Guilherme Belido Escreve - Não rolou...
14/07/2018 18:43 - Atualizado em 17/07/2018 14:38
Croácia e França decidem hoje a Copa do Mundo 2018 depois de 30 dias de competição. Para nós, fica a decepção de não ver o Brasil na final em um torneio que, à medida que avançava e com três resultados consecutivos de 2 a 0, se mostrava favorável ao sonho do hexa.
A Copa da Rússia foi de surpresas e inovações. Não se pode negar que a França era uma das favoritas. Mas, digamos assim, uma favorita que ocupava o banco de trás, ao lado da Espanha, tendo à frente Alemanha, Brasil e Argentina. Logo, um favoritismo relativo. Surpresa, de fato, foi a Croácia, que pode sair hoje e com todos os méritos como campeã do Mundo.
A maior inovação foi o árbitro de vídeo, o VAR, cuja utilização teve saldo positivo e poderá ser ainda mais eficiente com o uso continuado e aperfeiçoado.
O futebol também trouxe novidades — uma tendência já vista em copas passadas — de valorização do porte físico associado à qualidade técnica. Não se trata de retomar o ‘futebol força’, já devidamente sepultado, mas de entender que a equipe ideal deve ter 5 ou 6 atletas na faixa de 1,90 para o jogo aéreo cada vez mais usado ofensiva e defensivamente. Os espaços no campo estão menores... a marcação segue muito cerrada e por isso a bola lançada na aérea ganha destaque.
A Copa trouxe novos parâmetros, punindo o toque excessivo e a bola para os lados. A forma como jogou a Espanha é algo superado.
O futebol está mais eficaz, rápido e vertical. A infiltração é vital no jogo moderno, bem como o camisa 10, o cerebral — que sempre existiu — ganha mais importância nessa tendência que une força física, velocidade e técnica apurada.
As lições deixadas pela Copa são claras: O Brasil não fez vexame, mas decepcionou. É inaceitável que não tenha, ao menos, disputado as semifinais. Tite falhou, mas melhor que continue. E Neymar ainda não entendeu o que é a camisa do Brasil.
Juan Carlos Osório e Jorge Sampaoli fizeram papelão enquanto Cherchesov, à frente da seleção russa, tirou coelho de cartola levando a equipe mais longe do que se esperava. A Alemanha foi o fiasco do Mundial e Messi, apático, não jogou rigorosamente nada.
A Croácia deu um show de determinação, coragem, superação e atitude. Mentalmente, entra mais forte hoje do que a França num jogo que — ufanismos de lado — não tem favorito.
Brasil tem que rever tudo
É normal — pergunta-se — que a Seleção Brasileira, que em apenas 12 anos, de 1958 a 1970, conquistou três copas, tenha precisado de mais 48 anos — quase meio século — para vencer os sofríveis mundiais de 1994 e 2002? Evidente que não. Algo está errado.
Pego por forte gripe, passei os últimos jogos desta Copa de cama, entrando madrugada adentro nos programas esportivos da ESPN, EsporTV e Fox. Entre apresentações ao vivo e reprises, uma vasta grade com, no mínimo, 20 dos melhores comentaristas do Brasil.
Em diferentes canais, Mauro Cesar Pereira, Antero Greco, Paulo Calçade, Gian Oddi, Eduardo Tironi, Marcelo Barreto, Lédio Carmona, PC Vasconcellos, Mauricio Noriega, Paulo Vinicius Coelho, Fábio Sormani, José Eduardo Savoia e outros, de diferentes gerações e estilos, falando daqui ou da Rússia, fizeram coro no sentido de que o futebol brasileiro precisa ser revisto em tudo.
A CBF é uma vergonha. Uma entidade que não cuida do futebol e afunda tanto a Seleção quanto os clubes. Misto de corrupção e incompetência, é uma tragédia para o Brasil.
As mudanças devem vir da Confederação, dos clubes e mesmo do governo federal. Algo há de ser feito para proteger o futebol. Não é razoável cruzar os braços e ver nossos jogadores serem vendidos aos 17/18 anos para que os clubes europeus continuem os melhores do mundo. Depois eles passam pelo futebol chinês ou árabe para só então, em fim de carreira, retornarem ao Brasil.
É necessária uma legislação que dificulte isso. Que imponha que o atleta só possa sair, digamos, aos 23 anos; ou depois de cumprir cinco temporadas, ou algo semelhante.
Foi o futebol que colocou o Brasil no mapa do mundo. Até então era samba, carnaval, Carmem Miranda e “Aquarela do Brasil”, de Ary Barroso. E só. Logo, é intolerável que passemos a coadjuvantes no esporte que nos projetou e que é o mais importante e popular do planeta.
A Copa do “Mas...”
