Psicólogo alerta para prevenção da depressão
Jhonattan Reis 25/07/2017 18:36 - Atualizado em 26/07/2017 19:51
Chester Bennington
Chester Bennington / Divulgação
“Às vezes estou ótimo, mas muitas vezes, para mim, é muito difícil. Eu sempre me encontro lutando com certos padrões de comportamento. (...) Este lugar aqui (apontando para a própria cabeça), este crânio entre meus ouvidos, é uma vizinhança ruim. Eu não posso estar aqui sozinho. (...) Quando estou nisso, minha vida inteira é jogada fora. Eu não digo coisas agradáveis para mim mesmo”. As palavras foram ditas por Chester Bennington, vocalista do Linkin Park, em entrevista a uma rádio americana no último mês de fevereiro. Chester morreu na última quinta-feira (20), aos 41 anos. Ele foi encontrado morto em uma residência privada em Palos Verdes Estates, na Califórnia, Estados Unidos. De acordo com a polícia local, o vocalista cometeu suicídio por enforcamento. Ele era casado e tinha seis filhos.
Mesmo com sucesso profissional, dinheiro, carros de luxo e milhões de fãs no mundo, Chester optou por tirar a própria vida. O psicólogo Luiz Antonio Cosmelli explica que quando uma pessoa sofre de depressão, tudo o que ela tem, para ela, vai deixando de ter importância.
— Isso acontece porque o que elas mais precisam não está fora delas. O que elas mais precisam é algo de dentro. Muitas vezes, esse vazio pode ser causado por problemas familiares, traumas de infância, questões de insatisfação com tudo. Por isso você vê pessoas bem sucedidas no mundo inteiro, como Chester, Kurt Cobain, Jimi Hendrix, Janis Joplin e Amy Winehouse, se autodestruindo. Ter muita coisa fora, como sucesso e dinheiro, não te muda por dentro, não preenche o vazio que uma pessoa com depressão tem.
Depressão, ressalta Cosmelli, não é “brincadeira”, “falta de trabalho” ou “frescura”.
— E não é só a sociedade, no geral, que tem esse entendimento ignorante de que depressão seja “frescura”. Muitos profissionais da saúde não têm esse olhar apurado sobre uma crise depressiva. Muitas vezes se diz que é “preciso arranjar um marido/mulher ou trabalho”, que é “não ter o que fazer”. Isso é muito ruim, inclusive, para o paciente. O que uma pessoa com depressão precisa é de um acolhimento, porque é uma patologia terrível.
O psicólogo explicou, também, sobre o surgimento da doença.
Luiz Antônio Cosmelli
Luiz Antônio Cosmelli / Folha da Manhã
— Ela aparece não só por conta de questões genéticas, mas também por questões sociais. Vivemos em uma sociedade em que as pessoas, principalmente os jovens, são pressionadas para se ter sucesso, dinheiro, para se encaixar em determinados padrões de beleza, para ter, comprar, consumir, ser, e aí vem as doenças psicológicas, como depressão, ansiedade e transtorno do pânico — disse ele, que falou, ainda, sobre como identificar o surgimento da doença.
— É necessário que a pessoa ou alguém próximo, como algum familiar, amigo ou companheiro, perceba isso. Quando uma pessoa está com depressão, seu comportamento muda muito. Ela começa a declinar, a renunciar a rotina do dia a dia, se ausentar, ficar pessimista, achar que o mundo não foi feito para ela e que não há como resolver os problemas. Importante lembrar que cada faixa etária indica sinais. Se for criança ou adolescente, começa a aparecer, também, um baixo rendimento na escola. Se for adulto, começa a faltar o trabalho, a não dar conta das atividades.
Para tratar a depressão, de acordo com Luiz Cosmelli, é necessário pedir ajuda.
— Este é o segundo passo. É preciso levar a pessoa a um profissional da saúde mental, que não é um bicho de sete cabeças. Ele vai fazer uma avaliação e saber até que ponto essa patologia está instalada. Depois, vai apontar as intervenções necessárias e a pessoa passará por tratamento.
Chester Bennington, em outra entrevista, concedida no ano passado, contou que lutou por anos contra drogas e álcool, o que foi superado há alguns anos, e que havia pensado em suicídio por conta de um trauma de infância — foi abusado quando criança por um homem mais velho. No mês passado, o músico relatou que também sofria com a morte de seu amigo Chris Cornell, vocalista do Soundgarden e do Audioslave, que morreu em maio, também em um suicídio por enforcamento, segundo médicos legistas. Chris faria aniversário de vida no dia em que Chester cometeu suicídio.
— Às vezes há acontecimentos que fazem a pessoa realmente tomar coragem para se suicidar. Um trauma de infância, por exemplo, é uma questão perigosa. Uma coisa altamente traumatizante para qualquer ser humano é ser violentado, seja fisicamente, sexualmente ou psicologicamente. Aquilo parece que marca na carne. É comum ver pessoas adultas ainda sofrendo por traumas de infância, de experiências altamente destrutivas. A infância é o momento em que tudo está se formando. Por isso, essas marcas acabam sendo inesquecíveis de forma negativa em vários casos — falou Cosmelli.
Suicídio é algo preocupante, diz o psicólogo.
— Isso tem sido estudado no mundo inteiro, porque tem atingido cada vez mais crianças, jovens, adultos, idosos. Parece uma epidemia. Por conta de problemas como a depressão, a pessoa tem um desencanto com a vida e perde a esperança de que tudo vai melhorar. É como se nada pudesse te livrar daquela angústia. O que a pessoa acaba encontrando é autodestruição. Para ajudar a acabar com isso, as pessoas têm que estar mais próximas, e não só pelas redes sociais, aprender a não zombar, a valorizar o outro, a estar em contato, com olho no olho, a dar valor à pele, ao abraço, a estar junto.
Brasil possui programa para prevenção
O tema depressão é destaque no site oficial do Linkin Park. As informações sobre a banda na página inicial foram substituídas pela frase: “No caso de você ou alguém que você conhece precisar de suporte, aqui estão alguns recursos”. Em seguida, números para prevenção do suicídio nos Estados Unidos.
Luiz Cosmelli ressaltou que o Brasil conta com um serviço semelhante. Profissionais do Centro de Valorização da Vida (CVV) podem ser contatados pelo número 141. Segundo informações do site do CVV (www.cvv.org.br/), a instituição “realiza apoio emocional e prevenção do suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo por telefone, e-mail, chat e Skype 24 horas todos os dias”.
— Um meio de comunicação como esse ajuda simplesmente por um motivo: você, talvez, não consiga falar sobre o problema com sua família ou amigos, temendo ser zombando ou outras questões. Porém, de repente você vai ter a coragem de falar sobre isso com uma pessoa que você não conhece, alguém irá te ouvir e você não vai estar cara a cara com a pessoa.

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