Guilherme Belido Escreve - Bagunça no Brasil vem desde o descobrimento
21/04/2018 14:37 - Atualizado em 24/04/2018 16:46
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Antes, apito e espelho; ‘hoje’, cheque cidadão
Neste domingo que desperta lenta e preguiçosamente entre os feriados de ontem e o da 2ª-feira de amanhã, afigura-se propício texto relativamente diferenciado.
Entrando de imediato no assunto... algo próximo ‘da história que o Brasil nos conta’, do descobrimento aos dias atuais, vemos, por assim dizer, uma bagunça completa. Isso, naturalmente, com certo olhar anárquico.
Antes, contudo, volto um pouquinho no tempo, quando crônica publicada nesta página (‘O Whats de Caminha’), também por conta do 22 de Abril, estranhou que fossem feriados nacionais o 21 de Abril, da Inconfidência; o 7 de Setembro, da Independência; e o 15 de Novembro, da República, – mas nada se atribuíra ao feito do navegador português, Pedro Álvares Cabral, que na referida data de 1.500 colocou o Brasil no mapa do mundo.
Mas hoje, revisitando o tema (para usar expressão que está em alta), vejo que não teria cabimento. Primeiro, porque o território onde chegou a esquadra de Cabral, além de habitado, sempre esteve onde está. Logo a “descoberta”, em conceito geográfico, é relativa. Segundo, como o comandante lusitano não nos deu identidade política mas, bem diferente disso, conquistou terras para Portugal, sob esta ótica é lá que deveria ser feriado.
De mais a mais, uma segunda versão – das várias de que se tem notícia – afirma que outro comandante português, Duarte Pacheco Pereira, foi quem primeiro chegara à terra tupiniquim, em 1498, nas vizinhanças dos hoje estados do Maranhão e Pará.
Logo, à luz desses supostos fatos, Pacheco – e não Cabral – foi o descobridor. Afinal, descobrir é uma coisa, conquistar ou explorar, outra bem diferente.
Confusão - Versões desencontradas
Não apenas a rota-Pacheco, mas muitas outras versões relativizam a história oficial (ou as histórias, por serem várias) e colocam em xeque o que se pode entender como fato.
De toda sorte, a versão Duarte Pacheco faz todo sentido. Numa época em que Portugal e Espanha expandiam seus domínios, a descoberta de Pacheco (esta sim, por acaso), teria que ser guardada a sete chaves para não chegar ao conhecimento dos espanhóis.
Residiria aí o motivo para que rapidamente D. Manuel reunisse uma esquadra tão impressionante, formada por 13 navios e 1.500 tripulantes – incluindo marinheiros, soldados, agentes comerciais, escrivães e membros de comunidades religiosas –, com ordens para que sem demora partisse de Lisboa sob o comando de Cabral.
Além disso, o rei recebera informações de Vasco da Gama, que havia retornado a Portugal um ano antes, em 1499, de que teria avistado “terra firme” quando navegava para as Índias. Seria a costa brasileira.
Por essa narrativa fica derrubada a tese do acaso: se D. Manuel já sabia, a frota de Cabral zarpou com a missão secreta e específica de vasculhar o Atlântico e chegar à ‘terra firme’ já descoberta por Pacheco e avistada por Vasco da Gama, para só depois, então, seguir para as Índias.
“Descoberta!” - Trezentos anos de exploração
Quando se ouve a palavra ‘descoberta’, que soa como expressão, temos em mente algo auspicioso. Contudo, como mencionado, só o foi para Portugal.
Para não citar que ‘descoberta de território’ remete a alguma coisa erma, inabitada e desocupada, quando, de fato, em 1.500 a ‘terra nova’ já contava com aproximadamente 5 milhões de índios – a chegada de Cabral nada tem de festivo com o “nosso” Brasil.
Os índios, verdadeiros donos da terra, foram em grande parte escravizados e mortos. Há relatos de que até doenças europeias teriam sido propositalmente transmitidas para dizimar tribos.
De início, a exploração de pau-brasil, ouro e pedras preciosas. Mais tarde, a cobrança tirânica de impostos abusivos. Quem não pagasse, ia para a forca ou era deportado para a África.
Foram mais de 300 anos de exploração explícita em troca da ‘colonização’ que levava tudo e deixava uma ou outra benfeitoria. É o que a história trata como jugo português.
Em 1822, a independência. Não pelas mãos de um brasileiro – como havia de se esperar – mas de um príncipe, herdeiro do trono de Lisboa. De certo, as coisas passariam a melhorar, mas no ritmo do monarca.
Como tal o Brasil iria até as portas 1900, posto que os primeiros anos da república, proclamada em 1889, na prática trocaria o Império por períodos centralizadores e oligárquicos (República Velha), mantendo o brasileiro médio longe do processo decisório e das riquezas do País.
O troca-troca - Ouro por madeira
Desde os tempos da antiga Vera Cruz, também chamada de Terra da Santa Cruz antes de se chegar ao nome Brasil (1512), vemos que a relação entre governantes e governados não mudou muito. Modernizou-se, ganhou novos contornos, adaptou-se ao século 21, mas a essência é a mesma.
Os ‘colonizadores’ que aqui chegaram deram aos habitantes – ao povo de então – espelhinhos, apitos e colares. Em troca, levavam ouro e madeira. E os índios ainda ficavam satisfeitos, agradecidos e devendo favor.
Nos dias atuais os governos dão cheque-cidadão, bolsa isso e bolsa aquilo, enquanto os governados – em sua grande maioria trabalhadores – entregam, em troca, suor e sangue, tirados, dia após dia, ao longo da vida, de trabalho árduo e penoso. E se dão por satisfeitos quando o salário dá pra comprar a comida e, com sorte, de vez em quando, um brinquedinho barato para os filhos.

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