têm me ligado contrariados com a decisão do senador Flávio Bolsonaro, que teve liberdade dada pelo próprio pai para que ele comandasse as decisões no estado do Rio. Os outros filhos estão comandando outras regiões. Não foi muita surpresa para mim essa atitude, porque desde o ano passado eu tive um bate-papo, num café lá em Niterói, com o deputado federal Altineu Cortes e ele já tinha me dito que estavam direcionados, compromissados com apoiar Wladimir. Não da forma que foi feita. Lá em dezembro do ano passado, ele tinha me dito que já estava sendo tudo pré-encaminhado, mas, palavras até dele para mim: “Política é nuvem. Hoje, está assim. Pode ser que mude”. Realmente mudou, mas não mudou a essência. Mudaram só os caminhos. Porque lá em dezembro ele tinha me dito que o pai, Garotinho, estava coordenando todo esse apoio, já junto com a família do Bolsonaro, e com a liderança estadual. Estavam todos alinhados com o pai, Garotinho, de trazer esse apoio quando iniciasse a pré-campanha para o jovem prefeito. A única surpresa que eu tive foi de o jovem prefeito ter feito esse caminho. Segundo palavras do próprio pai, no popular, para as pessoas entenderem melhor, passou por cima da liderança do pai e tomou para si essa decisão do senador, como se ele tivesse sido o articulador desse apoio. Tenho certeza de que o pai está certo. O pai, Garotinho, está certo porque desde o ano passado eu já tinha ouvido do próprio presidente estadual do PL que eles iriam apoiar o jovem prefeito, mas não por intervenção do jovem prefeito, e sim por intervenção e articulação do pai, Garotinho. Garanto a vocês que o jovem prefeito não terá apoio total dos bolsonaristas. Não posso prever, não tenho bola de cristal para saber qual será o percentual (dos votos bolsonaristas em 2018 e 2022) que se manterá com ele. Mas, garanto que será bem menor do que 50%. Mais de 50% não vão apoiar o jovem prefeito, por causa dessa contrariedade e por não verem no jovem prefeito um candidato realmente de direita. Ele tem provado nas suas atitudes que tem um lado bom, de ser uma pessoa que possa conviver com qualquer tipo de pensamentos. Mas, por outro lado, fica bastante duvidoso uma pessoa que se diz de direita e abraça também, faz mãozinhas de apoio a senadores do PT e outros políticos do PT, tipo qualquer coisa para conseguir alguma coisa. Uma coisa é você ser uma pessoa aberta, tolerante à convivência com todos. Mas, não precisa estar participando daquelas atitudes de pessoas que são claramente adversárias.

Candidatos bolsonaristas em 2020 — O Jonathan Paes é um jovem bastante aguerrido, mas, desde o início da sua campanha, tinha a sua eleição sob suspeita de como se concretizou. Ele não teve nem a campanha oficializada. Ele totalmente sem recursos, sem nenhum tipo de apoio político e com uma campanha duvidosa. Então, não podia se esperar outro resultado. E o Tadeu (Tô Contigo) já estava bastante desanimado desde a campanha de 2018, onde ele atuou até me ajudando, porque eu tinha vindo pelo partido deles a deputado estadual. Então, acho que o resultado está dentro do que se esperava, não teve nenhuma novidade. Não vejo nenhuma coisa de muita diferença. Acho que as duas candidatas consideradas de esquerda (Professora Natália e Odisseia) mostraram e comprovaram que a nossa região tem pouca tendência de esquerda. São João da Barra vem apoiando a sua ex-prefeita Carla Machado durante três mandatos, a elegeu a deputada estadual, e é um caso à parte. Mas, regionalmente, o PT e a esquerda têm um percentual bem abaixo dos que se alinham com a direita. Eu acho que está dentro da normalidade.

Transferência de voto — Uma coisa é o candidato, outra coisa são as pessoas que apoiam o candidato. Não tem essa de achar que “ah, porque eu apoio Bolsonaro, todo mundo que é Bolsonaro vai me apoiar”. Não existe isso! Eu posso apoiar Bolsonaro e não agradar em 80%, 90% ou até 100% às pessoas que são ligadas ao Bolsonaro. Eu acredito muito pouco em transferência de voto, não só a nível presidencial, como a nível municipal, estadual. Nunca acreditei nessa coisa de transferência.

Possível candidatura de Poubel — A meu ver, sem nenhum fundamento. Se eu pudesse decidir alguma coisa, eu o consideraria um candidato itinerante. Ele não tem vínculo nenhum com Campos. Ele é de Maricá, todo mundo sabe. Não vejo esse sentido nenhum. São artimanhas da política que alguns usam, mas, para mim, só se for para tumultuar alguma coisa, para tentar intervir negativamente contra o atual prefeito. Acho isso fora do contexto. Não apoiaria e não concordaria, digo claramente. Não tenho nada contra ele. Todo respeito a ele e ao seu mandato. Ele é um deputado estadual. Mas, vir a ser pré-candidato, futuro candidato a Campos, para mim é sem nenhum sentido. Só tem um propósito: prejudicar o atual prefeito. Não vejo isso como correto, não concordo.

