Políticos repercutem prisões
Aluysio Abreu Barbosa e Aldir Sales 04/09/2019 09:09 - Atualizado em 06/09/2019 13:08
Ex-governadores Anthony e Rosinha Garotinho foram levados para Cidade da Polícia e, posteriormente, encaminhados para Benfica
Ex-governadores Anthony e Rosinha Garotinho foram levados para Cidade da Polícia e, posteriormente, encaminhados para Benfica / Reprodução de vídeo
As prisões dos ex-governadores Anthony e Rosinha Garotinho na operação Secretum Domus, um desdobramento da Lava Jato na 2ª Vara Criminal de Campos, repercutiu amplamente no meio político local. O casal é acusado de superfaturamento e de receber propina da Odebrecht para direcionar as licitações para construção das casas populares do programa Morar Feliz durante a gestão Rosinha. Logo pela manhã dessa terça-feira (3), as mais diferentes opiniões sobre o assunto começaram, com o posicionamento de vários políticos desde a planície, passando pelo Rio de Janeiro, até o Planalto Central.
O prefeito Rafael Diniz (Cidadania) lembrou das suspeitas de irregularidades, mas não comemorou as prisões. “Lamento ver mais uma vez o nome de Campos ser envolvido em escândalos nacionais. Desde 2017 nós levantamos as irregularidades no programa não concluído de casas populares do governo anterior. E enviamos tudo que apuramos para as autoridades competentes. Pelo que eu leio agora, a Justiça fala em um superfaturamento de R$ 60 milhões. É só mais um exemplo do rombo que deixaram na nossa cidade. E nós estamos pagando essa conta até hoje. A Justiça cumpre o papel dela. A Procuradoria-Geral do Município está acompanhando o caso. Pessoalmente, não comemoro a prisão de ninguém. Embora tenha a certeza de que comemorariam qualquer denúncia de corrupção contra meu governo, que nunca houve. Mas temos família e sabemos que a ex-prefeita é mãe e avó. É ruim para eles. É ainda pior para nossa cidade, que administramos em uma realidade financeira totalmente diferente de quando se podia fazer licitações de R$ 1 bilhão. Hoje, eu me pergunto: o que poderia fazer por Campos com esses R$ 60 milhões? Vamos lutar na Justiça para reaver esse dinheiro”.
Uma das filhas do casal e deputada federal, Clarissa Garotinho (Pros) classificou as prisões de “injustiça”. “Não é a primeira vez que estamos lutando contra tanta injustiça. Não somos covardes, vamos lutar pela liberdade deles e para que a justiça seja restabelecida”.
Por sua vez, o ex-prefeito Arnaldo Vianna (PDT), pai do pré-candidato Caio Vianna (PDT), disse que o maior prejudicado é Wladimir Garotinho (PSD), também possível postulante ao cargo de prefeito em 2020. “Acho que o maior prejudicado com isso (a prisão do casal Garotinho) é o filho (deputado federal Wladimir), que estava querendo se lançar a prefeito de Campos no ano que vem. Se eu estivesse numa situação dessas, lógico que isso prejudicaria Caio. Acho que ele (Garotinho) está pagando pelo que sempre fez. Ele sempre teve a mania de dizer que todos fazem coisas erradas. E a verdade está aparecendo. Espero que venha à tona, que não seja diluída em outra greve de fome, ou um habeas corpus, como das outras vezes. Penso que ele tem que pagar pelo mal que fez à nossa cidade. Isso tinha sido noticiado há algum tempo. Essas licitações do Morar Feliz foram fundamentais para eles arrecadarem recurso de campanha. Isso mudou no país. Temos ex-presidentes presos, ex-governadores presos. O incrível é que ele tenha feito tanta coisa, ficando esse tempo todo impune. Torço para que Deus ajude a nossa cidade”.
Deputado federal pelo PSL e ex-delegado da Polícia Federal em Macaé, Felício Laterça é contrário às prisões. “Para mim essas prisões foram desnecessárias. Falo como delegado da Polícia Federal, não como deputado federal que estou. É um fato pretérito. Não me parece haver fato novo que justifique as prisões. Se fala em coerção de testemunha, mas pode ser a justificativa que se precisa hoje. Na Polícia Federal, enfrentamos muito esse tipo de situação. São os excessos. E por conta desses excessos que o Congresso respondeu com a Lei de Abuso de Autoridade. A coisa se transformou em um monstro, onde o Legislativo comete excessos para se contrapor aos excessos da lei”.
