Guilherme Belido Escreve: Depois de "live" humilde, Garotinho volta agressivo
Guilherme Belido 30/09/2017 20:39 - Atualizado em 06/10/2017 18:33
Cá com meus botões
Por conta da enxurrada de notícias vindas do Congresso, do Planalto, do MP e do Supremo, na esteira da Lava Jato, esta página tem se incumbido, predominantemente, da política de Brasília.
Como lembrado no texto de domingo passado, nunca na história o Brasil presenciou transformações tão profundas, em período tão curto, que entre denúncias, condenações e prisões, emparedaram deputados e senadores, governadores, ex-ministros e ministros, dois ex-presidentes da República e o atual, Michel Temer, do alto de seus 3% de aprovação.
Não passa uma semana sem que 3-4 ‘bombas’ estourem, sacudindo o País e fornecendo matéria prima a quem exerce o ofício de informar e opinar.
A bem dizer, se 2016 foi o Katrina das manchetes políticas, 2017 tem sido o Irma. Assim, acessoriamente à cobertura diária da Folha, este espaço tem dado ênfase àqueles temas, tentando extrair o mais importante de enorme manancial.
Na edição de 17 de setembro, página ilustrada com excelente charge de José Renato, trouxe o título ‘República de Quadrilhão’. Paralelamente, a capa da Veja – uma das mais influentes publicações da América Latina – estampava... ‘República de Quadrilhas’. A casualidade, por sugestão do signatário, foi registrada no Blog Ponto de Vista, de Christiano Abreu Barbosa, exibindo ambas as imagens.
Assim, em 2017, graças à elevada temperatura do Planalto, não mais que meia dúzia de matérias cuidou da política local.
Folha da Manhã
Caso Garotinho: Falha no GPS e live de Rosinha
Semana passada, contudo, live gravado pela ex-prefeita Rosinha Garotinho, na casa de uma vizinha, me chamou atenção.
No vídeo feito sob forte emoção, nervos à flor da pele, Rosinha tentava, desesperadamente, demonstrar o engano depois comprovado: o GPS da tornozeleira então usada pelo ex-governador Anthony Garotinho, apontava, erroneamente, suspeita de violação da prisão domiciliar.
A falha técnica, depois admitida pela Secretaria de Estado de Administração Penitenciária, se não detectada a tempo, poderia não só custar o habeas-corpus no TSE e consequente revogação da prisão domiciliar como, até mesmo, a conversão desta em prisão preventiva.
Logo, mais que justificada a aflição de Rosinha que, mercê de falha técnica do equipamento, via a expectativa do marido ganhar a liberdade se transformar, para toda a família, no pesadelo até de uma transferência para presídio, por motivos que absolutamente não deu causa. Imagine-se, então, a angústia do próprio Garotinho, possivelmente ciente do que estava acontecendo.
Assim, numa daquelas brevíssimas reflexões que vez por outra a gente faz de forma automática, pensei, cá com meus botões, como a história de Garotinho, depois de tão elevados degraus, vem se desintegrando.
Nem me refiro – sem intenção de tirar a importância das conquistas – ao cenário local. Mas, sim, à campanha para o governo do estado, de 1994, cuja derrota eleitoral para Marcelo Alencar não inibiu, subliminarmente, uma vitória política.
Depois, a vitória para governador, em 1998, quando Campos se viu tomada por estado de verdadeira comoção, festejos aos quatro cantos da cidade: o filho desta terra era o novo ocupante do Palácio Guanabara... – figurava, certamente, no inconsciente do povo.
E ganhou, com destaque, visibilidade nacional. Elegeu a mulher Rosinha na sucessão no Rio e obteve quase 15 milhões de votos para presidente da República – terceiro lugar, na frente de Ciro Gomes, ex-ministro e um nome mais experimentado na política nacional.
Os revezes começaram com a famigerada greve de fome, aplacada com a expressiva vitória para a Câmara Federal (2º deputado mais votado do Brasil), e, mais tarde, novamente deixando em suspenso sua trajetória com a derrota para o governo do Rio (2014), deixado de fora do 2º turno.