Perfil da própria pré-candidatura — Eu não tenho grupo político. Sou uma pessoa 100% independente, mas aberta a qualquer apoio político, qualquer mesmo. Wladimir teve a infelicidade de dizer que eu sou candidato do (Rodrigo) Bacellar. Eu sei até por que ele fez isso e posso explicar. Há um mês, eu recebi a ligação de Marcos Soares, de quem eu não tenho nada contra. Ele tem a fama que tem aí, mas comigo nunca fez nada de errado. O que eu ouço dele são coisas públicas que falam dele, os apelidos que dão, os comentários que falam. Eu o conheço há 40 anos, porque ele desde jovem acompanha a política de Campos. Eu o vi várias vezes, nas campanhas do meu tio Paulo Albernaz, que eu sempre acompanhei, desde as primeiras. Ele, na verdade, é meu primo, mas como a nossa diferença era de 25 anos de idade, eu cresci tomando bênção a ele. Então, eu conheci esse rapaz. Esse rapaz me ligou um dia, falando comigo: “Clodomir, você não quer se aproximar do grupo?”. E eu falei: me aproximar como? Eu tenho meu partido, sou independente, não tenho grupo político. Agora, aceito participar, aceito estar junto com qualquer grupo que queira fazer essa mudança no sistema político. Porque eu não tenho problema com pessoas. Não sou inimigo de Wladimir, não sou inimigo de nenhum pré-candidato nem de ninguém que está no poder. O vice-prefeito (Frederico Paes), pelo contrário, é uma pessoa de quem eu gosto muito. Meu sentimento pessoal não tem nada a ver com política. É um sentimento que eu criei com ele, e ele sempre disse ser recíproco, espero que continue. Não acredito que ele vá mudar por causa de divergência política. O meu problema é esse sistema perverso. E eu disse a esse rapaz, esse rapaz botou o Marcos Bacellar conversando comigo. Marcamos um café. No dia do café, teve um problema sério na Câmara dos Vereadores. Ele vai e me liga, uma hora antes, desmarcando, porque ia receber os vereadores na casa dele. Marcamos para outro dia, na quinta-feira, mas tive a infeliz notícia do falecimento de um grande amigo, o Robertinho Panelão, da Casa das Tintas. Então, eu falei para desmarcar de novo, porque eu, infelizmente, tinha o velório desse grande amigo. Ficamos de marcar de novo e não marcamos. Poucos dias depois, ele, que era o braço direito, a cabeceira do velho Marcos Bacellar, saiu e passou a integrar secretaria, sei lá que cargo ele tem com o velho prefeito. Ele é quem deve ter falado com o jovem prefeito: “Clodomir está conversando com o Marcos Bacellar”. Só que ele foi infeliz também nesse comentário, porque eu conheço o Marcos Bacellar há quase 50 anos. Não tenho envolvimento político nenhum com ele, nunca tive. Tenho amizade de ser humano. Como esses políticos normalmente falam o que bem entendem e não medem consequências, talvez por isso o jovem prefeito foi infeliz nisso.
Críticas ao governo municipal - Eu sou pré-candidato do Partido Democracia Cristão, de braços e coração abertos a qualquer grupo político que não queira mais continuar esse sistema perverso, o qual eu estou convicto de que está falido. Já deu o que tinha que dar, já provou que não é viável, já provou que não é solução para os problemas de uma cidade, principalmente uma cidade como Campos. Está aí o nosso parque industrial e empresarial falido. Hoje, só existe uma grande empresa dentro de Campos, que é a Prefeitura. O resto é só consumidor de dinheiro. A única empresa em Campos de verdade que produz dinheiro de peso é a Prefeitura. Temos hoje (empreendimentos) graças ao meu amigo vice-prefeito e ao seu padrinho empresarial, o Renato Abreu, a quem eu admirava muito. Fora isso, só temos a Prefeitura. Uma cidade que está com um desemprego altíssimo, uma cidade com mais de 100 mil campistas passando necessidade, uma cidade sem indústrias, sem empresas de peso... As poucas que acreditaram a se instalar há 20, 30 anos, no governo dos pais dele, todas acabaram. Eu vejo a minha missão política nesse meio dessas três oligarquias (grupos Garotinho, Bacellar e Vianna) como uma missão muito difícil. Esses grupos são os maiores responsáveis por toda a administração pública nossa de 85 para cá. Então, eles são os maiores responsáveis. Wladimir nada mais é do que um herdeiro. Ele ainda não é o responsável total, está só dando seguimento ao que ele herdou. Essas pessoas que construíram esse processo não permitiram que grupos econômicos fortes se instalassem na cidade.

