Rio Paraíba chega a 10,4 metros e água já atinge casas e invade ruas de diversos bairros
Catarine Barreto e Dora Paula Paes 12/01/2023 08:22 - Atualizado em 13/01/2023 13:44
  • Cheia do rio Paraíba (Foto: Genilson Pessanha)

    Cheia do rio Paraíba (Foto: Genilson Pessanha)

  • Cheia do rio Paraíba (Foto: Genilson Pessanha)

    Cheia do rio Paraíba (Foto: Genilson Pessanha)

  • Cheia do rio Paraíba (Foto: Genilson Pessanha)

    Cheia do rio Paraíba (Foto: Genilson Pessanha)

O rio Paraíba do Sul alcançou, às 19h desta quinta-feira (12), a marca de transbordamento, que é de 10,4 metros. Com a cheia, a população de áreas como Coroa e Ilha do Cunha já foi afetada. Em bairros de Guarus, como Parque Prazeres e Jardim Carioca, as águas já saem pelos bueiros, onde a Defesa Civil começou a colocar sacos de areia. Em outros municípios rios seguem invadindo rua, como em Itaocara, no Noroeste Fluminense. Em São Fidélis, a Defesa Civil está em estado de atenção e o nível do Paraíba ultrapassou a cota de transbordamento.
Na localidade de Três Vendas, junto à BR 356 (Campos-Itaperuna), equipes da Defesa Civil atuam, em parceria com a secretaria de Obras e Infraestrutura, desde o final da manhã desta quinta, na contenção para que as águas do rio Muriaé não cheguem à comunidade. Na localidade também estão sendo colocados sacos de areia e pedras na boca de uma galeria celular, para evitar que as águas invadam com grande intensidade a localidade, atingindo as milhares de pessoas que residem no local. Na terça-feira (10), uma galeria celular junto à rodovia também foi fechada com placa de aço.
O secretário municipal de Defesa Civil, Alcemir Pascoutto, afirma que o trabalho para mitigar impactos com a cheia do Paraíba não para, e que o nível do rio ainda deve ter mais elevação. “Em alguns pontos baixos, como na avenida XV de Novembro, e pela margem esquerda do rio, no Jardim Carioca, a água já invade a pista. Na área próxima à ponte Saturnino de Brito (Ponte da Lapa), também começa a sair água pelos bueiros das águas pluviais. Já estamos identificando alguns desses pontos, e acreditamos que o rio possa atingir a cota entre 10,45 m ou 10,50 m”, disse o secretário, lembrando que no ano passado, no momento mais crítico, a cota do Paraíba alcançou 10,90 m.
Entretanto, de acordo com Pascoutto, a abertura da barra na foz do Paraíba, no Pontal de Atafona, em São João da Barra, já possibilitou uma boa vazão da água do rio.
No comunidade da Coroa, no Caju, e na Ilha do Cunha, na Pecuária, a água do rio Paraíba do Sul já atingiu algumas casas e os moradores estão preocupados. De acordo com eles, a última assistência dada pela Prefeitura foi na segunda-feira (9), quando a secretaria de Desenvolvimento Humano e Social de Campos, em parceria com a Defesa Civil, visitou as famílias atingidas.
Marilene Cristina Abreu mora na Ilha do Cunha há seis anos e contou que a cheia do Paraíba afetou o abastecimento de água em sua casa. “Estamos sem água. Minha bomba fica no chão e está coberta pelas águas (do Paraíba). Eles alegam que dão o aluguel social, mas só dura seis meses. Depois disso, temos que nos virar e eu estou desempregada. Como faço? Estamos precisando de atenção, porque estamos sem água”, disse e acrescentou que também tem passado por outros transtornos por conta da cheia. “Estamos sem comida, sem assistência. Liguei para lá e o que ouvi foi 'estamos indo, aguarde na praça', mas só isso, não apareceram aqui. Precisamos de ajuda. Um cômodo da casa da minha filha, mais baixo, já está tomado pelas águas”, contou.
Evana Gomes Monteiro, moradora da Comunidade da Coroa há 20 anos, também contou seu drama. “Eles alegam que nos deram casa e que nós voltamos pra cá porque escolhemos. Por que eu ia escolher perder minhas coisas todo ano na enchente podendo ter meu canto em paz? Não faz sentido. Estou cadastrada, inclusive minha casa está marcada, mas até hoje não recebi casa nenhuma e permaneço nessa situação. Todas essas casas, depois da minha, são construções novas, porque as pessoas não têm para onde ir e ninguém ganhou casa para sair daqui”, disse.
O secretário da Defesa Civil destacou que está acompanhando a situação dos moradores da Ilha do Cunha e da Coroa e dando toda assistência necessária. “Oferecemos ajuda para transportar os móveis, caso a família queira ir para casa de parentes, e, se houver necessidade de retirada para abrigos, nós assim iremos fazer”, contou.
Nessa quarta-feira, o secretário recebeu a visita de representantes da Marinha do Brasil. As equipes vieram a Campos para fazer levantamento de informações estratégicas para o caso de apoio a ações realizadas pelo órgão municipal, e percorreram áreas de risco do município.
Monitoramento das chuvas e rios
Em Campos, estas oscilações eram esperadas pelo Setor de Monitoramento da Defesa Civil, e são normais nestes períodos devido às diversas influências hídricas que o Paraíba sofre no município, onde as chuvas ocorridas dentro da Bacia Hidrográfica do rio podem chegar de forma mais rápida ou mais lenta conforme as precipitações nas regiões de cabeceiras.
De acordo com o coordenador do Setor de Monitoramento, Leandro Rezende Corteze Freitas, a elevação ocorre em razão de chuvas moderadas ocorridas principalmente na região Sul do Estado do Rio de Janeiro, trazendo influência pela própria calha principal do Paraíba, assim como de precipitações em parte do Estado de Minas Gerais, que nos últimos momentos colabora de forma mais intensa através de aumentos dos níveis dos afluentes rios Pomba e Paraibuna.
Além dos impactos dados devido às chuvas em regiões afastadas da Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba, durante a noite dessa quarta também houve registro de fortes chuvas em parte das regiões Norte e Noroeste Fluminense, destacando registro de 65 mm de chuva em Itaocara, 46 mm em Aperibé e 44 mm em Santo Antônio de Pádua. Para os próximos momentos é esperado uma continuação da elevação do Paraíba em Campos com uma taxa de elevação entre 1 e 2 centímetros por hora até o recebimento desses volumes de água. Após a passagem dessas águas, a tendência é que o rio Paraíba volte a apresentar um quadro de estabilização de nível com possível queda posterior.
— Nos últimos momentos a gente tem uma taxa de elevação de 2 centímetros por hora e esse cenário deve persistir nos próximos momentos. O que ocorre é que a gente tem uma bacia hidrográfica muito grande, são cerca 57 mil quilômetros quadrados, que pega desde a região do estado do Rio de Janeiro, estado de Minas e São Paulo. Então são muitas influências e as precipitações que ocorrem nessas localidades trazem diferentes impactos para a gente. Ontem à noite tivemos uma pancada de chuva muito forte em uma das regiões mais próximas. A gente pode destacar a região de Aperibé, Itaocara, Santo Antônio de Pádua, onde teve um registro de volume de chuva entre 50 a 60 milímetros em espaço de duas horas. Esse impacto é refletido de forma muito rápida para a gente — disse Freitas, em vídeo divulgado nas redes sociais da Defesa Civil.
Dique — A Defesa Civil garantiu que as obras do dique do rio Paraíba, na avenida XV de Novembro, seguem normalmente. De acordo com o órgão, a empresa responsável está realizando a estabilização do talude e monitorando a cheia do rio. Caso haja necessidade, a empresa responsável pode fazer a contenção no local.
  • Cheia do Paraíba em SJB (Foto: Paulo S. Pinheiro)

