Centro de Campos: várias obras e nenhuma solução
Matheus Berriel 20/01/2018 16:30 - Atualizado em 22/01/2018 13:37
Antônio Leudo
Quase sempre, a história se repete no Centro de Campos. Bastam alguns minutos de chuva intensa para que muitas ruas fiquem alagadas. Um dos pontos mais críticos é a descida da ponte Leonel Brizola, nas proximidades do Mercado Municipal e Shopping Popular Michel Haddad. O local já passou obras de intervenção, na gestão Rosinha Garotinho, mas a iniciativa não foi suficiente. O problema afeta principalmente os comerciantes locais, que são prejudicados quando há interdição da ponte por causa de alagamentos.
Em julho e agosto de 2014, obras de drenagem foram realizadas na avenida José Alves de Azevedo (Beira-Valão), via que dá acesso à ponte. Na época, o então secretário de Obras, Urbanismo e Infraestrutura, Edilson Peixoto, chegou a garantir que o problema dos alagamentos seria resolvido. “Existe uma diferença de nível da tubulação do Jardim de Alah, que passa pelo espaço provisório do Shopping Popular Michel Haddad, o que faz com que a água não escoe com rapidez para o canal Campos-Macaé e aquele local não suporte o volume de água, ficando o acúmulo de água. Por isso, vamos fazer uma rede de galeria de águas pluviais maior, com uma tubulação lateral próxima à calçada, que vai levar a água até o Campos-Macaé, até depois da Formosa (atual Tenente Coronel Cardoso), para acabar com o problema”, explicou na ocasião.
Segundo informação da atual equipe da secretaria de Infraestrutura e Mobilidade Urbana, em nota enviada através da superintendência de Comunicação da Prefeitura de Campos, o projeto executado na descida da Ponte Leonel Brizola foi orçado em R$ 1,5 milhão e a realização aconteceu em etapas. A Prefeitura não esclareceu qual ou quais empresas atuaram na obra, quantas etapas foram, nem se havia garantia em caso de continuação dos alagamentos.
Na prática, nada foi solucionado. Apesar de galerias de grande porte terem sido implantadas, em forma de restauração das anteriores, com tubos de maior diâmetro, e dos novos pontos de captação para escoamento, logo nas primeiras chuvas fortes de 2015, surgiram novamente os alagamentos, que continuam ocorrendo nos dias atuais.
No último dia 4, com uma chuva de 36,9 mm que caiu no município, o problema voltou a se repetir. Não bastasse o alagamento na rua, a água também chega a invadir o Shopping Popular Michel Haddad, que fica no Parque Alberto Sampaio.
Também em nota, a Prefeitura de Campos informou que “a secretaria de Infraestrutura e Mobilidade Urbana está fazendo levantamento e elaborando projetos para acabar com o alagamento naquela região. O projeto inclui a limpeza e revitalização do canal Campos-Macaé, realizada pela concessionária Águas do Paraíba, da rua Tenente Coronel Cardoso até a avenida Nilo Peçanha, e também do Canal de Tocos, na Baixada Campista”.
Urbanista fala sobre intervenção “mal feita”
Antônio Leudo
Na visão do arquiteto e urbanista Ronaldo Linhares, a obra realizada no local, na gestão passada, foi mal feita. “Não posso dizer qual foi exatamente o erro, mas posso afirmar que nenhum técnico em drenagem vai ver, aparentemente, dificuldade em fazer uma obra que resolva definitivamente, nem que ela seja um pouco mais complexa. É inadmissível. Tem que se estudar, refazer o serviço ou fazer outro. Mas tem que trabalhar, não tem como ficar assim”, afirmou.
Segundo Linhares, quando a ponte Leonel Brizola foi entregue, em 2007, na época chamada de ponte Rosinha Garotinho, foi coberto um grande ralo, existente antes da construção. “Pedi muito à Fundação Departamento de Estradas de Rodagem do Estado do Rio de Janeiro (Funderj) que destapasse-o. Infelizmente, não consegui. Fiz vários ofícios, pedi para que destapassem ou fizessem outro. Posso afirmar que o Governo do Estado entregou a ponte sabendo desse problema”, disse.
Procurado pela reportagem da Folha da Manhã, o superintendente do Departamento de Estrada de Rodagens do Rio de Janeiro (DER-RJ) no Norte Fluminense, Ivan do Amaral Figueiredo, negou a informação. “Estive consultando e nada foi fechado, não teve nada disso. A questão ali é outra conversa. Tem que entrar ali e ver o que está havendo, descobrir o motivo de esta água não estar saindo. Quando chove, a água fica presa. A questão do ralo, o DER nega”, afirmou.
Na visão de Ronaldo Linhares, não bastam apenas medidas pontuais: “O que precisa é corrigir, resolver o problema. Não vejo, por exemplo, a necessidade de um piscinão, como alguns acham necessário. Uma coisa importante a citar é que a gente não vê máquinas atuando para aspirar, limpar a galeria. Além da drenagem, também nos falta uma macrodrenagem, desassoreamento nas saídas dos canais. É todo um sistema”.
Camelôs relatam perdas e insatisfações
Antônio Leudo
O comerciante Davi Oliveira trabalha no Shopping Popular desde quando as bancas foram transferidas para o local onde funcionam atualmente. Segundo o vendedor de bolsas, os alagamentos eram comuns antes da obra de 2014 e continuam acontecendo, alguns até com maiores proporções. De acordo com ele, recentemente ocorreram dois.
— Ficaram dois meses em obra na descida da ponte e não resolveram nada. Teve uma vez que a água ficou na metade da banca. Toda vez que chove, é um dilema, a gente não sabe se vem para cá tirar as mercadorias ou não, muitas vezes nem dá tempo. Já perdi muita coisa aqui. Todo mundo tem prejuízo. Acho que tem que ver a profundidade do valão e fazer um buraco maior para melhorar o escoamento. Falta vontade de fazer. Estamos aqui há um tempão e, até hoje, ninguém deu satisfação nenhuma para a gente — disse Davi.
Uma das camelôs mais antigas do Shopping Popular, Marlene Brito, de 63 anos, também lamentou o fato. Em 2015, ela sentiu no bolso os prejuízos da falta de planejamento público, perdendo roupas, bonés e outros itens que vende. “Se a obra tivesse sido bem feita, não aconteceriam os problemas que acontecem quando chove. Sempre que alaga, a gente perde muita coisa. Na primeira chuva depois da obra, eu mesma perdi muita coisa, inundou tudo. E olha que a minha banca é num lugar mais alto, nunca imaginei que fosse chegar aqui. Toda a mercadoria que estava no chão foi perdida, foi bastante coisa. Penso que teriam que refazer aquela obra, para, quando chover, absorver a água e não deixar inundar aqui e nas redondezas”, afirmou.

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