Críticas ao governo tendo Frederico como amigo — É difícil para mim, doloroso até, porque eu pensei que ele (Frederico) fosse mudar um pouco o rumo, a cabeça, a forma de pensar do jovem prefeito. Eu achei que ele, como mais experiente, como mais empreendedor, como mais executivo, fosse mudar. Infelizmente, o sistema político o sufocou. Não é questão de Wladimir mandar nele. O sistema o sufocou, não deixou que ele sobrepusesse ao sistema.

Outras críticas — Todo prefeito faz alguma coisa, não tem como. Você imagina se uma Prefeitura como a nossa, que já em três anos e três meses arrecadou quase R$ 10 bilhões, não fizesse nada. Poxa, aí também seria o cúmulo do absurdo. Se eu for analisar a fundação das causas, das coisas, não fez nada. Nós só trouxemos para Campos, nos governos deles, empresas consumidoras de dinheiro, que consomem recursos que já existem em Campos. Não foram eles que fizeram força nenhuma para ter essa arrecadação. Isso é fruto de coisas do passado. O direito de Campos ter a sua remuneração por roytalties do petróleo é o direito de indenização, já é do passado, não foi o jovem prefeito quem conseguiu isso. A carga tributária que ele aumentou, retroagindo cinco anos antes, coisa já do passado, para mim foi uma covardia. Tem muita gente penando por isso. Você vê a forma acirrada, a forma voraz como o jovem prefeito entrou para coletar impostos. E a contrapartida é muito pouca perto do volume de arrecadação, perto da responsabilidade que ele assumiu. Ele pegou uma Prefeitura já em derrocada. Ele (Wladimir) teve todas as oportunidades, cometeu coisas boas, teve bons comportamentos, teve boas alianças. Eu acho que esse é o caminho da política verdadeira, da política séria. Agora, tem que saber como as coisas estão sendo feitas, tem que saber de que maneira isso está sendo aplicado. A nossa cidade é uma cidade bilionária e tem um povo pobre, miserável. Metade do povo de Campos está chegando à miséria.

Suposta relação com o Grupo Bacellar negada — O Marcos Soares com certeza falou e explanou que eu andei conversando pelo telefone com o Marcos Bacellar. Isso não teve nada a ver. Eu não estive na posse de Rodrigo. Quem esteve lá foi o meu filho, que é amigo de todos eles de geração, de vida, de convívio social. Eu, como falei, gostaria muito de ter apoio de todos eles. Como eles têm recursos, bastante recursos, pelo seu tempo de política, pelos cargos que eles exercem, se eles quisessem me apoiar, eu aceitaria ajuda até do prefeito. Se ele tivesse coragem de me ajudar e deixar o povo escolher, eu aceito. Não sou inimigo de nenhum deles. Posso conviver com eles, mesmo não concordando em atitudes políticas. Como seres humanos, não sou contra nenhum deles. Eu vi o Wladimir dar os primeiros passos da vida dele. Eu já convivi com os pais dele, tenho certeza que ajudei os pais dele. Infelizmente, como com todos eles fazem, com o tempo eles (os Garotinho) vão expurgando. Todas as pessoas que não se sujeitam a ser 100% subservientes a eles, com o tempo eles vão expurgando. Eu não sou assim.

Nominata — Devido a esse sistema atual, a Câmara dos Vereadores não é mais uma instituição independente. Ela praticamente pertence ao prefeito que estiver, com raras exceções. Isso causa bastante dificuldade, principalmente num partido como o meu, um partido pequeno, que estava desativado desde 2021, com o falecimento do deputado João Peixoto, que administrava esse partido. Eu reativei o partido em dezembro do ano passado. Estou tendo dificuldade. Hoje, tenho um pouco mais de metade da nominata, mas estamos com uma equipe trabalhando bastante. Tenho certeza que até sexta-feira, sábado, a gente vai fechar, mas não como deveria ser fechado. Não sei quando o Legislativo vai deixar de ser dependente, escravo e subserviente ao líder do Executivo.

Cota de gênero — Acho um absurdo cotas. Acho, sinceramente, que tem que ser livre. Se um partido tiver a felicidade de ter 25 mulheres candidatas, por que não? Só isso! Agora, obrigar, no nosso caso aqui de Campos, a ter que ter em cada nominata oito mulheres, isso para mim é um absurdo, uma incoerência. Eu acho um absurdo cassar seis vereadores por causa de divergência de cota feminina. Têm que ser livres todas as mulheres e todos os homens, todos os gêneros que hoje existem na sociedade. Para mim, foi uma injustiça eleitoral tremenda cassar mandatos de seis vereadores porque descumpriram essas cotas femininas. Eu garanto que 80% das mulheres que serão candidatas a vereadoras estão fazendo favor ou recebendo alguma ajuda de custo; não têm o menor objetivo de se eleger.

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