Cápsula do tempo de 1960 é localizada e desenterrada no Jardim São Benedito
Matheus Berriel 12/05/2022 19:16 - Atualizado em 05/07/2022 14:45
Equipe Graal Detectorismo localizou a cápsula em parceria com o Instituto Histórico
Equipe Graal Detectorismo localizou a cápsula em parceria com o Instituto Histórico / Foto: Divulgação
 
Cápsulas do tempo são recipientes especialmente preparados para armazenar objetos ou informações, com objetivo de que possam ser acessados pelas gerações futuras. Apesar de esta nomenclatura ser usada apenas a partir da primeira metade do século XX, trata-se de uma prática comum desde os primeiros assentamentos humanos na Mesopotâmia. Em Campos, estima-se haver mais de 15 cápsulas do tempo enterradas, de acordo com pesquisa do Instituto Histórico e Geográfico do município. Uma foi desenterrada há duas semanas, no Jardim São Benedito, contendo objetos que remetem ao lançamento da pedra fundamental, em 1960, de um teatro que não chegou a ser construído.
— Essa cápsula do tempo estava na pedra fundamental do Teatro Joracy Camargo. O lançamento desta pedra fundamental foi um evento oficial, ocorrido no Parque Doutor Nilo Peçanha, conhecido como Jardim São Benedito, em 5 de novembro de 1960. Campos não tinha um teatro municipal, e (o escritor e memorialista) Godofredo Tinoco (então presidente da Academia Campista de Letras) convenceu o prefeito e a classe artística de Campos de se construir naquele espaço um teatro municipal e dar o nome do grande dramaturgo Joracy Camargo — conta o presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Campos, Genilson Paes Soares. — O Joracy veio a Campos no dia desse lançamento e, juntamente com o então prefeito, José Alves de Azevedo, colocou essa cápsula na pedra fundamental. Obviamente, este evento também contou com presença de Godofredo Tinoco e grande público — acrescenta.
Segundo a “Revista de Teatro” da Sociedade Brasileira de Autores Teatrais, com informações na capa da sua edição de novembro e dezembro de 1960, a cápsula do tempo era uma urna de vidro contendo a ata da solenidade, jornais do dia, a planta da cidade e moedas daquele ano.
— Por meio do Instituto Histórico, fiz uma parceria com o Graal Detectorismo para localizar a cápsula — explica Genilson Paes Soares. — A retirada se deu em quatro etapas, com espaços de duas semanas. Primeiro, fizemos o reconhecimento do local. Depois, começamos as prospecções, com auxílio do confrade Antônio Carlos Ornellas Berriel, que tinha 13 anos em 1960 e se lembra do evento. Na terceira etapa, conseguimos localizar a câmara. Após conseguirmos um “nada a opor” do Conselho de Preservação do Patrimônio Histórico e Cultural de Campos (Coppam) sobre a retirada e o translado para o Museu Histórico, fizemos a retirada no último dia 30 de abril. Infelizmente, a vedação da cápsula não resistiu à grande enchente de 1966, que chegou até o parque. Percebemos isso assim que foi feita a abertura da câmara, pois o objeto estava coberto por uma camada de barro. O material basicamente de papel foi danificado — detalha o historiador.
Uma sessão do Instituto Histórico e Geográfico de Campos, realizada na noite dessa sexta-feira (13), teve como temas o resgate da cápsula do tempo no Jardim São Benedito e a existência de outras cápsulas no município. Entre estas, há algumas junto às pedras fundamentais do então Novo Hospital da Santa Casa de Misericórdia, de 1831, onde hoje está o Central Plaza Shopping; do Teatro São Salvador (1839), cujo prédio atualmente abriga a Oi Telefonia; da Igreja de Santo Antônio em Guarus (1855); do Hospital da Ordem de São Francisco da Penitência (1871), substituído por um posto de gasolina; da Estação Ferroviária Campos-Carangola (1875), hoje sede do Sesi Guarus; do Hospital da Sociedade Brasileira de Beneficência (1879), atualmente duas residências particulares; do antigo Presídio de Campos (1887), onde funciona o Presídio Feminino Nilza da Silva Santos; do Lyceu de Artes e Officios (1889), atual Colégio Nilo Peçanha; do Banco Comercial e Hipotecário de Campos (1895), hoje sede de um veículo de imprensa no Centro; da Estação Experimental de Cana-de-Açúcar (1912), atual Empresa de Pesquisa Agropecuária do Estado do Rio de Janeiro (Pesagro-Rio); da Polyclinica e Maternidade de Campos (1923), no prédio da atual Faculdade de Medicina; da Destilaria de Martins Lage (1936) e do atual Hospital da Santa Casa de Misericórdia de Campos (1941).
— A listagem das caixas do tempo que o Instituto Histórico levantou teve como base relatos das obras dos principais memorialistas campistas. Outras importantes fontes foram os jornais “Monitor Campista” e “A República”. Futuramente, continuaremos a parceria com o grupo Graal Detectorismo em busca das outras cápsulas — comenta Genilson Paes Soares.
Para a historiadora Sylvia Paes, o ato de enterrar ou desenterrar uma cápsula do tempo simboliza uma forma de comunicação entre gerações.
— A primeira nave espacial que foi à lua, com objetivo de descer em solo lunar, levou uma espécie de cápsula do tempo. Outras naves, também com objetivo de descer em algum astro ou planeta, levam cápsulas do tempo. O sentido disso é uma espécie de apresentação de quem nós somos e do tempo em que vivemos. Em Campos, temos ainda algumas cápsulas espalhadas, e espero que a gente reviva essa moda. Na verdade, queremos deixar essas marcas de quem somos e do tempo em que vivemos. Isso é importante para as novas gerações, pois é uma forma de mantermos esse vínculo de perpetuação e continuidade tão caro a nós, seres humanos, que nos sabemos finitos. Então, as cápsulas são uma forma de nos eternizar no tempo e no espaço — enfatiza Sylvia.
Cápsula localizada foi enterrada junto a pedra fundamental do que seria um teatro
Cápsula localizada foi enterrada junto a pedra fundamental do que seria um teatro / Foto: Reprodução/Revista de Teatro - SBAT

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