Reality de confinamento
Ronaldo Junior 21/01/2023 14:01 - Atualizado em 21/01/2023 15:44
Fonte: Pixabay.
Como não se fala em outra coisa, quero aproveitar este espaço para refletir com vocês sobre o papel desse ato que abre oficialmente o ano de 2023.
 
Milhares de pessoas se mobilizaram desde o ano passado para chegar neste momento. Se inscreveram para participar, viajaram por muitos quilômetros para tentar vagas e até abandonaram suas rotinas em prol de um sonho.
 
Pode parecer loucura, mas existe toda uma mobilização a fim de gerar entretenimento para todos que assistem daqui de fora.
 
Há quem classifique como ficção, considerando que aquelas pessoas não podem agir daquele jeito no cotidiano, mas há também quem considere realidade toda aquela barbárie simulada regida pela discórdia e pela vaidosa vontade de aparecer.
 
Tudo isso extravasa o entretenimento quando reparamos que tem a ver com algo básico para o ser humano: o poder. Pessoas se expõem, se submetem a situações degradantes, longe de suas famílias e lares, unicamente pela utopia de acreditar que podem mais que outras.
 
O ideal, que muitas vezes se perde no meio de tantas informações, é perceber a dimensão humana dos envolvidos, notar como ocupam seus espaços, lutam por sobrevida, se relacionam com os demais e reagem com comida escassa, sem internet e sob constante pressão.
 
Eles sempre quiseram isso, mas agora chegam a relutar diante das adversidades, não havendo mais retorno ao que eram antes. Não dá pra simplesmente apagar toda a exposição das intimidades reviradas, das personalidades exibidas em rede nacional. Tudo fica registrado de alguma forma.
 
A humanidade é curiosa quando desnudada ao vivo por câmeras – olhos milhões – espalhadas pelos lugares mais específicos, sob ângulos inacreditáveis.
 
A única conclusão possível é que todas aquelas pessoas, confinadas por tempo ainda incerto, sairão de lá marcadas para o resto da vida pelo que fizeram enquanto todo mundo estava olhando. Canceladas ou endeusadas, levarão nas costas o legado da exposição de quem verdadeiramente são. Daqui de fora, seguimos acompanhando cada passo cientes de que eles todos mereceram entrar lá, já que imploraram pelo confinamento na porta de quartéis Brasil afora.
 
Diferente do BBB, só podemos acompanhar a primeira fase desse reality por meio das lives apocalípticas e das câmeras jornalísticas, já que a grande final tem confinamento reforçado e conta apenas com câmeras de vigilância interna. Mas o reality está longe de acabar: ainda há vagas para fazer parte do grande elenco dos atos antidemocráticos. Os nomes estão sendo divulgados todos os dias, e eles prometem dar um show de audiência.
 
*Ronaldo Junior tem 26 anos, é carioca, licenciando em Letras pelo IFF Campos Centro e escritor membro da Academia Campista de Letras. www.ronaldojuniorescritor.com
Escreve aos sábados no blog Extravio.

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    Ronaldo Junior

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    Professor e membro da Academia Campista de Letras. Neste blog: Entre as ideias que se extraviam pelos dias, as palavras são um retrato do cotidiano.