Noilton Nunes é cineasta e professor de cinema
/
Foto: Reprodução/YouTube
Após dois anos de interrupção durante a pandemia da Covid-19, a Folha da Manhã voltará a entregar, na próxima quarta-feira (9), o Troféu Folha Seca, que desde 2000 homenageia campistas de destaque nacional e/ou internacional em suas áreas de atuação. Em cerimônia marcada para as 20h30, no Teatro Municipal Trianon, o homenageado da vez será o cineasta e professor de cinema Noilton Nunes, ex-presidente da Associação Brasileira de Documentaristas, cuja obra mescla o lúdico com a crítica social. A noite também terá show de Leoni, fundador e ex-membro da banda Kid Abelha.
— Esse prêmio, justamente agora, representa muito, porque o pessoal da cultura, o do cinema especialmente, passou por muitas dificuldades nesse governo que foi embora e espero que nunca mais apareça — afirma Noilton Nunes, aos 75 anos, referindo-se à derrota do atual presidente da República, Jair Bolsonaro, no último dia 30. — A entrada do Lula em 1º de janeiro já está sinalizando muitos apoios na área do cinema. A projeção que espero que aconteça com o recebimento do Troféu Folha Seca vai me colocar com um certo destaque na corrida por apoios que o cinema vai ter a partir do ano que vem. Então, agradeço muito pela chegada deste troféu, porque vai levantar bastante o ânimo da minha equipe. Estamos com uma série totalmente preparada para começar a gravar, e estamos precisando de recursos financeiros que devem começar chegar a partir do ano que vem — complementa.
Nascido em Campos no dia 8 de janeiro de 1947, Noilton Nunes iniciou sua carreira como cineasta no Rio de Janeiro. Estreou em 1968, ainda como estudante, dirigindo o curta-metragem “Neblina”, exibido no Cine Paissandú, no Rio, e premiado no Festival de Cinema Amador do “Jornal do Brasil”. No final da década de 70, produziu o longa “Ladrões de cinema” (1977), de Fernando Campos, bem como o clássico “Na Boca do Mundo” (1979), de Antônio Pitanga, protagonizado por Norma Bengell e pelo próprio Pitanga, com cenas gravadas na praia de Atafona, em São João da Barra.
Na mesma época, Noilton dirigiu “Leucemia - O filme da anistia”, eleito o melhor curta de 1978 pela Federação Nacional de Cineclubes e pela Jornada Internacional de Cinema da Bahia. Representante do Brasil no Festival de Berlm, o filme é baseado na história real da ex-assistente social Maria das Graças Sena, que, após ser demitida por conta do seu envolvimento político durante a Ditadura Militar, foi presa, torturada e exilada para Portugal. Também foi neste período que Noilton presidiu a Associação Brasileira de Documentaristas, de 1978 e 1980. No início dos anos 80, o campista dirigiu o longa “O Rei da Vela” junto a Zé Celso Martinez, em parceria que rendeu três Kikitos no Festival de Gramado de 1983. Versão cinematográfica de um espetáculo de Zé Celso, baseado no livro homônimo de Oswald de Andrade, “O Rei da Vela” já havia representado o Brasil no Festival de Berlim em 1982, quando foi lançado. Também em 1982, Noilton dirigiu “Daime Santa Maria”, documentário gravado no Acre e no Amazonas, acompanhando expedição do Ministério da Justiça e da Polícia Federal ao seringal Rio do Ouro, para investigar os rituais do Santo Daime. Em 1983, seu filme “Caderneta de Campo” recebeu o prêmio de melhor vídeo do I Festival de Vídeo do Brasil, promovido pelo Museu da Imagem e do Som de São Paulo.
Em 2002, foi a vez de roteirizar e dirigir e “A paz é dourada”, com inspiração na vida e obra do escritor Euclides da Cunha, autor do clássico “Os Sertões”. Com Pedro Nunes, em 2004, Noilton rodou “Xingú - Você já abriu os olhos?”, documentário sobre questões indígenas no Brasil, tendo como pano de fundo o ritual do Kuarup de Orlando Villas Bôas realizado no Parque Indígena do Alto Xingú. Para os 150 anos das ferrovias no Brasil, fez “O Trem no Brasil – Ontem – Hoje – Imagine Amanhã”, de 2005. A partir de uma palestra de João Pedro Stédille, líder do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), dirigiu em 2011 o doc “Em busca da terra sem veneno”. Em parcerias solidárias, o cineasta realizou os documentários “Memórias de pedra, cal e humanidades” (2013), sobre a preservação do patrimônio material e imaterial de algumas cidades portuguesas; “A arte do Renascimento”, sobre o cineasta Silvio Tendler (2013); e “Sigilo Eterno – O filme que salvou a humanidade” (2017), um longa de ficção ecológica. Os três foram exibidos pelo “Canal Brasil”, e “A arte do Renascimento” passou pelos festivais de Brasília, Cuba e Buenos Aires.
Entre trabalhos mais recentes, Noilton lançou no ano passado “Edeor de Paula - Etnografia de um sambista. Dos Sertões ao Paraíso Perdido das Amazonas”, homenageando o autor do samba-enredo de 1976 da escola de samba Em Cima da Hora, que tem a Guerra de Canudos como tema central. Atualmente, está produzindo o longa “O médico do povo”, sobre a implantação da homeopatia no Brasil, e a série “O que era a vida?”, com episódios retratando os anos 1970 no Brasil.
Nas salas de aula, Noilton Nunes foi professor de cinema das Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha), do Serviço Social do Comércio (Sesc) e da Lente Filmes. Idealizador, criou os projetos “Que filme é esse?”, “O cineasta do mês” e “Caravanas euclidianas”, bem como as novelas interativas “Tela nossa” e “O amor por princípio”.
Tradição — Com nome alusivo a um estilo de chute criado pelo futebolista Didi, bicampeão mundial pela Seleção Brasileira e primeiro homenageado, em 2000, o Troféu Folha Seca também já foi entregue aos campistas Tonico Pereira (TV, cinema e teatro), Ivald Granato (artes plásticas), Eucimar Oliveira (jornalismo), Karla Assed (dermatologia), Gilles (estética), Eraldo Leite (comunicação), Maria de La Riva (música), Hugo Aquino Filho (empreendedorismo), Cláudia Márcia de Azevedo Jacyntho (medicina), Paiva Brasil (artes plásticas), Amarildo Tavares da Silveira (futebol), Fernanda Motta (moda), Maria Lúcia Barbosa (ourivesaria), Carlos Alberto Boeschenstein (arquitetura), Zezé Motta (música e artes cênicas), Vilma Arêas (literatura), Danilo Miranda (gestão cultural), Marcele Lemos (comércio exterior) e Aluísio Machado (música).
A entrega do Troféu Folha Seca a Noilton Nunes tem patrocínio do Grupo MPE, com apoio de Unimed Campos, Empresa Brasil, Palace Hotel, Chicre Cheme, Laboratório Plínio Bacelar e Restaurante Ponto e Vinho. A Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima participa com apoio cultural.