OAB repudia artigo de delegado da PF
Aluysio Abreu Barbosa, Daniela Abreu e Arnaldo Neto 21/04/2018 10:25 - Atualizado em 24/04/2018 16:59
A prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pelo juiz da 13ª Vara Federal de Curitiba, Sérgio Moro, e quase tudo que a cerca, divide o país. Foi o que mostrou a pesquisa do instituto Ipsos, que ouviu 1,2 mil pessoas entre 7 e 10 de abril, nas cinco regiões brasileiras. E, em Campos, não parece ser diferente. Publicado em um jornal semanal no último domingo, um artigo do delegado da Polícia Federal (PF) de Campos, Paulo Cassiano Júnior, provocou incômodo por conta de algumas observações sobre o papel dos advogados. A resposta veio nessa sexta-feira (20) com uma nota de repúdio do presidente da 12ª Subseção da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) do Estado do Rio de Janeiro, Humberto Nobre.
Ao falar sobre a prisão do ex-presidente, Cassiano afirmou no seu artigo que “estranho é ver que, no Brasil, ricos e poderosos como Lula, capazes de contratar um exército de advogados caríssimos e influentes, ainda obtêm vantagens pela dignidade dos cargos que ocuparam, mesmo que essa ocupação tenha se dado indignamente”. O delegado acrescentou que “enquanto isso, a massa carcerária brasileira mofa nas penitenciárias superlotadas, assistida por advogados que não sabem nem que o STF [Supremo Tribunal Federal] fica em Brasília”.
Em repúdio, Humberto Nobre assinou nota na qual saliente que “afirmar que determinados advogados não sabem que a Suprema Corte fica em Brasília soa tão desrespeitoso quanto afirmar que determinadas autoridades públicas desconhecem o contraditório, a ampla defesa, os ritos processuais, a probidade, a imparcialidade, as garantias constitucionais e o dever de urbanidade”.
Ainda na nota do presidente da OAB, é ressaltado “que a “massa carcerária mofa nas penitenciárias” não por má atuação da advocacia, mas sim pelas constantes violações às prerrogativas dos advogados que, não raras as vezes, pasmem, são impedidos de acessar inquéritos e processos judiciais, de despachar com as autoridades competentes e, também, pela morosidade da justiça”.
Para Nobre, causa indignação quando um delegado federal diz que a grande massa carcerária está presa porque o advogado não sabe que o Supremo fica em Brasília. “O advogado é quem defende a democracia. Imputar ao advogado alguma responsabilidade por alguém que está preso é absurdo. Quem prende não é o advogado. O advogado exercita sua profissão por uma sociedade mais digna, mais justa, mais solidária”, afirmou. O presidente da OAB que qualquer agressão contra o advogado deve ser repudiada, “ainda mais quando se trata de uma autoridade policial”.
A Folha tentou contato com o delegado Paulo Cassiano por telefone, mas não obteve retorno até o fechamento desta matéria.

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