Presidente da Câmara de Vereadores de Campos, Fred Machado (Cidadania) lembrou da CPI da Odebrecht que também concluiu pelos indícios de irregularidades no Morar Feliz. “Ter dois ex-governadores presos, mais uma vez, é lamentável para todo o Estado do Rio de Janeiro. E, infelizmente, nossa Campos é destaque em todo país, diante dessa operação do Ministério Público contra superfaturamentos nos contratos durante o mandato da ex-prefeita Rosinha. No ano passado, a CPI da Odebrecht, instaurada pela Câmara Municipal, também concluiu haver indícios de irregularidades nos contratos daquela gestão com a empreiteira e remeteu toda a documentação aos órgãos competentes. O que esperamos agora é que as investigações continuem e que todos os envolvidos em fraudes e corrupção sejam responsabilizados. Afinal, o cidadão campista precisa de uma resposta sobre o destino dos recursos do município”.
Já o deputado estadual e aliado de primeira linha de Wladimir Garotinho, Bruno Dauaire (PSC), desejou solidariedade ao amigo. “Fui surpreendido com a notícia pela mídia, ainda não tenho como avaliar nada, mas apenas prestar minha solidariedade a Wladimir e sua família neste momento”.
Colega de Bruno na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), Gil Vianna (PSL) declarou que deseja que a justiça seja cumprida. “Como cidadão e como político, busco e acredito na Justiça do nosso país. Não irei, de maneira nenhuma, compactuar com corrupção ou algo que infrinja nossas leis. A vida política deve ser clara e trabalhada em prol do cidadão, nada além disso. Estarei ao lado da verdade e apoiando, sempre que for necessário, que todo caso seja investigado e que a justiça seja cumprida”.
Presidente municipal do PSDB e pré-candidato à sucessão de Rafael Diniz, Lesley Beethoven condenou a euforia nas redes sociais pela prisão de Garotinho e Rosinha. “Acima de tudo, que a justiça seja feita. Sou legalista. E como todo cidadão, acredito que nossos desejos devem ser o respeito às leis e ao devido processo legal. A Justiça investiga, passa-se pelas instâncias recursais, se for o caso, transita em julgado, absolvendo ou condenando. E ponto final. No caso deles, em poucos minutos verifiquei uma euforia tremenda nas redes sociais e nos grupos de mensagens. Mas é isso mesmo? Euforia por prisões? Explicita a hipocrisia de muitos que até ontem eram ‘amigos’ e ‘parceiros políticos do casal’, hoje fazendo os mais variados comentários condenatórios e moralistas. Quando a notícia da prisão de ex-governadores é mais comemorada, por exemplo, do que a recuperação econômica do Estado do Rio de Janeiro, é a certeza que chegamos ao fundo do poço. Nenhum partido político pode compactuar com ilegalidades em nenhum dos três poderes. Repito: o caso em questão é com a Justiça: ela investiga e absolve ou condena”.
Outro pré-candidato a prefeito, o odontólogo Alexandre Buchaul (ainda no PSDB) questionou sobre a possibilidade de novos escândalos. “Mais um triste capítulo nas histórias do estado do Rio de Janeiro e do município de Campos. O jovem e promissor político que saiu de uma cidade do interior para ser governador e, então, candidato a presidente, coroa sua biografia com prisões sequenciais e escândalos de proporções a cada dia mais assustadoras. Não contente em ir só, leva a esposa a reboque. A cada nova prisão, mais uma pá de cal é lançada sobre a cova das velhas práticas políticas. Os que ainda não compreenderam isso, espero, farão companhia em breve a turma da ‘ala de ex-governadores’ do presídio fluminense. Os avanços dos meios investigativos, o instituto da delação premiada e o maior rigor com desvios políticos tardaram, mas chegaram. Muitos dos que, no passado, escaparam com penas brandas, quando existentes, hoje amargariam anos de prisão. Será esse o maior dos escândalos envolvendo a gestão dos Garotinho em Campos ou vem mais por aí?”.
Recém-filiado ao PSC, Marcelo Mérida falou que “essa é uma questão que deve ser avaliada de forma técnica pela Justiça, respeitando-se seus trâmites, com o direito amplo garantindo pela lei, sem os exageros de quem torce por um ou outro grupo político, o que tem sido latente em nosso município”.
