Bispo se posiciona sobre enredo do Chinês com N. Srª. da Penha
06/02/2020 09:52 - Atualizado em 06/02/2020 09:55
Estava mais que desenhado que poderia ter reações, de diversos setores, o enredo do Chinês para o Carnaval 2020. E não é de hoje que o alerta foi dado. A coluna Ponto Final, de 11 de dezembro de 2018, no dia seguinte ao que a escola anunciou o enredo para 2020 (e aqui, neste blog), chamou atenção para o fato de que samba com religião daria polêmica em São João da Barra.
Como a coluna e blog destacaram em 2018, “o enredo é ‘Um mar de fé’, slogan que é usado pela Irmandade da padroeira, nas festas, ao menos desde 2005. A imagem oficial traz ícones relacionados a Atafona e, no centro, a imagem de Nossa Senhora da Penha”. Tudo levava a crer que seria “uma homenagem a maior devoção mariana da região. Porém, não há como confirmar sem ter acesso à sinopse. Pode ser uma homenagem a Atafona, de maneira geral, e só citando a padroeira entre outras crenças para justificar o ‘mar de fé’”. Apesar do espaço ofertado, à época, ninguém — Chinês, Irmandade Nossa Senhora da Penha e Paróquia São João Batista — quis se posicionar.
De dezembro de 2018 ao mesmo período do ano passado, o assunto ficou engavetado. Bastou o Chinês lança seu samba-enredo para que as discussões voltassem para as redes sociais, com vários posicionamentos divergentes. Confira o samba do Chinês:
Nesta semana, a Irmandade de Nossa Senhora da Penha esteva com o bispo diocesano de Campos, Dom Roberto Ferrería Paz, para um posicionamento acerca do assunto. Em nota, a Irmandade reiterou “que não houve por parte da agremiação carnavalesca nenhum contato para que fosse possível um diálogo com nossa Irmandade, sempre estivemos, assim como sempre estaremos, abertos ao diálogo com qualquer instituição em nossa cidade e que a mesma posição do Sr. Bispo é a nossa, pois uma só é a voz, uma só é a Igreja e um só é o Pastor!”. A principal queixa é com relação ao uso da imagem da padroeira em artes vinculadas ao enredo.
No seu discurso, o bispo ressalta que no samba-enredo “a letra, em si, não apresenta deboche, desrespeito ou mesmo um ataque a nossa devoção Mariana, o que exigiria certamente uma recusa séria de qualquer católico”. No entanto, ele faz uma ressalva e uma recomendação à escola de samba:
“... deveria ter nos consultado porque o layout de Nossa Senhora pertencente à Igreja Católica e corresponde a ela zelar pela foto, por tudo que seja seu uso público. Mesmo assim, fazemos uma recomendação para o futuro que não gostaríamos que se repetisse esta forma, existem procedimentos. Seria bom para o bem comum da sociedade esse diálogo prévio, mesmo porque poderíamos orientar melhor. Então, tranquilizo a comunidade Católica que sobre a letra eu não tenho nenhuma objeção, mas, quanto ao procedimento, faltou uma consideração com a instituição que deve cuidar, justamente de Nossa Senhora, porque é um bem espiritual”. Veja o discurso do bispo:
Na edição desta quinta-feira (6), a Folha da Manhã traz (aqui), na capa da Folha Dois, uma matéria do jornalista Celso Cordeiro Filho sobre o caso. Presidente do Chinês, José Luis Pereira Melo, disse que não procurou a Irmandade e a própria Igreja porque o enredo não era sobre Nossa Senhora da Penha. “O nosso enredo é sobre Atafona e, logicamente, teríamos que fazer referência à Nossa Senhora da Penha. Mas, de qualquer maneira, nós ficamos muitos felizes ao saber que o Bispo não viu nada de ofensivo na letra do samba enredo. O tratamento é todo voltado para a história de Atafona, daí enfocarmos a presença da figura de Lourenço do Espírito Santo que primeiro aportou nesta praia e, mais tarde, viria fundar a cidade de São João da Barra”.
Polêmicas e desentendimentos à parte, o Chinês vai para Avenida do Samba de SJB no domingo (23) e na terça-feira (25) de Carnaval. Na quase centenária rivalidade da folia sanjoanense, o Congos entra na avenida nos mesmos dias com o enredo “Ô abre alas que o Congos vai passar!”.
 
 

ÚLTIMAS NOTÍCIAS

    Sobre o autor

    Arnaldo Neto

    [email protected]