A vida e a cultura no sertão nordestino em romance de autor campista
Matheus Berriel - Atualizado em 20/12/2023 11:35
Livro foi escrito por Carlos Eduardo Gonçalves Wekid
Livro foi escrito por Carlos Eduardo Gonçalves Wekid / Foto: Divulgação
Lançado em setembro, na Bienal do Livro do Rio de Janeiro e em evento na Academia Campista de Letras, o romance “Preso pela carne e pela alma” mescla ficção e realidade para abordar a vida e a cultura no sertão brasileiro. Em 172 páginas, o autor campista Carlos Eduardo Gonçalves Wekid menciona, inclusive, o sofrimento em meio à escravidão no campo.
Atuante como revisor de textos, Carlos Eduardo resolveu escrever o livro a partir de um conto escrito ao término da sua graduação em Letras, em 2000. Originalmente com quatro páginas, o conto que serviu como base para a obra ficou em oitavo lugar no Concurso Nacional de Contos Cidade de Araçatuba, no mesmo ano. A partir de então, a elaboração do livro foi fruto de dois anos de pesquisa, especialmente em jornais e revistas, com foco no final da década de 1990 e no início dos anos 2000.
— Li muitas matérias jornalísticas sobre as ocorrências no sertão e assisti a muitos vídeos sobre as características dos cenários. Conheci centenas de histórias de personagens da vida real para que eu pudesse me inspirar e mentalizar o personagem João, que representa o sertanejo nordestino — explica o autor.
O tema pesquisado foi debatido por Carlos Eduardo com pessoas de diferentes regiões do país. Duas delas foram essenciais para que a obra ganhasse corpo e maior relevância: o frei Xavier Plassat, coordenador da campanha nacional “De olho aberto para não virar escravo”, da Comissão Pastoral da Terra, e o padre Ricardo Rezende Figueira, coordenador do Grupo de Pesquisa Trabalho Escravo Contemporâneo (GPTEC), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Ambos, inclusive, foram escolhidos para prefaciar o livro.
“Preso pela carne e pela alma” conta a história um caboclo que vive nas cercanias de Vila Teimosa, um lugar fictício no sertão nordestino onde ainda figura o coronelismo. O personagem sonha com o trabalho de vaqueiro e é um intenso devoto de padre Cícero Romão Batista, o popular “Padim Ciço”, religioso com real prestígio no Nordeste.
Enriquecido por 21 imagens realísticas, o texto contém descrições ricas e recursos literários expressivos, sendo dividido em três partes. A primeira engloba o período de “normalidade” no sertão, quando o protagonista constitui a sua família. Na segunda, quatro anos depois e com João já tendo quatro filhos, há um longo período de estiagem, e a vida na área de Caatinga se torna ainda mais miserável. Por fim, na terceira, João é aliciado a trabalhar numa fazenda de cana-de-açúcar em outra região do país, passando por uma experiência de mão de obra análoga à escravidão.
— Embora a escravidão contemporânea seja ainda presente nos dias atuais e em várias partes do país, é um tema incipiente na literatura brasileira — destaca Carlos Eduardo. — A narrativa se caracteriza pela verossimilhança e apresenta, com todo o realismo, a vida e a cultura do sertão. Caracteriza-se também pela prosa poética, ao mostrar com grande carga de emoção dois importantes problemas nacionais: a seca e a escravidão no campo. Por considerar que sua miséria é sua fortuna, a obra traz uma reflexão sobre os valores materiais e também sobre o valor da liberdade — complementa.
Publicado pelo selo Inside, “Preso pela carne e pela alma” pode ser comprado on-line, no site do Editorial Casa, a R$ 60. Alguns trechos foram disponibilizados pelo autor em seu perfil no Instagram, @carlos_eduardo_wekid.

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