Vacinação contra Covid-19 em Campos deve começar em fevereiro
Ícaro Abreu Barbosa 09/01/2021 08:33 - Atualizado em 11/01/2021 08:14
A vacinação contra a Covid-19 em Campos deve começar em fevereiro, conforme informou o médico infectologista e epidemiologista Charbell Kury, subsecretário de Atenção Básica e Vigilância Sanitária do governo Wladimir Garotinho (PSD). O anúncio foi feito na última quinta-feira (7), em entrevista ao programa Folha no Ar, da rádio Folha FM 98,3. A vacina é o remédio que todos esperam no mundo e, por consequência, em Campos. Ontem (8), foi assinado o protocolo de intenção para compra de 100 mil doses, destinadas a maiores de 60 anos, pessoas do grupo de risco e profissionais da áreas de saúde e segurança pública, da vacina CoronaVac. ”É o primeiro passo para o nosso povo voltar a ter liberdade e a nossa cidade voltar a funcionar novamente”, afirmou o prefeito durante o anúncio.
Na planície, a Covid 19 já deixou seu rastro de destruição. Até esta sexta, a cidade contabilizava 554 mortos e 15.027 infectados por Covid-19. Do total de casos, 12.469 são considerados recuperados. Campos tem 203 leitos aptos para tratamento da Covid. Ontem, 72,1% dos leitos de UTI e 42,4% dos clínicos, nas redes pública e contratualizada, estavam ocupados. No Hospital Doutor Beda, segundo a assessoria da unidade, a ocupação chega a 85%.
De acordo com o subsecretário Charbell Kury, a imunidade de rebanho só deve permitir o retorno às atividades cotidianas pré-pandemia quando cerca de 60% a 70% dos mais de 507 mil campistas estiverem vacinados. Mas o regresso à normalidade só deve acontecer no final deste ano de 2021.
— Sou otimista, mas haverá resistência das pessoas em se vacinar por uma série de circunstâncias, como a desinformação, preconceito, achismo etc. Eu vivi isso com a vacina contra a HPV, que muitos diziam que significava abertura para liberdade sexual. Outra questão é que ainda não sabemos a verdadeira carga da Covid em Campos. O Brasil fez 3,5 testes a cada um caso positivo, que é muito abaixo de países como a Coreia, que registra taxa de testagem de 100 para cada um. Campos tem 2,5 testes para cada um positivo. É um índice de testagem muito baixo — explicou o infectologista.
Charbell não falou em lockdown. No lugar, preferiu o termo “medidas de restrição”. Ele admitiu algumas novas regras podem ser impostas em janeiro para evitar o aumento e a propagação dos casos de Covid 19 em Campos, caso os leitos disponíveis aos pacientes na rede pública, contratualizada e privada da cidade tiverem taxa de ocupação de 90%: “Se este mês percebermos nestes três indicadores índices mais elevados, como nos casos de contaminação, mortes e pressão na rede de atendimento, que está hoje em cerca de 80%, já teremos medidas de restrições para frear isso, nem que seja por sete dias. Tivemos festas de Ano Novo e Natal. Os impactos virão agora”, comentou.
O subsecretário adiantou que a testagem também será intensificada e o combate à doença será descentralizado do Centro de Controle e Combate ao Coronavírus de Campos (CCCC). Na próxima segunda-feira (11), a secretaria municipal de Saúde irá treinar equipes para capacitação em 15 unidades. O objetivo é implantar um programa de testagem em massa no município.
O plano de descentralizar o Centro consiste em deixar de sobrecarregá-lo. De acordo com Charbell, o CCCC “é um excelente hospital e tem que funcionar como um centro de referência”. Hoje, segundo o médico, está sendo feito um atendimento de base. “A pessoa chega lá com o nariz entupido para ser atendido em um local onde tem gente intubada. Temos que fazer isso na ponta. É o grande desafio da gestão. E já temos testes para fazer isso em unidades descentralizadas”, explicou.
