Intervenção não muda realidade
Matheus Berriel 18/08/2018 14:22 - Atualizado em 20/08/2018 13:31
Ações da intervenção federal na Segurança Pública do estado do Rio de Janeiro chegaram, de fato, a Campos no último dia 9, prestes a completar seis meses, porém a realidade dos bairros na área de Guarus que receberam a incursão de uma operação com o uso de dois blindados do Exército e um do Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar (Bope) parece não ter mudado e a sensação de medo ainda pode ser notado nos olhares desconfiados de moradores.
De acordo com um morador do Parque Santa Rosa, que preferiu não se identificar, as pessoas acabam tendo receio de expor a realidade por medo de represálias. “Quem mora aqui não quer falar porque realmente pode complicar se alguém souber. Hoje em dia tem muita escuta, muita coisa. Até mesmo entre os vizinhos. As pessoas tomam cuidados para não sofrer nenhuma consequência”, afirmou.
Ainda segundo o morador, uma das coisas que modificou após incursões foi a questão das barricadas. “Mudou um pouco, mas não totalmente como muitos gostariam. As barricadas estão bem leves, há poucas barricadas e estão deixando a entrada dos locais mais aberta, ao contrário de antes”, comentou.
A intervenção federal da Segurança Pública no estado do Rio de Janeiro completou seis meses na última quinta-feira (16). Porém, só foi chegar, de fato, a Campos, no último dia 9, quando 30 pessoas foram presas e 100 casas de moradores recuperadas em megaoperação que contou com dois blindados do Exército e um do Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar (Bope), modelo Urutu, além de 800 militares do Exército Brasileiro, Corpo de Bombeiros Militar, das polícias Militar, Civil, Rodoviária Federal e do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco). As tropas das Forças Armadas já deixaram a cidade, mas o blindado do Bope continua à disposição da PM local, que tem realizado operações menores na região da Faixa de Gaza, em Guarus, onde a atuação de traficantes assusta a população e já é comparada à Síria.
De acordo com o comandante do 8º Batalhão de Polícia Militar (BPM), tenente coronel Fabiano Souza, foi identificado um intervalo do dia em que acontece a maior parte dos homicídios naquela região, principalmente nos Parques Eldorado I e II, Parque Santa Rosa, Parque Santa Clara e Parque Prazeres. Por questão de estratégia policial, o horário não foi divulgado, mas a tendência é que os policiais continuem agindo nos próximos dias.
— A concentração dos homicídios nos aponta uma mancha criminal. Claro que esses horários podem mudar. A mancha criminal não é simples, ela é mutável. Hoje, estamos trabalhando em cima da concentração que se observa da questão dos homicídios. Não quer dizer que não aconteçam casos em outros horários. Mas, as operações têm sido contínuas — afirmou o comandante.
Na visão do comandante, a presença do blindado do Bope tem colaborado bastante para um êxito inicial, uma vez que fortalece consideravelmente a estrutura da ronda policial.
Blindado percorreu bairros em ronda noturna
Além da operação conjunta realizada no dia 9, o blindado do Bope, modelo Urutu, juntamente com viaturas da PM, saiu da 2ª Companhia de Infantaria do Exército e participou de uma ronda noturna nas áreas consideradas de conflito, na noite da última quinta-feira.
Durante a ação, várias abordagens foram feitas nos Parques Eldorado, Santa Rosa e Santa Clara.
No mesmo dia da ação, um homicídio foi registrado no Parque Aeroporto. A vítima, identificada como Marcus Vinícius Silva Soares, de 26 anos, estava dentro de casa no momento em que a residência foi invadida por homens armados, que atiraram e fugiram. Já na quarta-feira, um dia antes da ronda noturna, outros três assassinatos foram registrados em Campos.
De acordo com o comandante do 8º BPM, os homicídios que ocorreram (três durante a quarta-feira, 15, e um na madrugada de quinta, 16), foram em horários que não estão dentro da concentração da mancha criminal. “A avaliação que, até o momento, o comando do batalhão tem, é que as operações estão sendo favoráveis, uma vez que já houve uma redução dos homicídios dentro da mancha criminal. Vejo como positiva a utilização das operações que estão sendo desencadeadas na mancha. A utilização do blindado tem sido positiva, sim”, afirmou o tenente coronel Fabiano Souza.
Plano para integrar a segurança
Levantamento feito pela Folha da Manhã aponta que, em 2018, já foram registrados 151 homicídios em Campos, nove deles em agosto. Os assassinatos mais recentes foram os de Izaías da Silva de Souza, de 46 anos, e Sanderson Rocha Coelho, de 19, ambos no Parque Presidente Vargas; Nathan Monteiro Theodoro de Sá, de 20 anos, no Parque Califórnia, todos na quarta-feira; e Marcus Vinícius Silva Soares, de 26, no Parque Aeroporto, na madrugada de quinta. Houve ainda um jovem assassinado na sexta-feira (17), mas na Linha do Limão, em Goitacazes.
Na quinta-feira, o prefeito Rafael Diniz apresentou às forças de segurança, das esferas federal e estadual, o Plano Municipal de Segurança elaborado pela superintendência de Paz e Defesa Social. Entre as medidas, está o aumento do número de câmeras de monitoramento na cidade de 22 para 90, até o final do ano, através do lançamento do projeto Campos Cidade + Segura, onde, em parceria com a comunidade, poderão ser alcançadas mais de 1000 câmeras. As medidas incluem ainda auxílio da Guarda Civil Municipal à PM no registro de ocorrências, aumento no Policiamento Comunitário, fortalecimento na Ronda Escolar, criação do Fundo de Segurança Pública, com um Conselho Municipal de Segurança, e um Sistema Único de Atendimento, com GPS nos veículos para monitoramento do sistema, entre outras medidas.

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