Crítica de Cinema - Fausto adolescente
24/07/2017 19:03 - Atualizado em 26/07/2017 19:51
Cena de
Cena de "Sete desejos" / Divulgação
Fica difícil decidir se “Sete desejos” tem uma finalidade puramente comercial ou se procura, pela enésima vez, evocar o mito de Fausto. A leitura pode ser feita nos dois sentidos. Trata-se de um filme de terror categoria B. Ele é ambientado entre jovens de uma escola com suas inseguranças e imaturidades. A personagem central é Clare Shannon (Joey King), filha de mãe suicida e de pai catador de lixo. O suicídio da mãe marcou angustiadamente a vida da filha. Certo dia, o pai encontra no lixo uma caixa metálica chinesa e a presenteia a Clare. Esta caixa vai se revelar como a lâmpada de Aladim. Desde minha infância, conheço a história da lâmpada que atendia a três desejos de quem a esfregasse. Mas ela não era cruel. Guillermo del Toro também colocará no centro de “Cronos”, um de seus primeiros filmes, uma caixa mágica que poderia garantir a imortalidade de seu possuidor. Mas cobrava um preço.
O mito de Fausto também trata do atendimento a desejos de uma pessoa satisfeitos pelo demônio cristão em troca da alma do pedinte. Marshall Berman mostra como o “Fausto”, na versão de Goethe, expressa o desenvolvimento da modernidade com seus projetos grandiosos. No final, Fausto é salvo por Deus. Mas, na versão menor e modificada de John R. Leonetti, o demônio chinês não perdoa dívidas. Ele concede sete desejos à pessoa que detém a caixa, mas condena-a à morte e agride quem está por perto.
Numa leitura rasa, o filme recorre a truques do terror cinematográfico: situações de tensão anunciando algo violento, sons bruscos, pressentimentos confirmados etc. O curioso é que o diretor cria climas anunciando mortes, mas não os conclui, enganando o público. No mais, as mortes são sempre bizarras.
Mateusinho
Mateusinho / Divulgação
A caixa mágica tem autonomia. Ela se abre sozinha e toca músicas. Fecha-se e planeja crimes sem que seu possuidor perceba ou, percebendo, nada possa fazer. Uma caixa como essa encontra ambiente ideal numa sociedade individualista e consumista como a dos Estados Unidos. De resto, como toda sociedade transformada pela globalização ocidental e capitalista são receptivas a ela. Os jovens estudantes têm perfil da maioria adolescente estadunidense: concorrem entre si, formam grupos de amizade, são vaidosos e cruéis. Clare tem complexo de inferioridade, desejos de sucesso, simpatia, amor, poder. A caixa a atende em tudo, porém não a perdoa no final, malgrado todo seu arrependimento. Para justificar minha crítica, prefiro interpretar o filme pelo ângulo de Fausto. Do ponto de vista cinematográfico, o filme não trabalha emoções ou não permite que elas se desenvolvam por excesso de cortes. Afirmo mesmo que as interpretações não são convincentes, como deve acontecer a um filme de terror.
Para quem gosta ou não, entre os créditos finais, um intervalo anuncia continuação, que pode acontecer ou não dependendo da bilheteria.

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