Crítica - Cinema, literatura e música
*Edgar Vianna de Andrade 05/11/2018 18:41 - Atualizado em 06/11/2018 18:12
(O Quebra-Nozes e os quatro reinos) — Nunca se deve assistir a um filme voltado para público infanto-juvenil com olhar de adulto intelectualizado, como fazem os críticos da grande imprensa. Para uma criança, não vem ao caso se uma animação ou um filme faz referências literárias, musicais e outras. Para ela, o que conta é a comunicação direta.
Na condição de adulto, considero o diretor sueco Lasse Hallström meloso. Ele é mais um diretor estrangeiro que se rendeu aos ditames de Hollywood. Com 72 anos, sua filmografia é longa. Ela conta com protagonistas cachorros católicos (“Sempre a seu lado”) e espíritas (“Quatro vidas de um cachorro”). Sob sua batuta, já atuaram Johnny Depp, Juliette Binoche, Alfred Molina, Judi Dench, Richard Gere, Julia Roberts e vários outros. Ele já foi premiado e recebeu indicações para prêmios importantes.
Mateusinho
Mateusinho / Divulgação
Agora, juntamente com Joe Johnston, Hallström volta às telas com “O Quebra-Nozes e os quatro reinos”, um filme que tem tudo para agradar meninas e adolescentes sonhadoras. O roteiro tem por base um conto de Hoffmann adaptado por Alexandre Dumas (pai). A música é de Tchaikovsky, que compôs um bailado para o conto. Também considero Tchaikovsky um compositor piegas, mas minhas opiniões sobre ele e Hallström não vêm ao caso neste momento.
Interessa aqui é que o filme coloca no centro Mackenzie Foy no papel de Clara, uma linda moça como princesa para que as meninas se identifiquem com ela numa noite mágica e feérica de natal em Londres do século XIX. Ela tem uma irmã e um irmão órfãos. A orfandade é um elemento muito comum nos contos de fada. As mães mortas são sempre especiais e deixam uma mensagem secreta para os filhos. A música e o balé são iluminados para o leigo e fascinam. Clara acaba num mundo mágico junto a um soldado negro, que a guiará e protegerá. Nesse mundo sugerido por Drosselmeyer (Morgan Freeman), Clara acaba encontrando muitos ratos e Sugar Plum Fayry (Keira Knightle). Trava-se uma luta do bem contra o mal, este aparentemente representado por Mother Ginger (Helen Mirren). Depois, verifica-se que o bem é mal e o mal é bem.
Estamos na Rússia czarista e no clima do folclore russo. Esse mundo está mais para Stravinsky, em “Petrushka”e “A História do Soldado”. Stravinsky é mais russo que Tchaikovsky. E mais compositor também. O clima do balé reforça a magia do filme, juntamente com o figurino e a iluminação. O filme relaciona cinema, literatura, música e dança, relação que não interessa às crianças e adolescentes. Faz também referências a “Fantasia”, segunda animação longa de Disney, de 1940. Nela, o bailado “Quebra Nozes” tem destaque ao lado de outras composições famosas. Disney, a mais poderosa empresa de cinema do mundo, pode bancar um filme que encanta as crianças, mas não tanto os adultos.

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