“Achismos” atrapalham cuidados médicos
Diante da resposta e da cura de todas as doenças à distância de uma breve digitada em ferramentas de pesquisa, muitos caem em falácias e acabam reproduzindo-as. Com os médicos não é diferente. O problema é que “achismos” são repassados sem nenhuma evidência científica aos pacientes, que, no desespero, seguem sem pestanejar. Isso é o que falou o infectologista Nélio Artiles a respeito do uso profilático de medicações como ivermectina e azitromicina.
— Estamos passando por uma época diferente. Opiniões são diferentes de evidências e achismos são muitos. Mas, em um momento de pânico e morte, todos querem tomar alguma coisa. Eu costumo ouvir que é melhor tomar alguma coisa do que não tomar nada. Na verdade, não é assim. Toda ação tem uma reação, e nós sabemos que existem trabalhos querendo mostrar resultados de um tratamento precoce. Mas eles não existem. Eu sou a favor do tratamento preventivo, mas ainda não existe tratamento — explicou o infectologista, tido como uma referência na área na região.
O médico ainda ressalta que, hoje, quando as pessoas procuram o atendimento médico, “90% saem dos atendimentos com receitas de ivermectina”. “Pode fazer um levantamento com as pessoas que estão internadas no CTI em estado grave”, pontuou. Na opinião de Nélio, como especialista, essas drogas podem até ter um efeito anti-inflamatório equivalente a “uma gota no oceano”.
— A quantidade de resistência bacteriana está sendo uma grande causa de morte no Brasil e no mundo. Você pode achar que está matando o vírus com a azitromicina, mas não está. Você está gerando resistência ao antibiótico e, quando está lá no finalzinho, na pior, e precisa ser intubado, a bactéria é mais resistente — exemplificou, afirmando que a Organização Mundial da Saúde (OMS) já avisou que um dos grandes males do mundo é a resistência bacteriana e que “tomar antibiótico sem infecção bacteriana é um absurdo”.
O infectologista reforça que os anti-inflamatórios são indicados na segunda semana dos sintomas da Covid e que uma automedicação profilática ainda não existe e só baixa a resistência. “Vamos ter consciência e ouvir um infectologista”, pediu Nélio.
Wladimir assina protocolo com o Butantan
O prefeito de Campos, Wladimir Garotinho, assinou, ontem, o protocolo de intenção para compra de 100 mil doses da vacina contra a Covid-19 do Instituto Butantan. De acordo com a Prefeitura, a vacinação seguirá o Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra a Covid-19, apresentado pelo Ministério da Saúde. A aquisição efetiva depende de autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e incorporação ao Sistema Único de Saúde (SUS).
A CoronaVac, que deve chegar a Campos em fevereiro, teve a eficácia anunciada em 78% para a prevenção de casos leves e 100% dos casos graves em estudos clínicos realizados no Brasil. Os experimentos contaram com a participação de 12.476 profissionais de saúde voluntários em 16 centros de pesquisa.
De acordo com Wladimir, neste primeiro momento, as doses serão direcionadas a maiores de 60 anos, pessoas do grupo de risco e profissionais das áreas de saúde e segurança pública. “É o primeiro passo para o nosso posso voltar a ter liberdade e a nossa cidade voltar a funcionar novamente”, disse o prefeito.
O subsecretário Charbell Kury afirmou que a preocupação do prefeito é aumentar a cobertura e a imunidade de rebanho. “E com isso fazer o que chamamos de círculo de proteção e aumentar a imunização, somando ao grupo prioritário preconizado pelo Ministério da Saúde”, pontuou.
Também foi destacada por Charbell a compra de oito milhões de seringas com previsão de mais oito, totalizando 16 milhões: “Não vai faltar seringa, portanto. O governo do Estado vai também comprar câmaras frias para distribuir aos municípios”, concluiu.

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