Marido da analista judiciária assassinada é preso em casa
25/05/2016 07:05

Marcus Pinheiro
Fotos: Tércio Teixeira e Marcus Pinheiro

Foi preso na manhã desta quarta-feira (25) o marido da analista judiciária Patrícia Manhães, assassinada a tiros no dia 13 de abril dentro do próprio carro, em Guarus. Uenderson Mattos, que é analista de vigilância da Guarda Civil Municipal de Campos (GCM), foi detido no apartamento do casal, na Pelinca, como suspeito do homicídio triplamente qualificado e obstrução às investigações da Polícia Civil (PC). O mandado de prisão temporária contra o GCM, expedido na noite dessa terça-feira (24), foi cumprido em uma operação policial intitulada “Aleiva” — que significa traição — pelo titular da 146ª Delegacia de Polícia (Guarus), Luis Maurício Armond, e pelo promotor público Marcelo Lessa, além de outros agentes da PC e do Ministério Público Estadual (MPE).

A Polícia Civil cumpriu, ainda, outros dois mandados de prisão e também de busca e apreensão na manhã desta quarta-feira, no Centro, Pelinca, Parque Rodoviário, Parque Imperial, Parque São Mateus e Parque Lebret. Além do marido da vítima, o advogado de Uenderson, Fernando César Gomes, foi detido, em cumprimento de mandado de prisão preventida, por suspeita de coação de testemunhas e obstrução às investigações. O guarda municipal do Patrulhamento Ambiental Genessi José Maria Filho também foi alvo de um mandado de prisão temporária, entretanto, ele já havia sido preso na semana passada, por meio de outro mandado em aberto, e está na Cadeia Pública Dalton Crespo de Castro.

Mais duas pessoas foram conduzidas à delegacia para prestar esclarecimentos. A primeira foi o suspeito de ser o executor dos disparos contra a Patrícia. O homem chegou por volta das 8h30 à 146ª DP, no entanto, não havia mandado de prisão expedido contra ele até a tarde desta quarta. Ainda assim, de acordo com Armond, ele poderá responder por associação criminosa. Uma mulher apontada como amante de Uenderson também esteve na DP, onde prestou esclarecimentos.

No apartamento onde Uenderson mora, na Pelinca, foram apreendidos diversos aparelhos celulares, dois notebooks, um rádio comunicador, um cacetete e uma lanterna de choque, além de um cofre com R$ 6 mil em espécie, cordões, pulseiras e anéis de ouro, cartões de banco de Uenderson e Patrícia, documentos pessoais do casal e dos carros da família.

O carro do suspeito, que estava na garagem do prédio, foi revistado mais uma vez na manhã desta quarta. O veículo já havia passado por revista no dia 20 de abril, quando diligências policiais foram realizadas também no apartamento do casal, na Pelinca, e em outro imóvel de Uenderson, no condomínio Recanto das Palmeiras. Durante as buscas realizadas na casa do advogado de Uenderson, um revólver de calibre 32 foi apreendido.

O delegado responsável pelo caso informou que durante as investigações várias provas foram recolhidas. “Nós pegamos diversas contradições nos depoimentos das testemunhas envolvidas. Descobrimos que Uenderson tem uma amante de mais de um ano”, relatou. Armond frisou também que “não há nenhum pré-julgamento. Há uma investigação em curso baseada em todas essas provas contraditórias”.

Uma coletiva de imprensa foi convocada na sede do MPE entre o delegado Luis Maurício Armond e os promotores Marcelo Lessa, coordenador regional do MP e Fabiano Rangel, da investigação criminal. Segundo Fabiano, ocorreram duas investigações simultâneas, dos dois órgãos e nem todo o cenário do crime está fechado.

– Um crime muito astucioso, muito complexo, de difícil imaginação, que eu nunca tinha vivido antes. A gente não tem um cenário fechado. A gente tem ideia dos motivos, uma ideia bem formada, mas ainda não está completo. Hoje foi decretada a prisão temporária dos dois principais suspeitos, podem haver mais pessoas, só que é como se fosse o término de uma primeira etapa, e a segunda etapa começou hoje também com as oitivas, com novas investigações, com reconstituição do delito nos próximos dias e a gente espera ter um quadro mais fechado talvez daqui a 30 dias ou antes – revelou o promotor.

Relações entre os suspeitos

Contatos entre o GCM Uenderson Mattos e o guarda municipal do Patrulhamento Ambiental Genessi José Maria Filho — que trabalhava no local onde o homicídio ocorreu — foram considerados suspeitos pela Polícia Civil. De acordo com o delegado Luis Maurício Armond, eles fizeram contato telefônico, inclusive, três minutos antes do crime. “Nós acreditamos que tenha sido o start da ação”, disse o delegado.

Armond revelou, ainda, que “o outro guarda municipal tem envolvimento em outros crimes e, inclusive, seria um comandante da milícia no bairro São Mateus”. O guarda foi preso na semana passada por envolvimento em outro homicídio, e, segundo o delegado, já tinha passagem pela polícia por diversos outros assassinatos.

A Polícia Civil pretende investigar o motivo pelo qual esse guarda continuava em exercício, mesmo depois de responder a mais de nove delitos. Inclusive, na data do crime, utilizava uma tornozeleira eletrônica, cujos dados serão utilizados na investigação.

O comandante da Guarda Civil Municipal de Campos, Marcos Soares, esteve na delegacia para acompanhar o caso e disse que vai esperar as investigações da Polícia Civil para se pronunciar.

MP acompanha ações

Representantes do Ministério Público também acompanharam as ações da Polícia Civil na manhã desta quarta. O promotor Marcelo Lessa, designou uma equipe com psicólogo e assistente social para dar assistência aos filhos de Patrícia e Uenderson, um de 3 e outro de 8 anos. “Nós levamos uma equipe técnica para que não houvesse nenhuma sequela para as crianças”, declarou.

O promotor apontou o excesso de aparelhos celulares na residência do suspeito como uma “tentativa de fugir das investigações”. “Isso significa que ele estava querendo se comunicar, sabe-se lá com quem, com celulares que ninguém soubesse o número”, concluiu.

O promotor do caso, Fabiano Rangel Moreira, ressaltou que a operação foi resultado de 40 dias de investigação. “O trabalho é muito complicado, de inteligência, de busca de dados de redes sociais e telefonia”, salientou.

Leia também: Funcionária do fórum, esposa de guarda é morta a tiros no Ceasa e Polícia cumpre mandado em casa de analista judiciária assassinada


 

ÚLTIMAS NOTÍCIAS

    BLOGS - MAIS LIDAS