Prefeitura estuda cancelar 3ª edição do FDP!
Matheus Berriel 02/10/2019 17:10 - Atualizado em 08/10/2019 16:02
Após duas mudanças de datas, a terceira edição do Festival Doces Palavras (FDP!) provavelmente não será realizada pela Prefeitura de Campos. A possibilidade do cancelamento surge num período de preocupação financeira, em que se aproxima a votação da nova partilha dos royalties do petróleo, marcada para o dia 20 de novembro no Supremo Tribunal Federal. Recentemente, o contingenciamento de despesas decretado pelo prefeito Rafael Diniz já havia motivado o adiamento de 12 a 15 de setembro para 07 a 10 de novembro, além da coincidência de datas com o Samba na Praça, também realizado no Jardim do Liceu. A Prefeitura ainda não divulgou nota oficial sobre o cancelamento do FDP!. Mesmo sem a confirmação, curadores do evento já se mobilizam para buscar outras alternativas.
— A gente está trabalhando com essa ideia (do cancelamento). Estou esperando a oficialização — disse a presidente da Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima (FCJOL), Cristina Lima, sem se prolongar devido a um compromisso pessoal. O motivo não foi divulgado.
Uma reunião extraordinária da curadoria do FDP! com a sociedade civil foi marcada para sexta-feira (04), às 17h, na Casa de Cultura Villa Maria. Estarão presentes representantes de entidades culturais, de universidades, produtores independentes e artistas. Presidente da Associação de Imprensa Campista (AIC), Wellington Cordeiro informou ter solicitado uma nota oficial da FCJOL, mas ainda não teve retorno.
— A Prefeitura confirmando o cancelamento do Festival Doces Palavras será um momento lastimável para a cultura local. O FDP! é um evento que tem como objetivo valorizar duas vocações tradicionais de Campos: a literatura e a fabricação de doces caseiros. Seu propósito é fortalecer os laços de pertencimento do cidadão com sua cidade, algo tão prejudicado atualmente, quando o esquecimento prevalece na memória das pessoas. E é esse efeito grandioso que será levado à reunião com a sociedade civil na próxima sexta-feira — comentou Wellington. — A ideia é ouvir essa representatividade para decidirmos juntos o que fazer. O município de Campos dos Goytacazes e seus munícipes perdem muito com a não realização — afirmou.
Ex-presidente da AIC e um dos idealizadores do primeiro FDP!, o jornalista Vitor Menezes usou seu perfil no Facebook para lamentar o possível cancelamento e divulgar a reunião agendada: “A notícia que não gostaríamos de dar e um chamado para a luta que precisaremos travar ”, escreveu. Algumas pessoas ligadas à produção cultural em Campos se manifestaram prestando apoio nos comentários, entre eles o jornalista e diretor teatral Orávio de Campos Soares e o ator Alexandre Ramos, administrador da Santa Paciência Casa Criativa.
Realizado em parceria pela Prefeitura e o Sesc, o FDP! tem curadoria feita pela AIC, Academia Campista de Letras (ACL) e a Associação das Doceiras de Campos. A programação do evento estava sendo preparada com apresentações musicais, contações de histórias, teatro, oficinas culturais e de doceria, apresentações de trabalhos acadêmicos, lançamentos de livros, palestras, atividades físicas e bate-papos.
Entre as mesas temáticas da programação, estavam previstos assuntos como “Quantos anos afinal? A polêmica da idade de Campos”, “Sou Goytacaz, mas quem foram os Goytacazes?”, “Botequim Ao Gato Preto, um patrimônio campista”, “Poesia e identidade: da antropologia à antropomiofagia”, “José do Patrocínio e Princesa Isabel na perspectiva do movimento negro contemporâneo”, “As muitas pessoas na pessoa de Fernando da Silveira, o intelectual e ‘muso’ do FDP!”, “Cachaça Barra Velha e da Cervejaria Goytacá: tradição e inovação na indústria etílica local”, “Tradição de Cosme e Damião: a doce resistência diante da intolerância religiosa”, “Balbúrdia sim! Barbárie nunca! Liberdade pedagógica para uma educação crítica”, “Cala boca já morreu! Quando o autoritarismo se sobrepõe à liberdade de expressão”, “O porquê dessa gente ser nome de rua”, “Poesia marginal”, “Carnaval campista e seus poetas”, “Hip hop: poesia falada”, “Nina Arueira em diálogo com o feminismo contemporâneo. Permanências no enfrentamento ao conservadorismo campista” e “O cabrunco é nosso? Usos e costumes do termo que mais identifica a fala do campista”.

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