    Cheia do Paraíba em SJB (Foto: Paulo S. Pinheiro)

  • Cheia do Paraíba em SJB (Foto: Paulo S. Pinheiro)

    Cheia do Paraíba em SJB (Foto: Paulo S. Pinheiro)

  • Cheia do Paraíba em SJB (Foto: Paulo S. Pinheiro)

    Cheia do Paraíba em SJB (Foto: Paulo S. Pinheiro)

  • Cheia do Paraíba em SJB (Foto: Paulo S. Pinheiro)

    Cheia do Paraíba em SJB (Foto: Paulo S. Pinheiro)

  • Cheia do Paraíba em SJB (Foto: Paulo S. Pinheiro)

    Cheia do Paraíba em SJB (Foto: Paulo S. Pinheiro)

  • Cheia do Paraíba em SJB (Foto: Paulo S. Pinheiro)

    Cheia do Paraíba em SJB (Foto: Paulo S. Pinheiro)

  • Cheia do Paraíba em SJB (Foto: Paulo S. Pinheiro)

    Cheia do Paraíba em SJB (Foto: Paulo S. Pinheiro)

  • Cheia do Paraíba em SJB (Foto: Paulo S. Pinheiro)

    Cheia do Paraíba em SJB (Foto: Paulo S. Pinheiro)

  • Cheia do Paraíba em SJB (Foto: Paulo S. Pinheiro)

    Cheia do Paraíba em SJB (Foto: Paulo S. Pinheiro)

  • Cheia do Paraíba em SJB (Foto: Paulo S. Pinheiro)

    Cheia do Paraíba em SJB (Foto: Paulo S. Pinheiro)

  • Cheia do Paraíba em SJB (Foto: Paulo S. Pinheiro)

    Cheia do Paraíba em SJB (Foto: Paulo S. Pinheiro)

