Portas abertas para o Carnaval
Matheus Berriel 25/02/2019 18:43 - Atualizado em 28/02/2019 14:19
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“Ô abre alas, que eu quero passar”! O Museu Histórico de Campos recebe, nesta terça-feira (26), a partir das 19h, seu primeiro baile de Carnaval, no intuito de oferecer ao público um contato com a história da festa popular. Marchinhas carnavalescas serão apresentadas pelo músico Markinho Sá. Haverá ainda uma roda de conversa com o professor e pesquisador Marcelo Sampaio, sobre o politicamente correto e as marchinhas, e cortejo com os alunos do curso de Letras em Movimento da Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima (FCJOL), caminhando pela praça do Santíssimo São Salvador e pelo próprio museu. O evento marcará a abertura da exposição “Do Preto e Branco ao Colorido do Carnaval Campista”. As melhores fantasias serão premiadas.
— Pensando na valorização desta manifestação popular brasileira, decidimos resgatar a história do nosso carnaval campista, como uma forma de incentivar essa tradição cultural em nossa cidade. Iremos expor fotos antigas ainda em preto e branco de desfiles, bailes e de blocos de rua. Teremos fotos desde 1938 até 2000, que revelam a riqueza do nosso Carnaval e como ele foi se transformando ao longo do tempo — disse a gerente do Museu Histórico, Graziela Escocard. Pesquisas acadêmicas apontam que, em meados do século passado, o Carnaval de Campos era considerado o terceiro maior do país.
Nos dias atuais, marcados pelo ativismo em defesa das minorias, algumas marchinhas históricas sofrem críticas por trechos considerados ofensivos, como “Cabeleira do Zezé” (João Roberto Kelly e Roberto Faissal), “Maria Sapatão” (João Roberto Kelly e Abelardo Barbosa), “O Teu Cabelo Não Nega” (João Valença, Raul Valença e Lamartine Babo) e “Dá Nela” (Ary Barroso). O assunto será provocado por Marcelo Sampaio na roda de conversa:
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— Eu fui convidado para falar um pouco das marchinhas carnavalescas, porque há alguma visão politicamente correta de hoje em dia em relação a algumas letras de marchinhas do passado. Vou começar falando que, não só nesse assunto, como em qualquer outro, é muito importante a contextualização. Você não pode tirar uma frase ou uma letra de música ou qualquer coisa de uma época e tentar atualizar com parâmetros e paradigmas de um outro tempo. Na verdade, a gente tem que entender que, quando algumas marchinhas foram compostas, não havia aquela intencionalidade nem a reação que hoje existem — explicou Marcelo.
Na opinião do pesquisador, as marchinhas carnavalescas tiveram, inclusive, papel importante no intuito de, nos dias de folia, aproximar do povão os integrantes das classes sociais mais abastadas.
— No Carnaval, nós temos a vertente triste, que é o samba, com todo o lamento negro, e a vertente alegre, que são as marchinhas. Acho que elas, antes mesmo do próprio samba, começaram a fazer uma certa mistura étnica-social, porque, no final do século XIX, no início da República no Brasil, nós tivemos Chiquinha Gonzaga compondo “Ô Abre Alas”. A Chiquinha era muito mais ligada à elite do que às camadas mais necessitadas da população. Com essa marchinha, ela começou a fazer uma mistura étnica-social aqui no país — pontuou.
Grandes nomes da história musical do Brasil serão citados por Marcelo Sampaio em sua fala, como Noel Rosa e Braguinha, que estenderam sua genialidade à composição de marchinhas, além de João Roberto Kelly, considerado o rei deste estilo de composições. Autor de “Nova Capital” e “Cobra Venenosa”, o campista Sebastião Mota também será lembrado:
— “Nova Capital” foi até trilha sonora de um filme de 1957 (“Metido a Bacana”, de J.B.Tanko), quando o governo Juscelino Kubitschek já estava planejando construir Brasília, que foi inaugurada em 1960. A letra é sensacional: “Dizem, é voz corrente, em Goiás será a nova capital. Leve tudo pra lá, seu presidente, mas deixe aqui o nosso Carnaval. O carioca chora de a lágrima cair, se o reinado de Momo também se transferir”. A música foi gravada por Linda Batista, aparece no filme cantada por ela. E a outra diz: “Você parece cobra venenosa, que namora o sapo pra depois sacrificar. Você, mulher, é um perigo. O que a cobra fez com o sapo, você vai fazer comigo”. Vou levar as marchinhas para mostrar, porque muita gente não conhece e nem sabe que foram compostas por um campista — falou Marcelo.

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