Prevenção constante ao suicídio
Matheus Berriel 01/10/2019 18:56 - Atualizado em 08/10/2019 15:51
Fotos: Antônio Filho e Divulgação
Muito comentada em setembro devido à campanha nacional temática vinculada à cor amarela, a necessidade de prevenção ao suicídio não pode se limitar ao nono mês de cada ano. Neste cenário preventivo, as instituições religiosas devem atuar de forma conjunta com os demais atores envolvidos no processo de acompanhamento coletivo, mas também individualizado.
— A igreja faz a abordagem a este problema grave desde a Pastoral da Saúde, isto é, da evangelização numa situação de especial relevância, porque implica o sentido da vida e da vocação de plenitude a que estamos chamados e que o suicídio nos tolhe. O suicídio tem muitas causas, e temos que ter cuidado com culpabilizar ou etiquetar as vítimas. Por certo a espiritualidade e a fé ajudam, junto também a um tratamento terapêutico integral, o apoio e acolhida da família e da comunidade — disse o bispo titular da Diocese de Campos, Dom Roberto Francisco Ferrería Paz.
Historicamente conflitantes em determinados temas, ciência e religião se aproximam nas orientações sobre a necessidade de identificação de fatores que causam a depressão e no acolhimento às pessoas que sofrem com a doença. A psicóloga coach, pedagoga e teóloga Aline Leite Alves Horta, ministra da Eucaristia durante seis anos na Paróquia São José do Avay, em Itaperuna, usou esta experiência como um facilitador para realizar palestras em um grupo de oração, tendo os jovens como público alvo. Desde o convite inicial, em 2017, as palestras vêm acontecendo em escolas, universidades, pastorais e igrejas.
— A importância de debater esse tema se dá pela valorização da vida. Suicídio não é falta do que fazer, vontade de chamar atenção, frescura, fraqueza ou falta de Deus. Então, em vez de julgar, vamos praticar mais empatia. Quando nosso coração está repleto de empatia, um forte desejo de eliminar o sofrimento alheio surge dentro de nós. Ao pensar em suicídio, a pessoa quer matar a sua dor, mas nunca a vida — explicou a profissional: — Não desista. Aconteça o que acontecer, jamais se entregue ao desânimo. Se não deu certo hoje, permita-se uma nova vivência. Só existem dois dias no ano em que nada pode ser feito. Um se chama ontem, e o outro se chama amanhã. Portanto, hoje é o dia certo para amar, acreditar, fazer e, principalmente, viver.
Bispo auxiliar da Arquidiocese de Niterói, Dom Luiz Antonio Lopes Ricci trabalha o suicídio na área da bioética. O tema inclusive pautou um livro de sua autoria, intitulado “Morte Social: Mistanásia e Bioética”. Sobre o assunto, ele cita aspectos religiosos para encorajar pessoas em depressão, em especial aos jovens e adolescentes psicologicamente abalados muitas vezes em virtude de preconceitos e outros problemas familiares e sociais.
— Precisamos aprender a reencontrar na cruz a sabedoria. Precisamos reaprender a unir as nossas cruzes à cruz de Cristo, aí ficam mais leves e mais suportáveis as nossas. Precisamos aprender com Maria a permanecer em pé, ainda que seja aos pés da cruz, como ela permaneceu e acompanhou seu Filho até o Calvário, depois presenciou sua morte, O recebeu já sem vida, sepultou seu Filho, mas permaneceu em pé e participou da alegria da ressurreição. Saber lidar com os dramas, com os conflitos, e unir às nossas dores às dores de Maria também — pregou o bispo, citando a necessidade do não julgamento por parte de pessoas próximas:
— É não julgar, entregar à misericórdia de Deus e fazer tudo para evitar que isso aconteça, dando carinho, dando amor, atenção, acompanhando, estando atentos aos sinais e oferecendo ajuda. Estendendo a mão, sabendo escutar e entender, e oferecendo condições para que a pessoa saia daquela situação difícil e pare de pensar em suicídio. Vamos juntos lutar pela vida, rezar pelos nossos jovens e adolescentes, rezar pelo nosso país.

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