Encontro de Bolsonaro e Trump sob a ótica campista
Arnaldo Neto 19/03/2019 23:14 - Atualizado em 22/03/2019 17:36
Isac Nóbrega/PR
O presidente Jair Bolsonaro encerrou ontem a visita de três dias aos Estados Unidos com um encontro na Casa Branca com Donald Trump. No Salão Oval, além das cortesias de trocas de camisas das seleções de seus países, mostrando uma demonstração de cordialidade enquanto iniciam uma nova relação entre Brasília e Washington, a questão econômica também foi debatida. Bolsonaro concordou que o Brasil abra mão do tratamento diferenciado que os países em desenvolvimento recebem na Organização Mundial do Comércio (OMC) em troca do apoio dos Estados Unidos à adesão do país à Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
Trump elogiou a campanha de Bolsonaro e disse que os dois países nunca estiveram tão próximos quanto agora. O estadunidense disse, ainda, que a aliança com o Brasil nunca foi tão grande. “A campanha dele foi incrível. Algumas pessoas disseram que lembraram da nossa campanha quando pensaram na campanha dele”.
Já Bolsonaro afirmou que o Brasil mudou “após algumas décadas de presidentes antiamericanos”. O brasileiro ressaltou a parceria com os Estados Unidos nas áreas de combate ao terrorismo e crime organizado, ciência, tecnologia e inovação, energia, óleo e gás. “Este encontro retoma uma antiga tradição de parceria e ao mesmo tempo abre um caminho inédito entre Brasil e Estados Unidos”.
Para o historiador campista Aristides Soffiati, o encontro foi mais “de uma tendência conservadora no mundo, do que propriamente um encontro entre dois estadistas”. Soffiati também destacou o discurso no dia anterior do ministro da Economia, Paulo Guedes. Para o historiador, o ministro leva propostas que não são tão parecidas com o discurso de Bolsonaro:
— Vejo o Paulo Guedes meio deslocado desse contexto, porque o que ele falou ontem, em inglês, falou até bem solto, com bastante intimidade com a língua e também com a política neoliberal que ele defende e que acaba conflitando com a política conservadora do Bolsonaro, do Olavo de Carvalho, do Steven Bannon [polêmico ex-assessor de Trump]. No pensamento neoliberal, não há lugar para um conservadorismo de costumes. O neoliberal não está preocupado se o indivíduo fuma maconha, ou compra arma para matar alguém. Ele está querendo transformar tudo em dinheiro, privatizar.
Sobre o encontro, o cientista político Hamilton Garcia salientou que o alinhamento do Brasil com o Ocidente é histórico, por ser produto da colonização portuguesa. “Mas, desde 1930, nosso alinhamento automático com a potência dominante, Inglaterra e, depois, EUA, foi substituída por um alinhamento pragmático, que colocou novas potências nesse leque (França, Alemanha e Japão) e permitiu uma política independente na África e no Oriente Médio e extremo. Esta tradição pragmática, resguardada não só pelo Itamaraty, mas também pelas Forças Armadas, deve conviver com a nova aliança estratégica com os EUA, que tende extrapolar os governos em função dos interesses convergentes da nossa indústria e geoestratégicos dos EUA”, avaliou.
Na questão da OCDE, que reúne os países mais industrializados do mundo e estabelece parâmetros conjuntos de regras econômicas e legislativas para os membros, segundo comunicado dos dois presidentes divulgado pelo Ministério das Relações Exteriores, Trump elogiou os esforços do Brasil para reformar a economia e alinhar as práticas e os marcos regulatórios e manifestou apoio para que o país inicie o processo de adesão.
Isac Nóbrega/PR

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