Crítica de cinema - Estranhos entre estranhos e entre nós
- Atualizado em 20/08/2018 17:59
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(Mentes Sombrias) — Na franquia “X-Men”, a mutação de genes sem a seleção natural resulta em vários seres diferentes dos humanos. A evolução aleatória cria uma pós-humanidade. Eles são estranhos para nós. Mas a luta entre o bem e o mal da humanidade também continua nessa pós-humanidade. Ela é estranha a nós e estranha aos bons ou aos maus (depende da perspectiva). Na série “Crepúsculo”, vampiros e lobisomens também são estranhos aos humanos, inclusive lutando entre si como a reproduzir a humanidade. A evolução produziu vampiros veganos. Tanto eles quanto os lobisomens têm sentimentos. Eles podem amar humanos sem querer sugar seu sangue ou devorá-los. Finalmente na série “Harry Potter”, certos humanos nascem bruxos. Eles não são inimigos dos humanos, mas são enviados para uma escola própria. Eles nos são estranhos e há estranhos entre eles. Os bruxos bons lutam contra os bruxos maus.
Mateusinho
Mateusinho / Divulgação
“Mentes sombrias” é também uma história sobre estranhos que também têm seus estranhos. Ela foi escrita por Alexandra Bracken (livro que jamais lerei) e adaptada para o cinema por Chad Hodje. A direção coube à coreana-americana Jennifer Yuh Nelson, já com filmes conhecidos na carreira, sobretudo animações. Que o possível leitor dessa coluna junte as três séries mencionadas no primeiro parágrafo, misturando-as bem e adicionando qualquer filme com futuro apocalíptico em que os símbolos da civilização ou do capitalismo aparecem abandonados e em ruínas. “Ruído mortal” serve. Parece que supermercados e shoppings abandonados e saqueados simbolizam bem o que se chama de civilização falida.
Jovens e adultos que continuam adolescentes também têm direito às suas distopias, ou seja, a futuros tenebrosos. Em “Mentes sombrias”, uma doença desconhecida mata quase todas as crianças do mundo. As que sobrevivem a ela, adquirem superpoderes e se tornam estranhos aos humanos adultos. Elas são mortas pelas forças armadas ou recolhidas a campos de concentração. Dependendo dos poderes, elas ganham cores diferentes. Os vermelhos e laranjas são os mais perigosos. Além de estranhos à humanidade, há estranhos entre os estranhos. Mas há também aqueles que desejam promover a fuga dos mutantes. Cuidado. Entre eles, há os honestos e os caçadores de recompensa. Pior: há um grupo de mutantes maus que desejam atrair mutantes bons para devolvê-los aos campos de concentração ou à sanha assassina dos militares.
Creio desnecessário dizer que há distopias muito melhores que esta e que o filme promete continuação, criando uma nova franquia. Deixas para isso aparecem no final. Trata-se de um filme esquecível, salvo engano. O que o salva, talvez, é a fotografia e a mensagem: todos somos diferentes, porém iguais. Um toque em Donald Trump.

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