Demolição de prédio antigo no Parque Alzira Vargas foi permitida pelo Coppam
Matheus Berriel 09/09/2019 17:50 - Atualizado em 16/09/2019 13:17
Isaias Fernandes
Enquanto o Brasil acompanhava o caso da censura de livros com alguma menção à homossexualidade na Bienal por parte da Prefeitura do Rio de Janeiro, no último fim de semana, outra polêmica surgiu nas redes sociais dos campistas. Foi desocupado na sexta-feira (06) e demolido no sábado (07) o antigo prédio onde funcionou a F. Kury Engenharia, na equina das ruas Visconde de Itaboraí e José do Patrocínio, número 108 (antigo 50) em frente à Cidade da Criança, no Parque Alzira Vargas. O prédio havia sido ocupado por estudantes universitários há aproximadamente 11 anos e, atualmente, era usado como residência por um grupo de estrangeiros e uma pessoa brasileira. O imóvel não era tombado pelo Conselho de Preservação do Patrimônio Histórico e Cultural de Campos dos Goytacazes (Coppam), que, consultado, autorizou a demolição, conforme consta na edição de 06 de junho do Diário Oficial.
— Não havia nenhum decreto de tombamento, pois a casa havia sido descaracterizada, desde 1945, pela construção do segundo andar, em estilo moderno, e foi assim que foi comprada pelos atuais proprietários. Também não é centenária como muitos supõem. A partir da construção da Cidade da Criança (inaugurada em 2015) e com o tombamento do prédio antigo que pertencia à Prefeitura, descaracterizou-se também a área, segundo membros de órgãos de preservação de prédios de valor histórico, o que não é o caso do mesmo — informou a presidente do Coppam, Cristina Lima.
No posicionamento, Cristina citou o estado de deterioração em que se encontrava o prédio.
— Inclusive, as condições precárias do imóvel, em situação de desabamento, foram causadas pelos ocupantes. A casa estava destelhada em algumas áreas, (o) madeiramento do telhado todo comprometido, chovendo internamente, (com) infiltrações, crateras nas paredes; incendiaram um cômodo, talvez por deixarem velas ou bingas de cigarro acesas; janelas e portas com as madeiras podres e com lascas e pedaços tirados, banheiros com azulejos retirados, pisos quebrados; por fora cheio de entulho, além do cheiro fétido — complementou a presidente do Coppam.
Um dos proprietários do imóvel, Luiz Fernando Kury contou à Folha da Manhã que entrou há mais de um ano com um pedido de demolição. Segundo ele, na época da ocupação por estudantes da Universidade Federal Fluminense (UFF), o prédio estava alugado pela Prefeitura, que ficou por um longo período sem pagar o aluguel. No episódio da ocupação, de acordo com Luiz Fernando, o cargo de prefeito era ocupado por Roberto Henriques Silveira. Em 2011, foi aberto um processo na justiça contra o poder público, que o proprietário afirma não ter tomado as providências e “quis entregar a casa toda quebrada” (já na primeira gestão de Rosinha Garotinho). Segundo Luiz Fernando, o caso ainda corre na justiça: “Temos que aguardar a decisão judicial e acatar o que for determinado”. Não foi informado o ano em que terminou o contrato de aluguel.
A respeito da desocupação da última sexta, Luiz Fernando Kury informou que uma liminar foi obtida na semana passada. “Não houve má fé, nenhuma armação para fazer a retirada do pessoal numa sexta-feira e a demolição no sábado. A demolição já estava programada para assim que o pessoal saísse. Inclusive, fui ameaçado pelos antigos invasores, mas isso não vem ao caso”, afirmou. O grupo de ocupantes, segundo Luiz Fernando, era formado por andarilhos de países da América do Sul, apenas um deles brasileiro. A Folha não conseguiu localizá-los.
Os proprietários do prédio vão preservar o gradil do prédio demolido. Quanto ao terreno, ainda não está definida sua utilização. “A nossa empresa viveu ali. Não é uma coisa que temos prazer de demolir”, disse. “Nós tomamos as primeiras providências para resolver o problema de risco de vida das pessoas que passam na rua. Dá um azar de essa casa cair sobre a pessoa e a gente fica enrolado. Então, agora não tem mais risco nenhum. Agora, a gente vai parar, ver o que vai acontecer primeiro. O mercado está muito ruim para vender, às vezes consegue aluguel. Não tem nada programado para isso. Não vai ficar é o terreno (vazio). Algum dia vai ter alguma coisa lá. Mas, não se sabe o que, não há nada programado”, pontuou Luiz Fernando.
Isaias Fernandes

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