Da LOA às eleições de 2024 em Campos
Guiomar Valdez 03/02/2024 09:56 - Atualizado em 03/02/2024 10:02
Guiomar Valdez, historiadora e professora
Guiomar Valdez, historiadora e professora / Arquivo pessoal
*Guiomar Valdez

Li os três painéis de análise feitos pela Folha, que tratam dos problemas da LOA 2024 em nosso município. De início, e infelizmente, nosso município passa por uma repaginação conservadora em termos políticos. Que lembra a expressão da “vanguarda do atraso”. Lideranças de nova geração etária, que trazem consigo as características políticas antiquadas e antidemocráticas do clientelismo, patrimonialismo e paternalismo.
Nada de novo sobre a nossa planície. Triste e pior, porque agrega um provincianismo e um localismo recheados de reacionarismo, do ódio e da agressividade proeminente na política nacional e internacionalmente. Ou seja, reproduzindo e reforçando aqui este modus operandi. Daí porque não fico surpresa com as táticas políticas utilizadas na discussão e na aprovação da LOA 2024 em Campos.
Destaco criticamente neste imbróglio a participação da sociedade civil. Que é muito importante.
Entretanto, ação impulsionada pelo Executivo, fruto ainda do assistencialismo, tão eficaz nos arranjos e nos manejos eleitorais conservadores. Tais instituições deveriam avançar na articulação com outras entidades que tratam, por exemplo, da educação, da saúde, da moradia, do transporte popular, somando forças às lutas pela universalização dos direitos sociais.
Talvez o debate da LOA 2024 possa indicar também a reprodução de um fenômeno diferente acontecendo no Legislativo nacional, dentro do presidencialismo de coalizão. Aqui, temos uma Câmara e seus líderes que enfrentam publicamente o Executivo em assuntos sensíveis. Só que sem nenhum pudor, radicalizando os negócios eleitorais e, quem sabe, privados também. E muitas vezes rompendo acordos, caminho tradicional da coalizão.
Por último, achei importante a participação feminina, por parte do Ministério Público, mas nada que anime minha esperança. Já que, na mobilização conservadora da sociedade civil, também mulheres dirigiram o movimento de contestação.
A LOA pode ter sido o primeiro capítulo do debate eleitoral 2024 em Campos. Mantendo este formato de enfrentamento conservador e antidemocrático dos caciques Garotinhos X Bacellares, se nada acontecer de estrutural, penso ser possível a reeleição de Wladimir no 1º turno.
Há outras preocupações neste processo eleitoral de 2024. Como estão as forças intelectuais e políticas organizadas pensando a renovação do Legislativo campista? Aliás, estão pensando? Se nada for feito, o conservadorismo e reacionarismo predominarão na “Casa do Povo” — um “locus” de utopia do profundo exercício da democracia popular. E, para mim, não passa apenas por ‘eleger mulheres’ e/ou uma ou duas cadeiras com partidos progressistas.
Há que se considerar que o debate público feminista e a sua práxis não podem se esgotar em ocupar cargos eletivos ou em chefias corporativas. Isso é muito pouco, é um passo apenas, longe da potência emancipadora que se tem de uma sociedade “para além do capital”, democrática, inclusiva, afetuosa, e, muito mais! Angela Davis, Bell Hooks e Nancy Fraser, por exemplo, ainda são pouco compreendidas criticamente para grande parte das brasileiras. E as campistas não estão excluídas.
Considero também no processo eleitoral em Campos minhas reticências quanto ao PT. O pragmatismo político do lulismo vai manter candidatura própria para o Executivo? Suas relações e coalizões para a Prefeitura da cidade do Rio de Janeiro, bem como, em outros municípios, como São João da Barra, com a representatividade de Carla Machado, vão deixar esse nosso espaço político autônomo? Penso que não! A ver.
(*) Historiadora e professora do IFF

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