TSE põe fim ao suspense e suspende medidas cautelares contra Garotinho
27/09/2017 09:55 - Atualizado em 06/10/2017 19:07
Ponto Final
Ponto Final / Ilustração
Garotinho, o retorno
Acabou o suspense. Por quatro votos a dois o plenário do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) não só revogou a prisão domiciliar do ex-governador Anthony Garotinho (PR), na famosa “casinha da Lapa que papai deixou”, como suspendeu todas as medidas cautelares determinadas pelo juiz Ralph Manhães, na 100ª Zona Eleitoral de Campos, depois confirmadas por unanimidade pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE). Na prática, assim que for publicado o acórdão do TSE, Garotinho não usará mais tornozeleira eletrônica, poderá falar sobre o processo, retomar seu programa de rádio na Tupi e ir para onde bem entender.
Trilha de Rosinha
Assim que a decisão do TSE foi definida no Planalto Central, fogos espocaram na Planície Goitacá. Na rua Saturnino Braga, na Lapa, multiplicaram-se os militantes do garotismo. Rosinha Garotinho (PR) saiu à rua para comemorar com eles. Ela cantou o louvor “Senhor do Universo”, sendo seguida pela execução de “Como é grande o meu amor por você”, de Roberto Carlos. Apesar do histerismo da última quinta (21), quando gravou um live na casa de uma vizinha, para dizer que seu marido não havia descumprido a prisão monitorada pela tornozeleira, a ex-prefeita se mostrou certa ao apostar todas as fichas do casal em Brasília.
Aviso de Clarissa
Bem mais contida (e irônica), a secretária municipal de Trabalho do Rio de Janeiro, Clarissa Garotinho (PR), também parecia antever a decisão de ontem. Em resposta a um texto de Gustavo Matheus (PV), seu primo e superintendente de Trabalho em Campos, a deputada federal licenciada cometeu gafes, como elogiar o Cepop — símbolo maior de desperdício do dinheiro público na gestão municipal rosácea. No entanto, diante do pai chamado de “leão desjubado”, Clarissa pareceu segura ao ecoar a todos o aviso ao primo: “A ‘juba’ do seu tio vai crescer de novo. Você pode estar ao lado dos leões, não precisa se juntar aos caçadores!”.
Sobem
Pelo sim, pelo não, Garotinho ontem não pôs a cara fora da “casinha da Lapa”. Nem da janela. Mas tão logo seja liberado a fazê-lo pela porta da frente, nada indica que usará o passado recente como lição de humildade (ou cautela) ao futuro. Sobretudo após ter ontem a aparente garantia de que, salvo fato novo, não será preso novamente pela 100ª ZE ou TRE, sem o crivo do TSE. Presente lá ontem, após passar a morar em Brasília para defender o líder, cresce dentro do grupo o conceito do advogado Thiago Godoy (PR), candidato à vaga aberta pela nomeação de Francisco de Assis Pessanha Filho ao Tribunal de Justiça (TJ) do Estado do Rio.
Jurisprudência
Ex-advogado de Rosinha, na segunda cassação desta como prefeita, em 2011, o atual relator da Chequinho no TSE, Tarcísio Vieira de Carvalho Neto, não viu fato novo que justificasse a prisão domiciliar ou as medidas cautelares. De fato, nova foi só a confusão com a tornozeleira, sobre a qual Rosinha estava correta e que não ajudou a quem queria Garotinho preso. Contra o voto do relator, ficaram apenas os ministros Rosa Weber e Herman Benjamin. Este, embora favorável ao recurso em liberdade, preferiu votar por escrito e separado, por discordar que se firmasse com a decisão de ontem uma jurisprudência contra a instituição da prisão preventiva.
Vergonha na cara?
Quem cega além do primeiro algarismo, talvez não tenha visto o dois seguinte numa operação de soma, tampouco o quatro como resultado final da equação. Para estes, o julgamento de ontem foi só sobre Garotinho. Com a decisão favorável a ele defendida ardorosamente pelo insuspeito presidente do TSE, ministro Gilmar Mendes, Benjamin pareceu antever a formação de uma jurisprudência que visa, de maneira mais ampla, livrar a cara de uma elite política corrupta e acossada em investigações como a Lava Jato — da qual a Chequinho é consequência inequívoca. Por via das dúvidas, em sua fala, Gilmar cobrou “vergonha na cara”.
Jogo jogado
Mero peão no jogo do Planalto Central — como quando a “venda do futuro” de Campos foi trocada com o governo federal Dilma Rousseff (PT) pela abstenção da deputada Clarissa na votação do impeachment da ex-presidente —, a Planície Goitacá retomará sua nova/velha realidade. Com a liberdade física, de palavras e atos a Garotinho, o governo Rafael Diniz (PPS) retornará ao foco, tendo de volta seu mais articulado e raivoso opositor. Fatos como a paralisação dos rodoviários da Rogil, ou o corte de luz nas unidades municipais por falta de pagamento, todos ocorridos ontem, não serão mais eclipsados pelas desventuras da Lapa.
José Renato

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