Árbitro de futebol é vítima de racismo durante partida da Copa Ouro, em Goitacazes
Matheus Berriel 25/09/2023 15:55 - Atualizado em 26/09/2023 13:22
Luciano registrou ocorrência nesta segunda
Luciano registrou ocorrência nesta segunda / Foto: Reprodução
Uma partida da Copa Ouro, competição amadora disputada no interior de Campos, ficou marcada por um ato de racismo no último sábado (23). O árbitro Luciano Justo, de 51 anos, relata ter sido chamado de “negro, macaco” por um torcedor do Liverpool, de Goitacazes, ao marcar um pênalti para a equipe de Tocos. A partida aconteceu no campo do São José, em Goitacazes, e foi encerrada ainda no primeiro tempo, devido à revolta do árbitro. O placar marcava 1 a 1, mas a organização do torneio puniu o Liverpool com derrota por 3 a 0 e perda de mando de campo em uma partida.
— O jogo estava muito disputado. Em determinado momento, marquei um pênalti para o Tocos, e um torcedor do Liverpool (identificado) me chamou de “safado, ladrão, negro, macaco” — afirma Luciano Justo, que é árbitro da Liga Campista de Desportos (LCD). — Eu deixei o pênalti ser cobrado, para que a confusão não fosse ainda maior. Foi gol. Rapidamente, os jogadores do Liverpool colocaram a bola no meio-campo e a soltaram. Coincidentemente, teve um pênalti do outro lado, logo na sequência, e eu também marquei. Depois da cobrança desse segundo pênalti, que também foi gol, expliquei a situação aos presidentes dos clubes e aos jogadores, e encerrei a partida — explica o árbitro.

Quando Luciano Justo determinou o fim do jogo, esta tinha 40 minutos disputados. Segundo ele, tanto os dirigentes quanto os atletas das equipes entenderam a decisão e se solidarizaram. Luciano chegou a procurar o Destacamento de Policiamento Ostensivo (DPO) de Goitacazes. Foi atendido, mas teria sido informado de que não era possível enviar uma equipe ao campo por falta de viatura naquele momento. Ainda de acordo com o árbitro, a Polícia Militar compareceu ao local do ocorrido cerca de uma hora depois.

— Fiquei triste porque não tive a minha solicitação atendida no DPO. A polícia só chegou quando não existia mais nada. Se fosse na hora, era possível prender em flagrante, porque tinha testemunhas — lamenta Luciano, que chegou a chorar enquanto deixava o gramado, após encerrar a partida. Consultada, a assessoria de imprensa da secretaria estadual de Polícia Militar disse que “a viatura do DPO estava em outra ocorrência, como a própria vítima informou. Foi solicitada brevidade e a ocorrência teve continuidade”.

O árbitro registrou boletim de ocorrência na manhã desta segunda-feira (25), na 134ª Delegacia de Polícia (DP), no Centro.

Em nota, a coordenação geral da Copa Ouro repudiou o ocorrido. “É triste e lamentável que isso ainda ocorra nos dias de hoje. Incidentes e atitudes como essa não serão aceitos durante a competição, em hipótese alguma”, diz um trecho da nota, em que foi comunicada a punição ao Liverpool. “Temos a ciência de que ambos os clubes envolvidos na partida não concordam com tais atitudes, mas é inadmissível que isso ocorra no futebol amador da nossa cidade”, finaliza.

Apesar de não estar envolvido no caso, outro time amador de Campos, o Borussia CDM, da Linha do Limão, emitiu uma nota de solidariedade ao árbitro. “Estamos aqui para prestar todo apoio ao nosso amigo Luciano Justo”, publicou o Borussia nas redes sociais, como legenda de uma imagem com os dizeres “Diga não ao raicsmo. A discriminação racial não tem espaço no futebol ou em qualquer lugar”.

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