Crise na mobilidade urbana de Campos é resultado da ausência de planejamento participativo
Gilberto Gomes 01/12/2023 17:16 - Atualizado em 01/12/2023 18:26
Crise exposta com caos no transporte público e manifestação sobre as ciclofaixas mostra que não há saída fácil para o tema sem incluir o povo no centro do debate
Prefeitura de Campos
Desde a instalação das novas ciclofaixas no Centro de Campos, um grande debate sobre a forma como se deu sua implantação tem tomado conta dos comércios, motoristas, pedestres e ciclistas da região. A política é acertada, uma vez que qualquer cidade moderna entende que as ciclofaixas garantem segurança e mobilidade nas ruas, sendo uma alternativa para diminuir o trânsito. No entanto, a mobilidade precisa ser entendida de forma integrada e a ausência de qualquer debate público, que permitisse aos cidadãos, especialmente os ciclistas, serem ouvidos, resultou num embate nas redes, que teve seu ápice hoje (01) na manifestação dos comerciantes do Centro. A mesma crise se aproxima no transporte público municipal, que ainda não cumpriu as metas e prazos estabelecidos pelo governo e também deveria ser entendida como política central para diminuir o número de carros nas ruas, aliada às ciclofaixas. Tudo isso aponta para a urgência de um planejamento integrado, que não fique restrito aos especialistas de gabinete mas sim com escuta ativa dos cidadãos, que resulte na construção de um Plano Participativo de Mobilidade Urbana para Campos.
A construção de vias e faixas exclusivas para os ciclistas não é capaz, por si só, de incentivar, enquanto política, o uso de bicicletas no dia a dia dos cidadãos, ainda que Campos tenha uma utilização de bicicletas acima de média nacional, conforme dados apresentados mais abaixo. Existe uma série de estratégias que consideram não apenas a oferta de infraestrutura, mas que buscam promover uma nova cultura de mobilidade, com segurança, sobretudo, que passa por políticas de educação no trânsito. Isso também passa diretamente pelo fortalecimento de outros modais do transporte público: no caso de Campos, em especial, dos ônibus. A implantação das ciclofaixas sem discussão pública e sem ouvir os próprios ciclistas é jogá-los em meio a uma "guerra" contra os milhares de carros e motos que se acumulam nas ruas da cidade, que ainda dirigem de forma irresponsável, sem respeitar o espaço delimitado às bicicletas. 
A política de mobilidade que busca ampliar a quantidade de ciclovias e ciclofaixas em Campos é acertada, mas precisa compreender a urgência de diminuir a quantidade de carros nas ruas. Para isso, ampliar a frota de ônibus e ofertar novas linhas é urgente. Até o momento, nenhum prazo apresentado pelo governo Wladimir, assim que assumiu, sobre o transporte público, foi cumprido. Nem qualquer espaço de debate aberto aos cidadãos foi apresentado. Não há possibilidade de qualquer resultado positivo enquanto políticas tão capilares seguirem sendo pensadas apenas de dentro do gabinete, sem sequer a participação de um conselho municipal de mobilidade urbana com representantes da sociedade civil. 
O mesmo vale para a questão levantada pelos comerciantes. A implantação das ciclofaixas, desassociada de políticas que fomentem novos bolsões de estacionamento, tende a gerar crises como a que vimos hoje, onde uma manifestação com pneus queimando fechou ruas da cidade, alegando impactos no comércio. Mais uma vez, a falta de diálogo da prefeitura na implantação das ciclofaixas, sem explicar a nova organização, disposição e logística do trânsito nos locais. No entanto, o argumento de alguns comerciantes sobre uma suposta inutilidade das ciclofaixas também não se sustenta é totalmente equivocado.
Uma pesquisa realizada por agentes do Instituto Municipal de Trânsito e Transporte (IMTT) para traçar o perfil dos ciclistas de Campos mostrou que 74,3% desse grupo utiliza a bicicleta como principal meio de transporte e que a frequência semanal de utilização de bicicleta no município é maior do que a média nacional. Este dado comprova a necessidade de ampliar a malha de ciclovias e ciclofaixas na cidade.
De acordo com o levantamento, ao todo, 82,1% dos ciclistas pedalam cinco ou mais vezes por
semana, enquanto a média nacional é de 72% para a mesma faixa de frequência. Durante a pesquisa, foram entrevistados 670 ciclistas, do dia 22 de agosto ao dia 27 de outubro de 2021 com pessoas de 12 anos ou mais de idade, que pedalam pelo menos uma vez por semana como meio de transporte, abordadas pedalando, empurrando ou estacionando a bicicleta. Com informações de Folha1.
Boa parte dos comerciantes está mais preocupado se continurão tendo ou não estacionamento na porta de seus estabelecimentos. Isso não pode impedir o desenvolvimento e ampliação das novas malhas de ciclovia e ciclofaixa.

Manifestação de comerciantes contra ciclofaixas em Campos
Manifestação de comerciantes contra ciclofaixas em Campos
Desde o primeiro semestre de 2022, os campistas aguardam a conclusão das obras de três terminais entre ônibus e vans, sendo um em Donana, outro no Canaã (Travessão) e um terceiro em Ururaí. Mais uma política que, se concluída, não contou com a participação popular em sua discussão. Política essa que, por sinal, é muito similar a já executava no governo Rafael Diniz, e que acumulou forte rejeição no sistema de terminais.
Não é difícil supor que esse "novo sistema" gere reações tão complexas como a implantação descoordenada e não-participativa das ciclofaixas. 
G1 / Divulgação
 

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