Taxa de homicídios cresce em Guarus
Victor de Azevedo 21/07/2018 15:06 - Atualizado em 23/07/2018 14:20
Homicídio em área de conflito em Guarus
Homicídio em área de conflito em Guarus / Folha da Manhã
Dados do Instituto de Segurança Pública (ISP) do Rio de Janeiro mostram que, de janeiro a junho deste ano, a 146ª Delegacia de Polícia (Guarus) registrou 94 homicídios dolosos, o que configura que a repartição é uma das que mais têm casos investigados de crimes contra a vida no estado. No mesmo período de 2017, o número era de 57, ou seja, um crescimento de 65%. Enquanto os números computados na 146ª DP cresceram, as ocorrências na 134ª Delegacia de Polícia (Centro) foram reduzidas de 43 para 32. O aumento da criminalidade em Guarus ocorre no mesmo período da intervenção federal no estado, que completou cinco meses no último dia 16. Dois meses após a visita do secretário de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro, general Richard Nunes a Campos, ainda não foram realizadas ações conjuntas no município entre as tropas estaduais e federais. Enquanto isso, o 8º BPM iniciou neste mês a operação “Ressonância”, com o objetivo de reduzir os índices de criminalidade, principalmente na “Síria campista”, localizada no subdistrito de Guarus.
A possibilidade de parceria com a 2ª Companhia de Infantaria do Exército (antigo 56º Batalhão de Infantaria), instalado em Guarus, especialmente nos casos homicídios, e também operações integradas das polícias Civil e Militar, inclusive com a participação do Exército, foi levantada pelo secretário de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro, general Richard Nunes, em visita a Campos no último dia 22 de maio. Porém, quase dois meses depois, nada ainda foi feito em termos de operações conjuntas no município. Ao ser questionada sobre a falta de ações integradas, a assessoria de Comunicação Social da secretaria de Segurança Pública informou que o órgão não adianta planejamento de ações.
Diante do quadro assustador de violência, o 8º BPM iniciou neste mês a operação “Ressonância”, que diariamente envolve mais de 100 policiais. Em Guarus, a ação foi levada aos parques Eldorado e Novo Eldorado, Prazeres, Santa Rosa, Santa Helena, Chatuba do Lebret e bairros vizinhos, inclusive com retirada de barricadas. Mais de 100 carros foram apreendidos e quinze pessoas foram detidas. Além do subdistrito, a operação foi realizada na Tira Gosto, Portelinha, Penha, Baixada Campista e Travessão.
O comandante do 8º BPM, tenente-coronel Fabiano de Souza, reconhece o crescimento no número de homicídios em Guarus, mas ressalta que a Polícia Militar tem realizado ações para coibir a violência na área. “Sei que houve um crescimento nos números, até porque temos brigas de facções em Guarus. Estamos realizando operações determinadas pelo comandante de área. Já estamos na segunda semana para tentar reduzir os índices. A operação é realizada com o próprio efetivo do 8º BPM, com horário pré-definido com o comando de área, para tentar reduzir a questão de homicídios. Além disso, buscamos a diminuição da circulação de drogas, armas e veículos irregulares, além de cumprir mandados de busca e apreensão e de prisão”, disse.
A secretaria de Estado de Segurança Pública afirmou que durante a visita do secretário Richard Nunes, ele conheceu as demandas das forças de segurança do Norte Fluminense e, na ocasião, foi anunciado o aumento da capacidade operacional da Polícia Militar de Campos com novas viaturas. Além disso, destacou que “outras providências também já foram tomadas para coibir a criminalidade no município, como a priorização do policiamento nas ruas e a reavaliação de licenças por meio de juntas médicas. Ambas as medidas permitem o combate efetivo do crime em cima da mancha criminal, ajudando a otimizar os recursos. A coordenadoria de Comunicação Social da Polícia Militar informou que a previsão é que o 8º BPM receba ao todo 16 viaturas e que o processo demanda um período de caracterização final e envio para o município, que é distante da capital.
A equipe de reportagem entrou em contato com o titular da 146ª Delegacia de Polícia, Luis Mauricio Armond, mas não obteve retorno. Recentemente, em audiência pública, Armond criticou a falta de políticas públicas no subdistrito. Para ele, a polícia não é remédio e sem apoio do poder público a Guarus, será difícil combater a violência.
PM faz operação de combate à criminalidade
PM faz operação de combate à criminalidade / Antônio Leudo
Maioria dos crimes foi na “Síria”
A maioria dos homicídios registrados na 146ª DP ocorreu na chamada “Síria campista”, que já foi conhecida como “Faixa de Gaza”. Esta área é composta pelos parques Santa Rosa, Eldorado, Santa Clara, Nova Campos, Novo Eldorado, Prazeres e Bandeirantes, além da Codin e Custodópolis. Recentemente, em uma audiência pública sobre segurança na Câmara de Vereadores, o mapa que representa os bairros localizados dentro da “Faixa de Gaza” aparecia em formato de fuzil. Diante do crescimento dos casos, a área começou a ser comparada com a Síria pelas autoridades de segurança do município.
Segundo levantamento da Folha da Manhã, até o fechamento desta matéria, no sábado (21), foram registrados no mês de julho 13 homicídios em Campos. Deste número, apenas um não aconteceu na área de atuação da 146ª DP. E dos 12 que lá ocorreram seis foram na “Síria Campista”, sendo três apenas no Parque Eldorado.
No Novo Eldorado, também localizado dentro da área de conflito, existem casinhas do Morar Feliz, programa habitacional criado no governo Rosinha Garotinho. Segundo as autoridades de segurança pública, a proximidade das unidades habitacionais onde facções rivais dominam agravou a situação, ampliando o clima violento na área.
Pesquisas confirmam violência
Apesar da explosão dos números relacionados a homicídios dolosos neste ano, a violência em Campos está presente no cotidiano da população há bastante tempo. No mês passado, o Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea) e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública divulgaram que Campos é o 76º município mais violento do país. Os dados são referentes a 2016 e informam que, naquele ano, o município registrava 55,8 homicídios para cada 100 mil habitantes.
Os critérios para análise foram mortes violentas envolvendo agressões, intervenções legais e também óbitos com causa indeterminada. Vale ressaltar que a pesquisa foi realizada em municípios com mais de 100 mil habitantes. Apesar de o levantamento considerar os dados de 2016, a realidade atual não é muito diferente, haja vista que foram registrados 135 homicídios apenas neste ano em Campos.
Não é a primeira vez que Campos aparece em um ranking sobre números referentes à violência. Em 2016, uma ONG mexicana divulgou a listagem das 50 cidades com maior taxa de homicídios por 100 mil habitantes no ano anterior. Na ocasião, Campos ficou em 39º.

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