Arthur Soffiati: Da foz do Muriaé à foz do Paraíba do Sul (III)
Arthur Soffiati 11/03/2021 14:32 - Atualizado em 11/03/2021 14:33
Em 1948, o engenheiro Prospero Vitalo, dos quadros do DNOS, sugeriu um canal na margem esquerda do Paraíba do Sul constituído pelo desvio da foz do Muriaé. Ele deixaria de desembocar no rio Paraíba do Sul e se prolongaria até o mar por um canal escavado (Relatório de 1948 apresentado pelo chefe do distrito de Goitacazes. Campos: MVOP/DNOS, 1949).
Também o escritório do engenheiro Hildalius Cantanhede projetou um canal com início no rio Paraíba do Sul, pouco abaixo da foz do rio Muriaé, aproveitando depressões de brejos e lagoas. Depois de passar por quase dois quilômetros por uma zona bastante habitada, ele cruzaria a rodovia e a ferrovia e desembocaria na lagoa das Águas Claras, que conecta a lagoa do Brejo Grande.
Mais uma vez, a proposta veio à tona em 1969, com o Relatório Gallioli, encomendado pelo Departamento Nacional de Obras e Saneamento. A enchente de 1966 pôs à prova as obras do DNOS. Daí a encomenda à empresa de engenharia Gallioli. Remontando apenas aos projetos de Coimbra Bueno e de Hildalius Cantanhede, a empresa de engenharia vislumbrava o chamado Canal Norte com dois traçados possíveis, ambos com origem na margem esquerda do rio Muriaé. Um despejaria as águas na lagoa da Saudade (Canal Variante ‘A’) e outro na lagoa do Brejo Grande (Canal Variante ‘B’), tendo essas águas como destino natural o oceano. Numa primeira fase, o despejo final das águas se faria através das depressões naturais existentes e, posteriormente, por um novo canal rumo ao norte — acompanhando o sopé da chapada (Tabuleiros) até Guaxindiba. Este canal teria seção reduzida porque, previamente, uma grande parcela das águas de enchente poderia ser laminada na lagoa do Campelo, desde que essa fosse convenientemente sistematizada. Considerando apenas fatores econômicos, o Relatório Gallioli concluiu que o Canal Norte apresentaria alto custo de construção e sugeriu que a obra não fosse executada. (GALLIOLI LTDA, Engenharia. Baixada Campista: Saneamento das Várzeas nas Margens do Rio Paraíba do Sul à Jusante de São Fidélis. Rio de Janeiro: setembro de 1969).
Houve consenso de todos os engenheiros e companhias de engenharia que propuseram um canal de drenagem na margem esquerda do rio Paraíba entre a foz do Muriaé e o mar. O primeiro girou em torno da sua necessidade e utilidade. O segundo firmou-se quanto ao seu alto custo. Houve divergência quanto à sua origem e ao traçado. Para uns, ele seria a continuação do rio Muriaé desviado para não desembocar mais no Paraíba do Sul e prolongado até o mar. Outros pleiteavam que o ponto original deveria localizar-se no próprio rio Paraíba do Sul, como os antigos canais de navegação de Cacimbas e do Nogueira. Alguns engenheiros entenderam que, começando no próprio Paraíba do Sul ou no Muriaé, ele deveria ter curso paralelo ao do grande rio e desembocar em Gargaú. Seria um segundo rio Paraíba do Sul no seu trecho final e poderia ser usado também para a navegação. Outros entendiam que o canal, começando no próprio Paraíba do Sul ou no Muriaé, deveria aproveitar as lagoas existentes na margem esquerda e desembocar no mar pelo trecho final do rio Guaxindiba.
A proposta pragmática de Camilo de Menezes [Descrição hidrográfica da Baixada dos Goitacazes. Campos: Ministério da Viação e Obras Públicas/Diretoria de Saneamento da Baixada Fluminense/Residência da Baixada dos Goitacazes, abril de 1940 (datil) e da Engenharia Galiolli (Baixada Campista: Saneamento das Várzeas nas Margens do Rio Paraíba do Sul à Jusante de São Fidélis. Rio de Janeiro: setembro de 1969] prevaleceu: dois rios interligados por dois canais e usando uma lagoa. De certa forma, o canal do Nogueira, construído na primeira metade do século XIX, aproximou-se bastante da estrutura de engenharia de drenagem do Departamento Nacional de Obras e Saneamento (Saneamento das várzeas nas margens do rio Paraíba do Sul a jusante de São Fidélis: estudos e planejamentos das obras complementares. Relatório geral. Rio de Janeiro: Engenharia Gallioli, 1969). Nos anos de 1970, o órgão federal optou pela proposta mais simples de Camilo de Menezes e da Engenharia Galiolli: abrir um canal partindo do rio Paraíba do Sul, a jusante da cidade de Campos, até a lagoa do Campelo e passando pela lagoa do Taquaruçu: o canal do Vigário. Defluindo por um vertedouro construído na ponta setentrional da lagoa do Campelo, outro canal, o Engenheiro Antonio Resende, aproveitaria o curso d’água embutido numa depressão entre a restinga e os tabuleiros, com nome de brejo do Mundeuzinho, para chegar até a foz do rio Guaxindiba, que passou a ser afluente do canal. Foi necessário vencer um pequeno divisor de água situado nas proximidades da lagoa de Macabu. A ele, foi ligado o antigo canal de Cacimbas, pela margem direita, e, pela esquerda, foram abertos os canais da Saudade, de Floresta e Guaxindiba, este último chamado de Valão Novo pela população local. Foi este canal que contribuiu para drenar o brejo do Espiador, grande abastecedor do rio Guaxindiba ou, melhor dizendo, o próprio rio Guaxindiba engordado pelo lento fluxo de suas águas.
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