O vereador Paulo César Genásio (PSC) foi o presidente da CPI da Odebrecht e, durante a sessão da Câmara, nessa terça-feira, falou sobre o assunto. “Quando a gente ouve que Garotinho ia para Brasília levar alguma solução para a operação Chequinho, eu acho que conhecendo Garotinho todos nós conseguimos entender que ele iria para Brasília tentar levar um cheque. E isso todo mundo consegue entender, só que não foi possível. Foi interceptado antes, porque se deixa ele levaria o cheque. Então é uma diferença muito grande de Garotinho ir para Brasília tentar resolver o problema da Chequinho e Garotinho ir para Brasília levar um cheque. Mas isso, graças a Deus, a Justiça se fez presente. Eu acho que a justiça está sendo feita, eu sei que muita das vezes dói diante da família, existem filhos, filhas, netos, e com certeza dói. A gente não vai avançar na dor de ninguém. Mas é bom que se entenda que a justiça tarda, mas não falha. Agradeço muito à Justiça da nossa cidade, o Ministério Público foi incansável e aí posso falar que o trabalho da CPI desta Casa foi fundamental, pois apuramos os indícios que ali constatamos”.
Primo de Anthony Garotinho, o vereador Alvaro Oliveira (SD) foi outro a falar no plenário. “Hoje (ontem) pela manhã tivemos uma notícia que ninguém gostaria de ouvir, para nenhum familiar, tivemos a prisão da Rosinha e do Garotinho. Não entrarei no mérito de discutir a decisão do juiz, mas sim de reafirmar o que tenho dito a todo momento. Se erros foram cometidos devem ser apurados e julgados com isenção pelas autoridades competentes. Lembro que só assumi meu mandato de vereador porque nunca me envolvi em nada errado. A justiça deve ser feita para todos, inclusive para a atual gestão. Porque se tudo estava errado no governo passado, como dizem, e olha que foram feitas auditorias em todas as secretarias, pagaram com dinheiro público mais de R$ 16 milhões em auditorias para todas as secretarias. Se pagaram esses R$ 16 milhões para auditoria e dizem que está tudo errado, como que a Prefeitura mantém contratos milionários da gestão passada?”.
Outro vereador, José Carlos (DC), foi o relator da CPI da Odebrecht e comemorou a atuação do Ministério Público. “Hoje (ontem) temos mais uma vez o dissabor de estarmos, nós munícipes de Campos, sendo estampados em cenário nacional como os campistas trouxas que fabricaram dinheiro. Nós fizemos uma CPI aqui (na Câmara), o vereador Genásio foi o presidente e eu fui o relator, e depois de 90 dias de estudos, oitivas, pesquisando, nós encaminhamos para o Ministério Público, ajudamos o Ministério Público a hoje estar fazendo com que essas pessoas que estão supostamente envolvidas... Mas onde há fumaça, tem fogo. Só na Odebrecht foram 60 e pouco milhões. Às vezes se bate palma aqui para pessoas que fizeram tão mal no passado, mas a gente esqueceu que aquela pessoa no passado fazia parte dessa quadrilha, que hoje está sendo presa. E bate palma porque tem uma tetinha que está mamando ainda. Então, esses mamadores de teta impulsionam as pessoas para o erro, induzindo a acreditar numa mentira”.
Por fim, o vereador de oposição Renatinho do Eldorado (PTC) questionou as prisões. “Com relação à prisão do casal Garotinho, é uma questão implacável. E nós sabemos os meios escusos que estão por trás disso, na questão política e na questão judicial. Há uma perseguição implacável ao casal Garotinho e tudo é política. É muito estranho que na quinta-feira Garotinho iria à Brasília dar um depoimento com relação a questão que foi feita do chequinho e outras situações, e aí dias antes ele é preso. Eu não sou especialista na área do Direito, mas a gente vê que o Poder Judiciário atropela e atropela com força. Só não atropela quem é ladrão de galinha”, finalizou.
A equipe de reportagem tentou contato com Wladimir Garotinho e Caio Vianna, que visualizaram as mensagens, mas não responderam. Os deputados João Peixoto (DC) e Christino Áureo (PP) não quiseram comentar. Já Rodrigo Bacellar (SD) disse que responderia, mas não deu retorno até o fechamento desta edição. 

ÚLTIMAS NOTÍCIAS