Mortalidade por Aids em Campos é de 8.9 a cada 100 mil habitantes
Dora Paula Paes - Atualizado em 30/12/2023 17:04
Genilson Pessanha
 Frente LGBTQIAPN+ do Norte Fluminense manifesta preocupação com a mortalidade por Aids em Campos. A taxa no município é de 8.9, a cada 100 mil habitantes, ainda maior do que a do estado do Rio (6.3) e nacional (4.1). Os dados são do Boletim Epidemiológico, lançado pelo Ministério da Saúde e divulgado recentemente. A Associação Irmãos da Solidariedade chegou neste Dezembro Vermelho, de campanha de prevenção, assistência, proteção, em luto por seis vidas perdidas dos seus assistidos, agora, em 2023, que tem registro de 223 novos casos no Norte Fluminense. Apesar das campanhas, a Frente espera mais das autoridades em todas as esferas (municipal, estadual e federal). Já os soropositivos devem ter pressa pela vida, o trabalho psicoterapêutico precisa acontecer o quanto antes, aponta o psicólogo, Bruno Peixoto.

Em nota, a Frente denuncia a gravidade. "Neste Dezembro Vermelho apontamos a gravidade de nossa região ter uma das piores taxas de mortalidade por Aids do Estado", diz um trecho.

Segundo a Frente LGBTQIAPN+, desde o lançamento da "Carta em defesa do fortalecimento da política em resposta ao HIV e à Aids em Campos e região Norte Fluminense", em dezembro do ano passado, existe um esforço da prefeitura de responder a questão do HIV e da Aids na cidade. No entanto, a Frente espera mais, com aportes financeiros, participação da sociedade civil, mobilização de outras secretarias municipais e engajamento da comunidade.

Na linha de frente, há anos, pela vida de soropositivos em Campos, a presidente e fundadora da Associação Irmãos da Solidariedade, Fátima Castro, explica que a Associação não trabalha com estatísticas, por outro lado, ressalta que neste ano, já perderam seis pacientes.

- Isso preocupa muito. Na realidade, quando eles saem da instituição, abandonam o tratamento, quando voltam a carga viral está mais elevada. Isso faz com que não haja muito sucesso para manter os retrovirais. Tem a questão da fome. Sem estar na instituição, eles não se alimentam direito. Enfim, o maior problema hoje é com a classe menos privilegiada, em Campos e no Brasil - diz Fátima Castro.

No dia 31 de dezembro chega ao fim a campanha "Dezembro Vermelho". O protocolo do Ministério da Saúde destaca que ter HIV não é o mesmo que ter Aids, pois há muitos soropositivos que vive sem desenvolver a patologia. A transmissão do vírus pode acontecer pelas relações sexuais desprotegidas, compartilhamento de seringas contaminadas ou de mãe para filho durante a gravidez e a amamentação. Por isso, é essencial se proteger em todas as situações e fazer regularmente o exame.
 
Em 2023, 223 novos casos de HIV foram diagnosticasos no Norte Fluminense
 
O Centro de Doenças Infecto-Parasitárias (CDIP), vinculado à secretaria Municipal de Saúde, informa que neste ano, 223 casos de HIV foram diagnosticados (até novembro): pacientes de Campos e demais municípios do Norte Fluminense. Em acompanhamento, há atualmente 3.542 pacientes que aderiram ao tratamento e fazem a retirada do medicamento no órgão.

A pasta da Saúde informa que oferece uma gama de serviços para as pessoas que apresentam sorologia positiva ao vírus do HIV e para as que convivem com a Aids (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida, decorrente da infecção pelo HIV), além de outras Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs), passando pelo acolhimento, testagem, tratamento acompanhamento, além de ações de conscientização e capacitação ao longo ano. No caso da testagem ela pode ser realizada nas51 Unidades Básicas de Saúde (UBS) estão capacitadas e realizando o teste rápido diagnóstico.

Além de campanhas periódicas de conscientização nos dispositivos da prefeitura e grandes empresas do município, os profissionais da saúde estão realizando busca ativa das populações mais expostas."Já realizada a testagem em massa dos privados de liberdade (presídios masculino e feminino)", acrescenta.
Campos está inserido ainda no“ Projeto AIDS avançada”. O atendimento no CDIP também foi estendido até às 19h e, apontam, que intensificaram a busca ativa dos abandonos de tratamento da unidade. "O município está emelaboração de estratégia de testagem de profissionais do sexo e usuário de drogas"l.
Outro ponto destacado é a distribuição de preservativos em locais com rodoviária e mercado municipal.
O aporte do Governo Federal é de R$78 mil por mês para a disponibilização do Profilaxia Pós-Exposição e Profilaxia Pré-Exposição ao HIV.

"Um diagnóstico não deve definir, estigmatizar e limitar alguém", aponta psicólogo

De acordo com o Boletim Epidemiológico de 2023, no Brasil, de 1980 até junho de 2023, foram detectados 1.124.063 casos de aids. A taxa de detecção apresentou decréscimo de 20,8%, passando de 21,6 em 2012 para 17,1 casos/100 mil habitantes em 2022. No mesmo período, nota-se que essa redução foi mais expressiva no sexo feminino (37,8%) em relação ao masculino (10,8%). Em relação ao HIV, de 2007 até junho de 2023, foram notificados 489.594 casos, sendo diagnosticados 43.403 novos casos em 2022. É preciso urgência em iniciar o tratamento, seja medicamentoso e psicológico, é o que aponta o psicólogo Bruno Peixoto, que atua em uma clínica que cuida da saúde integral do homem, em Campos.
Divulgação
 
Folha - Qual a importância da campanha Dezembro Vermelho?

Bruno Peixoto - A importância do Dezembro Vermelho é a de conscientizar não somente sobre o tratamento das pessoas portadoras do HIV/AIDS e outras ISTs, mas também de informar que o apoio psicológico é importante em um prognóstico positivo. O trabalho do psicólogo ajudará a pessoa em suas questões internas, interpessoais e sociais.

Folha - Em que momento, após o diagnóstico, o trabalho do psicólogo deve acontecer? É tão importante, quanto os primeiros medicamentos?

Bruno - O trabalho psicoterapêutico deve começar o quanto antes. O momento pós diagnóstico costuma gerar sentimentos como medo, ansiedade, raiva, negação, e estes sentimentos podem se intensificar sem o acompanhamento de um psicólogo. Lidar com essa nova realidade pode ser muito estressante em uma sociedade onde há preconceito e falta de conhecimento sobre as patologias em questão. O cuidado com a saúde mental, então, torna-se ainda mais necessário. A ajuda psicológica, assim como os primeiros medicamentos, é importante, pois ambas irão promover a saúde e evitar comorbidades relacionadas às patologias.


Folha - O que é preciso esclarecer para quem descobre a infecção? A vida segue... e, em tratamento, é possível ter uma vida normal?

Bruno - Considero importante dizer que nomes como: síndrome, vírus, infecções, patologias, doenças, denominam as condições de saúde das pessoas, mas não denominam quem as pessoas são. Um diagnóstico não deve definir, estigmatizar e limitar alguém. É importante que essas pessoas se fortaleçam psicologicamente para conseguirem dar continuidade aos tratamentos necessários, cuidarem de si mesmas e de não se esquecerem de quem são.
 

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