Em meio à pandemia, 11ª Bienal do Livro de Campos tem realização ainda indefinida
Matheus Berriel 15/07/2020 15:15 - Atualizado em 24/07/2020 18:37
Em 2018, mais de 50 mil pessoas passaram pelo campus Centro do IFF durante a 10ª Bienal de Campos
Em 2018, mais de 50 mil pessoas passaram pelo campus Centro do IFF durante a 10ª Bienal de Campos / Divulgação-Supcom
Realizada desde 2000, a Bienal do Livro de Campos provavelmente sofrerá alteração no calendário pela primeira vez, devido à pandemia do novo coronavírus. Embora a Prefeitura ainda não tenha definido por um eventual adiamento ou até mesmo o cancelamento da 11ª edição, como decidiu a Câmara Brasileira do Livro (CBL) em relação à 26ª Bienal Internacional de São Paulo, representantes de entidades ligadas à literatura no município consideram inviável que o evento aconteça neste ano.
Em nota, a Prefeitura de Campos ressaltou estar com todos os eventos físicos temporariamente suspensos, seguindo orientações das autoridades de saúde.
— Um evento como este não está previsto na fase amarela, que a cidade se encontra neste momento. O município segue o Plano de Retomada das Atividades Econômicas e Sociais - Campos Daqui Para Frente, com avaliação semanal para avanço dos Níveis previstos no programa — diz a nota. Questionada sobre a possibilidade de adiar ou cancelar a Bienal, a superintendência de Comunicação acrescentou apenas que “não é possível ter esta definição neste momento”.
Para a presidente da Academia Campista de Letras (ACL), a médica Vanda Terezinha Vasconcelos, a manutenção do evento físico neste ano é impraticável, mesmo caso uma vacina contra a Covid-19 seja descoberta nos próximos meses:
— Não vejo nenhuma possibilidade. Falo não só como cidadã, mas também como profissional de saúde. Não estamos num momento em que possamos estar colocando as pessoas em aglomerações, mesmo em caso de transferência para o final do ano ou se surgir a vacina em setembro ou outubro.
Frequentadora assídua das bienais campistas, Vanda Terezinha propõe reuniões periódicas para avaliar os dados da Covid-19 e, a partir das conversas com representantes das entidades envolvidas, traçar planos para o futuro.
— A graça de tudo é estarmos lá, participando, as pessoas comprando livros, colocando a mão. Aliás, eu adoro levar meus netos, a gente olha, escolhe... É um momento muito bom. Mas tem que ser, efetivamente, com a presença física das pessoas ali — disse a presidente da ACL. — Minha opinião pessoal é de que não dá para se tomar uma decisão agora. Se vai ser ano que vem ou no outro, acho que vamos ter que acompanhar a evolução dos acontecimentos relacionados à saúde, principalmente a questão vacinal — pontuou.
O tema esteve recentemente na pauta de uma das videoconferências do Conselho Municipal de Cultura (Comcultura) de Campos, cujo presidente, o professor e pesquisador Marcelo Sampaio, sugeriu a realização de programação virtual, com palestras, bate-papos e apresentações artísticas, para que a Bienal não passe em branco em 2020.
— Estamos aguardando um posicionamento oficial da Prefeitura para fazermos esta sugestão e até nos colocarmos à disposição para colaborarmos no que for necessário. Na minha opinião, não pode deixar de acontecer este evento, que, desde a sua criação, nunca deixou de acontecer, independente de qual gestor estivesse administrando o nosso município — comentou Marcelo Sampaio.
Caso a Bienal seja adiada para 2021, coincidirá com a quarta edição do Festival Doces Palavras (FDP!), realizado nos anos ímpares exatamente para haver revezamento com as bienais. Presidente da Associação de Imprensa Campista (AIC), que tradicionalmente encabeça a realização do FDP!, o fotógrafo e pesquisador Wellington Cordeiro considera essencial o diálogo entre membros do poder público e da sociedade civil para alinhar ideias e definir um planejamento.
— Estamos acompanhando com muita preocupação, pois entendemos que a pandemia, para além do caos na saúde pública, com tantas vidas ceifadas, causou grande estrago no cenário cultural. Mas, vale lembrar que, nas últimas edições, os dois eventos de calendário da Prefeitura passaram por grandes dificuldades. A Bienal do Livro (de 2018) aconteceu graças à parceria com o Sesc, e ao Festival Doces Palavras (de 2019) foi negada a sua realização, e a edição teve que ser acolhida pela sociedade civil. Por entendermos que se tratam de políticas públicas importantes para a comunidade, a Prefeitura deve ser preparar para que possa realizá-las quando for possível, mesmo que as duas se encontrem no mesmo ano. O que não se pode admitir é que impere a desimportância da cultura, pois ela sempre é sempre atingida quando se há dificuldades — enfatizou Wellington.
Em 2018, mais de 50 mil pessoas passaram pelo campus Centro do Instituto Federal Fluminense (IFF) durante a 10ª Bienal do Livro de Campos, segundo dados da Prefeitura. Durante os seis dias de evento, de 20 a 25 de novembro, foram lançados 32 livros, sendo 22 de autores campistas, e vendidos 70% do material disponibilizado nos estandes das editoras. A programação incluiu mais de 100 atividades, entre mesas de debate, palestras, oficinas, esquetes teatrais, poesias e shows musicais.
Em 2018, mais de 50 mil pessoas passaram pelo campus Centro do IFF durante a 10ª Bienal de Campos
Em 2018, mais de 50 mil pessoas passaram pelo campus Centro do IFF durante a 10ª Bienal de Campos / Divulgação-Supcom

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