Em todos os fracassos da Seleção, tivemos sempre uma história. Em 66, foi a desorganização; 74, o Brasil entrava em ‘nova fase’; 78, foi o Peru comprado; 82, foi a derrota do ‘futebol arte’... a seleção que “amarelou”. Em 90, o Lazarone; em 98, a suposta “convulsão” de Ronaldo; em 2010, o tosco e bélico Dunga; e, em 2014, o vexame dos 7 a 1.
A de 2018 talvez ‘entre para a história’ como a que nos escorregou pelos dedos, visto que a seleção tinha futebol de sobra para estar hoje em Moscou. Mas, também, vai ser a Copa do ‘por outro lado...’: por outro lado a Bélgica jogou muito bem... por outro lado o Brasil quase empatou no 2º tempo... por outro lado Neymar foi caçado em campo todos os jogos... por outro lado se não fossem as contusões...
Neymar — Neymar foi a figura ridícula da Copa. Jogou mais que CR7 e bem melhor que Messi. Mas rolar quase meio campo a cada falta e se contorcer de dor como se pisado por um elefante, não dá. Se tivesse doído aquilo tudo, não teria condição de retornar ao jogo.
Contudo, literalmente caçado, foi o jogador que mais sofreu faltas e mais apanhou. De toda sorte, as encenações, reclamações e gestos irritadiços comprometem a imagem do Brasil. Paparicado e mimado, Neymar pode ser o dono do PSG e o pop star das redes sociais. Mas a camisa do Brasil vai muito além do Instagram ou de time de 2ª linha da Europa.
Se ele não a respeita, não devem deixar que a use.
Coletiva ‘Pachecóide’
O resultado, qualquer resultado, tem a capacidade de abrandar ou realçar um trabalho, uma campanha ou uma trajetória de vida. Se o Brasil estivesse hoje na final e vencesse a Copa, tudo estaria lindo e maravilhoso. Más escolhas, erros, miopia, mau exemplo, mau comportamento... tudo seria esquecido. Como não está, funciona o inverso, colocando-se uma lente sobre as transgressões.
Deixando de lado o sabor das circunstâncias, é sensato lembrar que daqui a quatro anos o Brasil irá disputar outra Copa. Mas, se quiser resultado diferente, deve repudiar falas como a do coordenador Edu Gaspar, representando a Comissão Técnica, que em coletiva disse que “não é fácil ser Neymar” e que “chega a dar pena, porque o que esse menino sofre não é brincadeira...”
Ora, o Brasil perdeu a Copa. Não precisa perder, também, a dignidade.
“Toda unanimidade é burra”
Entre os técnicos de nome, Sampaoli e Osório ‘deram ruim’. A Argentina experimentou as piores sampaolices e provou que desorganização e bagunça não têm limites. Um horror! Já Osório fez feio na beira do campo e na coletiva. Desequilibrado emocionalmente, poderia ter sido expulso de tanto que berrou com o árbitro assistente. Na entrevista, fez acusações bizarras e mostrou ser um péssimo perdedor.
O desempenho de Tite lembrou Nelson Rodrigues: “Toda unanimidade é burra”. Depois de Dunga, a CBF olhou para um lado viu Mano e Luxemburgo, olhou para o outro e lá estavam Marcelo Oliveira e Cuca. Conclusão: Tite.
O comandante recebeu a chave da frente e dos fundos da casa, com autorização para mobiliar a seu gosto e modo. Assumiu como unanimidade... e como tal chegou na Rússia.
Sem ninguém para cobrá-lo (até a imprensa lhe foi dócil — como lembrou Tirone) pensou que estivesse no Corinthians: teve visão curta, insistiu, mudou com atraso e errou. Paciência! Em 2022, quem sabe com mais experiência, possa ser menos professoral e mais treinador.
Uma grande final
A Croácia faz a final neste domingo trazendo sobre os ombros o orgulho de um país encantado com a personalidade e a raça de sua seleção, que deu o sangue para superar os adversários e chegar onde chegou. Como disse o ex-técnico Muricy Ramalho, “a Croácia não jogou para a torcida, jogou para o país”.
Entra em campo depois de três prorrogações (90 minutos) — o que significa dizer um jogo a mais que a França, sendo que o último, contra a Inglaterra, foi um dia depois. Em duas partidas, acrescente-se o desgaste psicológico da decisão por pênaltis. Vença ou perca, deixa a marca da determinação e faz história.
A França vem em busca do bi e tem todos os méritos para levantar a taça. Desde o início esteve entre as equipes mais competitivas e exibe um time recheado de craques.
A Copa da Rússia chega ao fim com duas seleções à altura de uma final. A Croácia, com mais coração. A França, melhor equilibrada.
Apostaria na Croácia — mas seria uma aposta, talvez, do coração.

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