Destempero e agressividade sem medida
Na derrota em 2014, matéria intitulada ‘Pausa’ (fac-simile ao alto), não considerou que o resultado negativo lhe fosse irreversível. Ao contrário, listou exemplos de derrotados que, mais à frente, reverteram situação desfavorável. Citou vitoriosos naquele pleito, como Alckmin e Serra. Lembrou, ainda, que FHC virou presidente tempos depois de ter perdido para Janio Quadros a prefeitura de SP.
Mas considerou que o possível apoio a Crivella em nada ajudaria, pelo simples fato do eleitor não costumar seguir orientação de candidato derrotado. Um texto, portanto, nem a favor, nem contra Garotinho.
Prefeitura, 2016 – Contudo, no pleito municipal passado, o modus operandi do ex-governador extrapolou. Ao contrário do que, despretensiosamente, o titular observou no texto de 2014... (‘Afigura-se irrelevante taxá-lo de agressivo ou criticá-lo por ter brigado com a Globo – e mais isso e aquilo. Ora, se ter escolhido um caminho custou-lhe, desta feita, a derrota; as mesmas rotas lhe valeram vitórias.’), na sucessão de Rosinha o ex-governador perdeu a mão.
A agressividade agigantou-se. Ofensas e acusações para todos os lados, sem freio. Adversários se tornaram inimigos; a mídia que lhe fazia oposição taxada “de tudo e mais um pouco” e, como quem fala o que quer, ouve o que não quer...
O tiroteio alcançou a Polícia Federal, o MP e a Justiça, sem observância ao respeito devido às instituições cujas decisões, se ofensivas ao bom direito, podem ser enfrentadas no âmbito dos recursos e dos canais revisionais competentes.
Dando munição a quem não tem história
Em brutal erro estratégico, a intempestividade de Garotinho tem aberto espaço a figuras sem a menor expressão política. Gente que não tem voto, liderança, prestígio, trajetória, vida pública... nada. Mas que, aproveitando-se do corredor polonês, resolve chutar quem está caído, quase desfalecido, na lona.
Gente que nada fez pelo povo ou pela cidade e que agora enxerga a chance de ter seus 15 minutos de fama. Invejosos, despeitados e oportunistas. Uma vergonha!
Se a história vai registrar os tropeços e infortúnios de Garotinho, irá, também, apontar sua liderança política como a maior do interior fluminense dos últimos 30 anos. Chegou nas últimas décadas onde nenhum campista, nem de longe, imaginou. Se está em queda livre (e está) emerge a indagação: Pezão e Cabral são melhores?
Depois do HC, agressividade redobrada
Como mencionado, poucas vezes abordei a política local. De cabeça, lembro-me da campanha estadual, da página ‘Decadência’ – em que, numa ligação dada a Rafael Diniz, disse-me ele, na época, que havia guardado em seu arquivo – e de outras pós-eleição municipal.
Então, voltando ao fio da meada, não escrevo por causa do vídeo de Rosinha. Mas por estranhar que logo após momentos de tanta aflição, com frases do tipo (...) Eu quero pedir que me ajudem... Isso é uma perseguição... O advogado falou, não faça live, mas eu não sei ficar quieta... Vcs compartilhem o que estou estou falando... Ele está em casa, na maioria das vezes dopado, porque eu estou empurrando um monte de remédio nele... Cadê todo mundo...Por favor nos defendam... E por aí segue, Garotinho, livre, ao invés do desabafo que seria natural, voltou aos píncaros da agressividade.
Para não reproduzir o que já exaustivamente mostrado, uma fala atribuída a Garotinho, veiculada pela mídia, me pareceu absurda, caso verdadeira: a de que o ex-governador teria dito que iria visitar conjuntos habitacionais, onde pessoas “ganharam casa com chuveiro quente de graça” e, a hora de votar, optaram pela mudança.
Ora, governador!.... Que disparate é esse? A prefeita Rosinha não fez favor algum. Os conjuntos foram construídos com dinheiro público. A Constituição garante a todo cidadão direito à moradia, segurança, saúde, transporte, educação, segurança e até lazer. Não transforme o que é obrigação... o que é inerente ao conjunto de políticas públicas, em favor.
Campos precisa de sua liderança política e de sua capacidade de homem público. Todo governo – qualquer governo – deve ter o contraponto da oposição, via sugestão e fiscalização da coisa pública.
Não abdique dessa prerrogativa com ações odiosas e inferiores. Disso, já muitos se ocupam.

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