Conservação da história
09/11/2018 18:37 - Atualizado em 13/11/2018 14:14
No distrito de Santo Amaro, na Baixada Campista, famílias preservam residências históricas. Obra do mestre de carpintaria Albertinho Português, que fez a reforma e ampliação na igreja de Santo Amaro, a residência da família Neves é um exemplo de patrimônio preservado e abriga os familiares. A construção de 1927 passou por adaptações, mas manteve a fachada original. Todo projeto de restauração foi planejado pelo projetista e técnico em Edificações, Jorge Bento Neves Pereira.
— Nasci e cresci nessa casa de minha família, e quando me casei, em Niterói, ao retornar a Santo Amaro resolvi investir na preservação da residência. Fizemos uma adaptação no interior, mas a fachada original foi mantida. É uma das casas mais antigas que está preservada pelos proprietários. É uma obra que tem um valor familiar. Meu pai, já falecido, foi aprendiz desse mestre português que deixou essa importante obra no distrito — disse Jorge Bento.
A família Neves é uma das mais tradicionais de Santo Amaro. Adauto Neves residiu na residência e teve um trabalho de destaque. Foi Juiz de Paz no cartório de registro da comunidade, além de ser construtor de casas participando das obras realizadas no distrito, destacando a grande reforma realizada na igreja de Santo Amaro, por ocasião da construção das torres, um projeto coordenado pelo mestre português.
Contador de histórias e estórias relata um tempo que Santo Amaro teve projeção no cenário político, com a conquista de melhorias trazidas pelo líder comunitário Manoel Gonçalves. O distrito era visitado por governadores e políticos da esfera nacional. Muitas das histórias foram contadas por Adauto Neves recordando fatos que aconteceram. O serviço de distribuição de água aos chegava pelos trilhos da ferrovia. E a memória das festas do padroeiro da Baixada Campista.
Resgatar essas histórias é um desafio para o pesquisador de cultura popular, Ricardo Gomes. Uma pesquisa minuciosa está sendo organizada para compor a memória da região. As bandas de música, o trabalho dos monges beneditinos que neste ano completam 370 anos de presença na cidade.
— Tenho uma média de 20 anos de pesquisas sobre o distrito de Santo Amaro e nesse projeto o objetivo é reunir tudo para a criação de um memorial que possa reunir toda a memória social, histórica e religiosa. Muito se perdeu com o tempo, mas ainda é tempo de reunir tudo, já que Santo Amaro tem muitas histórias de um tempo que pelo distrito era centro de decisões até da política nacional. Basta perceber que personalidades do mundo da política passavam pela comunidade. Destacamos o General Pinheiro Machado em sua residência na Boa Vista. Histórias que estavam se perdendo no tempo e na história — destaca Ricardo Gomes.
Dentre os projetos dos moradores está a luta pela recuperação da estação ferroviária do distrito. Jorge Bento fala do prédio e da importância para o distrito. E adverte sobre o perigo de desabamento do prédio, ameaçando crianças que brincam nas proximidades. Lamenta a falta de preservação deste patrimônio.
— Em Santo Amaro, o prédio da antiga estação tem um valor histórico. Um prédio que poderia ser aproveitado para abrigar a memória dos moradores. Desde criança já percebia a necessidade de restaurar o prédio, e para se ter uma ideia, as telhas foram importadas da França. Esses dias resolvi guardar uma telha para mostrar o que isso representa. Já perdemos o Sobrado da Boa Vista, e ainda há tempo para resgatar a velha estação, lugar de muitas memórias e recordações de um tempo que não volta mais — concluiu Jorge Bento. (A.N.)

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