Presidente do Simec menciona caos na Saúde
Arnaldo Neto 10/08/2019 17:01 - Atualizado em 13/08/2019 13:43
José Roberto Crespo no Folha no Ar
José Roberto Crespo no Folha no Ar / Isaías Fernandes
Representante da classe que deflagrou o movimento grevista, o presidente do Sindicato dos Médicos de Campos (Simec), José Roberto Crespo, destacou que a paralisação representa um ato de repúdio dos servidores ao cenário de “caos” instalado nas unidades de saúde. José Roberto voltou a afirmar que não há discórdia quanto ao ponto biométrico e, ao contrário da visão do prefeito Rafael Diniz, ele aponta uma adesão crescente, não sendo maior por medo de represálias. Apesar dos ataques ao que chama de má administração, o presidente do Simec elogiou a iniciativa do prefeito em buscar diálogo com o governo federal.
Folha da Manhã – Os médicos deflagraram greve no dia 7. Segundo a categoria, falta estrutura, medicamento e insumos para atendimentos básicos. Em entrevista ao Folha no Ar, nessa sexta-feira (9), o senhor declarou que esse é um problema que se arrasta ao longo dos anos. Na sua opinião, por que a greve só agora?
José Roberto Crepo - Nós servidores estamos cansados de toda essa desordem na saúde pública e das mazelas resultantes da má administração do município. Retiraram os nossos direitos enquanto estabeleceram deliberações que desfavorecem consideravelmente a atuação prática da categoria. A insatisfação é geral. A greve se fez inevitável nesse momento por diversas razões, dentre elas o corte das gratificações dos médicos, o bloqueio das substituições e a suspensão das férias e licenças-prêmio da classe por tempo indeterminado. Essa paralisação representa um ato de repúdio dos servidores municipais ao cenário de caos instalado nas unidades de saúde.
Folha – Um questionamento dos médicos foi a suspensão das gratificações, prevista no decreto de contingenciamento publicado em 12 de julho. Esse valor teria sido fixado desde o governo Arnaldo Vianna (MDB) e representaria 50% dos proventos de plantonistas. Há possibilidade desse pagamento ser retomado em breve?
José Roberto - Até o momento não há nenhum posicionamento claro do município em relação a regularização do pagamento das gratificações. E sim, é verdade. Foi no governo Arnaldo Viana que eu, no cargo de diretor clínico do HFM, acompanhado por mais diretores, convencemos o então prefeito a contemplar a categoria com as gratificações, para fins de não perdermos as equipes compostas por especialistas que atuavam nas emergências.
Folha – Há muita gente que associe o movimento grevista à instalação do ponto biométrico. O presidente do Simec negou, enquanto o Conselho Regional de Medicina acionou o Ministério Público por ilações nesse sentido, inclusive com relação a funcionários do Executivo. A biometria é um ponto de discórdia entre a Prefeitura e a categoria?
José Roberto - Não há discórdia quanto ao cumprimento das jornadas de trabalho. Em suma, elas são respeitadas. Os leitores biométricos vêm sendo utilizados há anos nos hospitais municipais apurando a entrada e a saída dos servidores, e toda a categoria absorveu bem a essa modalidade de gestão. Questionamos o ponto intrajornada nos plantões de 24h, haja vista que o controle dos serviços realizados deve estar sob a gestão da administração das unidades de saúde. Sendo assim, a leitura após a décima segunda hora, para plantonistas cuja jornada é de 24h, não traz consigo relevância ou ganho para a categoria, gestão e população.
Folha – Outra cobrança de alguns médicos é relacionada ao atendimento nas localidades distantes da área central. Uma proposta seria o cumprimento de metas por produtividade, ao invés da carga horária. Dessa forma, por exemplo, um profissional que teria de fazer 60 consultas semanais, ao invés de cumprir 12 por dia, faira 30 atendimentos duas vezes por semana. Na sua opinião, isso seria viável e interessante para o município? Por quê?
José Roberto - Em cumprimento as normas do Ministério da Saúde que preconizam o atendimento médio de 12 pacientes a cada jornada de quatro horas, resultando em uma média de 60 consultas semanais por servidor, a categoria se organizou de forma a melhor atender as demandas da população, seja da área urbana ou rural do município, de maneira otimizada e estratégica através de uma rotina de escalas direcionadas. Desta forma, o número de atendimentos realizados por cada profissional é o mesmo, com o ganho para a população que poderá ser consultada em dias específicos.
Folha - O Sindicato dos Médicos informou que os serviços de emergência são mantidos, mas todos os atendimentos ambulatoriais previamente agendados estão suspensos. Já há dimensão da adesão ao movimento grevista? A Prefeitura tem atuado para evitar a paralisação dos atendimentos?
José Roberto - O direito a greve é lícito. Na última quinta-feira (8) realizamos, na sede do sindicato, uma assembleia extraordinária com a finalidade de avaliarmos os efeitos do movimento e constatamos que a paralisação é crescente. No entanto, há um sentimento de medo por parte de alguns servidores, em razão de inúmeros relatos de casos de assédio e ameaças em unidades de saúde do município. Apesar de expressiva participação da categoria, a adesão só não foi total por causa do temor ao risco de represálias.
Folha - A Prefeitura reconhece a greve ou há risco de corte de salários dos funcionários da Saúde que aderirem ao movimento?
José Roberto - Realizamos todos os trâmites legais para a deflagração da greve. Todas as autoridades foram oficiadas e demos o prazo legal para o início do movimento. Além disso, estamos garantindo todo o atendimento aos casos de urgência e emergência, em 100% de suas demandas. A população que nos procura sabe bem que estamos trabalhando em seu favor, buscando sempre diminuir seu sofrimento ou de seu familiar. Quem fica nos gabinetes não tem noção da realidade que vivemos. Aproveito para convidar o presidente da comissão de saúde da Câmara para, junto conosco, visitar as unidades do município. Pois, esperamos que o diálogo, que sempre foi de alto nível com o governo, seja retomado.
Folha - O prefeito Rafael Diniz esteve em Brasília e, entre outros compromissos, cobrou do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, mais repasses para o munícipio, que é polo regional. Há concordância entre quem conhece os hospitais que a tabela do SUS é defasada. O fato de Campos ser um polo regional faz com que as dificuldades enfrentadas na saúde fiquem ainda mais evidentes? O que acha do posicionamento do prefeito junto ao ministro?
José Roberto - O Ministério da Saúde trabalha com dados populacionais, série histórica e dados referentes as necessidades regionais. Estes demonstrativos devem ser apresentados pelos municípios. No entanto, em Campos nunca houve a preocupação de buscar investimentos vindos da esfera federal. Felizmente, o cenário vem mudando ao longo dos anos por meio de emendas parlamentares. Todavia, estas ações ainda estão longe de serem suficientes, a prova disso é o estado caótico no qual nos encontramos. A iniciativa do atual prefeito é primordial, pois precisamos ser ouvidos e o cenário ser urgentemente mudado.

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