Cápsulas do tempo voltam a ser moda em Campos
Matheus Berriel - Atualizado em 05/07/2022 16:43
Cápsula do tempo do Museu Histórico será enterrada daqui a 10 anos
Cápsula do tempo do Museu Histórico será enterrada daqui a 10 anos / Antônio Filho
Usadas como objetos de comunicação entre gerações, as cápsulas do tempo voltaram a ser moda na planície goitacá. Desde que o Instituto Histórico e Geográfico de Campos desenterrou uma cápsula de 62 anos no Jardim São Benedito, há pouco mais de dois meses, outras duas já foram enterradas na região central da cidade: uma pela Academia Campista de Letras (ACL), sediada no próprio Jardim São Benedito, e a outra pela equipe do Museu Histórico de Campos, no Solar do Visconde de Araruama.
— As cápsulas do tempo representam uma forma lúdica de guardar um pedaço do presente para o futuro. No caso das duas que plantamos recentemente, inserimos muitas informações, de forma analógica e também digital, das atividades da Academia Campista de Letras e do Museu Histórico. De certa forma, elas também cumprem o papel de serem instrumentos de alerta às futuras gerações, para que deem continuidade às atividades e ao funcionamento das duas instituições — afirma o presidente do Instituto Histórico e Geográfico, Genilson Paes Soares.
Colocada sob o solo da sede da ACL no dia em que a mesma completou 83 anos, em 21 de junho, a nova cápsula do tempo da entidade contém informações referentes a atividades realizadas. De acordo com o presidente da academia, Christiano Fagundes, também consta no frasco a edição da Folha da Manhã de 8 de junho, em que foi publicado um artigo de sua autoria sobre iniciativas feitas nos últimos meses e projetos para o futuro, como a retomada da “Revista da Academia Campista de Letras”.
— Plantamos esta cápsula do tempo no Jardim São Benedito, próximo à entrada da academia, para ser colhida no centenário da ACL, em 2039. Na cápsula, colocamos fotos de acadêmicos, registros de momentos importantes, além de um “recado” dos acadêmicos sobre a Academia que vislumbram para daqui a 17 anos. Vivemos um momento pós-pandêmico, um “outro” tempo, e entendemos que é importante este registro para as futuras gerações, além de ser, também, uma forma de preservar a história de uma instituição que fomenta a cultura — destaca Christiano Fagundes.
No Museu Histórico, a cápsula é um pouco mais recente, tendo sido enterrada na última quarta-feira (30), quando o equipamento completou 10 anos. O objetivo é fazer o resgate daqui a uma década, no aniversário de 20 anos.
— Eu acho que é muito interessante você colocar na terra memórias do momento presente para serem desvendadas no futuro e a nova geração poder entender o que a sociedade do passado realizou. O Genilson, do Instituto Histórico, fez um trabalho de mapear e resgatar cápsulas do tempo já enterradas, esquecidas pela cidade. Esse trabalho foi fundamental. E aí, no aniversário do museu, enterramos uma cápsula do tempo com impressos e pen drives. Vai saber, daqui a 10 anos, qual será a tecnologia do momento. Mas, colocamos tudo lacrado, para preservar e verificar daqui a 10 anos. Destaco principalmente um pen drive com todo o arquivo do que a gente realizou no museu de 2012 até o seu 10º aniversário, inclusive com a programação dos 10 anos, tudo registrado em matérias de jornais e documentos — enfatiza a coordenadora do Museu Histórico, Graziela Escocard.
A moda foi retomada no dia 30 de abril, quando o Instituto Histórico e Geográfico de Campos e o grupo Graal Detectorismo desenterraram no Jardim São Benedito uma cápsula do tempo que remete ao lançamento da pedra fundamental do Teatro Joracy Camargo. Idealizado pelo escritor e memorialista Godofredo Tinoco e abraçado pelo então prefeito José Alves de Azevedo, o projeto era de um teatro municipal, cujo lançamento da pedra fundamental aconteceu em 5 de novembro de 1960. Homenageado no nome do prédio, o dramaturgo Joracy Camargo visitou Campos para a cerimônia. Porém, o teatro não saiu do papel.
A “Revista de Teatro” da Sociedade Brasileira de Autores Teatrais informou na época que a cápsula do tempo enterrada por José Alves de Azevedo era uma urna de vidro contendo a ata da solenidade, jornais do dia, a planta da cidade e moedas daquele ano. Devido à grande enchente de 1966, que chegou ao Jardim São Benedito, a maior parte do material de papel foi danificada, conforme a matéria publicada pela Folha no último dia 14 de maio. Por isso, urnas de PVC foram confeccionadas para as cápsulas do tempo da ACL e do Museu Histórico, com vedação, para evitar que o material se deteriore com o tempo.
Segundo o Instituto Histórico e Geográfico, mais de 15 cápsulas do tempo feitas no passado ainda estão enterradas em Campos. Entre estas, há algumas junto às pedras fundamentais do então Novo Hospital da Santa Casa de Misericórdia, de 1831, onde hoje está o Central Plaza Shopping; do Teatro São Salvador (1839), cujo prédio atualmente abriga a Oi Telefonia; da Igreja de Santo Antônio em Guarus (1855); do Hospital da Ordem de São Francisco da Penitência (1871), substituído por um posto de gasolina; da Estação Ferroviária Campos-Carangola (1875), hoje sede do Sesi Guarus; do Hospital da Sociedade Brasileira de Beneficência (1879), atualmente duas residências particulares; do antigo Presídio de Campos (1887), onde funciona o Presídio Feminino Nilza da Silva Santos; do Lyceu de Artes e Officios (1889), atual Colégio Nilo Peçanha; do Banco Comercial e Hipotecário de Campos (1895), hoje sede de um veículo de imprensa no Centro; da Estação Experimental de Cana-de-Açúcar (1912), atual Empresa de Pesquisa Agropecuária do Estado do Rio de Janeiro (Pesagro-Rio); da Polyclinica e Maternidade de Campos (1923), no prédio da atual Faculdade de Medicina; da Destilaria de Martins Lage (1936) e do atual Hospital da Santa Casa de Misericórdia de Campos (1941).
Apesar de a nomenclatura cápsula do tempo ser usada apenas a partir da primeira metade do século XX, trata-se de uma prática comum desde os primeiros assentamentos humanos na Mesopotâmia.
Cápsula colocada na ACL será desenterrada em 2039
Cápsula colocada na ACL será desenterrada em 2039 / Divulgação
No final de abril, Instituto Histórico resgatou cápsula de 1960 no Jardim São Benedito
No final de abril, Instituto Histórico resgatou cápsula de 1960 no Jardim São Benedito / Divulgação

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