Palestra de José Dirceu no Sindipetro tem confusão entre militantes de esquerda e direita
Aldir Sales 05/02/2020 19:39 - Atualizado em 19/02/2020 16:48
O início da palestra do ex-ministro José Dirceu (PT) foi marcada por confusão no Sindicato dos Petroleiros do Norte Fluminense (Sindipetro-NF), na noite desta quarta-feira (6), em Campos. Dois integrantes de grupos políticos de direita entraram no local vestidos com roupa de sindicatos e filmando o evento quando começou a confusão. Houve xingamentos e um princípio de empurra-empurra. Eles foram expulsos do Sindipetro em meio a gritos e palavras de ordem.
Titular da Casa Civil de janeiro de 2003 a junho de 2005, na primeira gestão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Dirceu também lançou seu livro de memórias, comentou sobre o atual cenário político nacional, defendeu a reaproximação do partido com sua base e reconheceu erros do PT.
Sobre a confusão, José Dirceu falou que não o preocupava e chamou a atenção dos militantes do partido. “O que aconteceu aqui não me tira sono. Faz parte da vida. Em Itabuna (BA), colocaram um carro de som enorme para tentar me atrapalhar. Em Campinas queriam me impedir de entrar no prédio. Gostam de escândalo para aparecerem depois. Viajo todo país carro, vamos enfrentar mais vezes essas coisas. Precisamos nos preparar, não temos o que eles têm de inteligência, uma tropa desarmada. Temos que prevenir o que vai acontecer”, afirmou.
Condenado pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) a 30 anos e nove meses de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro na operação Lava Jato, José Dirceu deixou a cadeia em novembro de 2019 depois que o Supremo Tribunal Federal (STF) derrubou a decisão anterior que permitia o cumprimento antecipado da pena após sentença de segunda instância.
Durante a palestra, o ex-ministro criticou atual ministro da Justiça e ex-juiz da Lava Jato Sérgio Moro e também, segundo ele, a anuência dos militares.
— O Estado Novo foi um golpe militar. Foram eles também que levaram ao suicídio Getúlio Vargas. Na época,quem ia acabar com a “corrupção” de Getúlio? O Jânio Quadros, que hoje é uma piada. Olha o Collor também. Primeiramente o golpe 1964 tinha como pretexto contra uma suposta corrupção. É a mesma coisa hoje. E sempre com os militares — disse o ex-ministro, que completou: “Moro é pior do que o Bolsonaro e ele está na reserva. A mídia está na oposição ao Bolsonaro com medo que nós voltemos, para tomar esse papel de principal oposição do governo”.
José Dirceu também reconheceu erros do PT e afirmou que faltou mobilização do partido. “Já falei isso no partido, o PT tem que parar com essa coisa de, se sofremos uma derrota é sempre porque o inimigo é responsável. Temos erros. Temos que mudar e não ficar apenas nesse berço esplêndido do Lula, que tem 40 milhões de votos. Se não tivemos à frente da luta surgem outros protagonistas. Como o lulismo é forte, o PT tem muito tempo ainda. Precisamos de esforço. O partido é um mal necessário. Precisamos de esforço para virar. Na hora do enfrentamento faltou povo para manter Dilma e tirar Lula prisão. Ele foi solto pelo STF. Se houvesse pressão popular, ele não seria sequer condenado”, finalizou o petista.
Um dos integrantes do grupo de direita que estava no evento foi Carlos Victor Carvalho. Ele disse que foi agredido com um soco e que teve um boné roubado. “Estivemos presentes no evento público do Sindipetro para observar, questionar e demonstrar nossa insatisfação com a presença de José Dirceu, braço esquerdo de Lula, ex-presidiário e condenado a 24 anos de prisão. (...) Eles vieram pra cima, nos xingando e chamando de fascistas. Até que um apoiador do movimento sindical roubou meu boné. Depois disso os seguranças pediram que a gente saísse para evitar uma confusão maior. E assim a gente fez, mas eles vieram nos agredindo e nos xingando. Foi quando um dos presentes me deu um soco na costela muito forte”.
Presidente do diretório municipal do PT, Odisséia Carvalho declarou que é contra atos de violência e que a confusão não foi provocada por militantes do partido. “Me estranha o fato deles não serem sindicalistas e estarem com boné da CUT (Central Única dos Trabalhadores). Era um encontro do José Dirceu com sindicalistas, movimentos sociais e com militantes do PT. O que eles estavam fazendo lá? Não foi um evento divulgado, só nos nossos grupos. Foram para provocar. Não temos nenhuma prática e, apesar dos ânimos exaltados, estava lá a todo momento para não permitir qualquer ato de violência, não vamos admitir”.
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