Abertura da barra na foz do Paraíba
Existe a expectativa que o rio alcance a cota de 10,40 metros ainda nesta quinta-feira (12), mas com tendência de diminuir na madrugada. "A maré está alta e isso atrapalha a melhor vazão, mas a tendência é de que a maré diminua e a água seja aceita mais rápida pelo mar, diminuindo aqui. Essa água está passando pela nossa cidade e a tendência é diminuir durante a madrugada", informou a Defesa Civil, que segue realizando o monitoramento 24h e informando em tempo real a medição em suas redes sociais.
Cheia no Norte e Noroeste Fluminense
A cota de transbordo em Itaocara é de 5 metros e chegou a 5,18, inundando as ruas mais baixas. O rio Pomba corta a cidade, porém, nos distritos de Portela e Batatal onde ocorre o encontro do Pomba com o Paraíba, os moradores são os primeiros afetados e já havia um alerta à população por parte da Defesa Civil. Não há informação de desalojados e desabrigados, mas a Prefeitura providenciou um ponto de apoio no Ciep 275. A Defesa Civil está em alerta máximo.
Em São Fidélis, o Paraíba voltou a ultrapassar a cota de 5 metros, inicialmente, em virtude das fortes chuvas na Zona da Mata Mineira. Na manhã desta quinta, o nível do rio ultrapassou 4 centímetros do transbordo, que é de 5,70m.
 
  • Ponte de São Fidélis (Foto: Matheus Berriel)

    Ponte de São Fidélis (Foto: Matheus Berriel)

  • Ponte de São Fidélis (Foto: Matheus Berriel)

    Ponte de São Fidélis (Foto: Matheus Berriel)

  • Rio Paraíba, na Campos-São Fidélis (Foto: Matheus Berriel)

    Rio Paraíba, na Campos-São Fidélis (Foto: Matheus Berriel)

  • Rio Paraíba, na Campos-São Fidélis (Foto: Matheus Berriel)

    Rio Paraíba, na Campos-São Fidélis (Foto: Matheus Berriel)

Em São João da Barra, a preocupação é com o dique em Cajueiro. A secretária de Meio Ambiente de SJB, Marcela Toledo, gravou um vídeo para explicar a situação. "Estamos aqui acompanhando as cheias do Paraíba em Cajueiro. O rio cresce muito e a pressão sobre o dique é muito grande. O rio saiu da calha há muito tempo e está pressionando o pé do dique, e está minando para o outro lado. Estamos com as máquinas aqui para atuar. A pressão do rio é muito grande. Precisamos que a barra seja aberta e estamos trabalhando para isso, junto com a Defesa Civil, o Inea e todos os envolvidos, para que a gente consiga diminuir a pressão", informou.
Em Itaperuna, a Defesa Civil informou nesta quinta que o nível do rio Muriaé estava em 4,26m. No município, a cota de transbordo é de 4 metros. "Temos um pequeno ponto de retenção ainda atrás do antigo shopping Bittencourt, mas graças a Deus a coisa caminha para que volte a sua normalidade. Praticamente hoje, se tudo correr dentro do esperado, o rio à noite ou no início da madrugada já retorna para os 4 metros, voltando assim para dentro da sua calha. A defesa civil retorna a partir de hoje ao seu horário normal de funcionamento, das 8h às 13h, e continuamos atendendo 24 horas através do telefone 3824-6334", disse o secretário de Defesa Civil de Itaperuna, major Luz.
Em Santo Antônio de Pádua, também no Noroeste, o nível do rio Pomba estava em 6,12 metros na manhã desta quinta. A Prefeitura informou que a previsão é de que o rio continue subindo, com a possibilidade de chegar a 6,23 ainda nesta quinta. Nessa quarta-feira, o município registrou um acúmulo de 40 mm de chuva em uma hora, o que contribuiu para a elevação do rio. Ainda de acordo com a Defesa Civil do município, foram registrados deslizamentos de terra nas localidades de Salgueiro, São Pedro, São Sebastião da Cachoeira, Bairro Glória, Estrada Pádua-Paroquena, Cabri e São Félix. 
Divulgação
Estado entrega quase 3 mil itens de ajuda humanitária para municípios afetados
O Governo do Estado entregou aproximadamente 3 mil itens de ajuda humanitária para municípios afetados pelas fortes chuvas dos últimos dias. Só por meio da Secretaria de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos, foram enviados mais de 2.200 itens para Santo Antônio de Pádua, Aperibé, Miracema e Laje do Muriaé. Entre as doações estão cestas básicas, colchões e fardos de água. Nestas terça e quarta-feiras, 10 e 11 de janeiro, a Secretaria de Estado de Defesa Civil (Sedec-RJ) também fez doações para Laje do Muriaé e Aperibé. Foram mais de 600 itens, incluindo colchões, travesseiros e cobertores.

Desde a última semana, uma força-tarefa envolvendo diferentes secretarias está mobilizada para prestar assistência à população. Uma equipe técnica da Secretaria de Desenvolvimento Social realiza o cadastramento para concessão do Aluguel Social, fazendo o levantamento das famílias elegíveis para receber o Cartão Recomeçar, e cuidando da liberação de recurso emergencial para compra de insumos, provisões, entre outros serviços.

— Estamos atentos às necessidades dos municípios atingidos que precisam de suporte após os danos causados pelas chuvas intensas dos últimos dias. Outras cidades também vão receber ajuda humanitária do Governo do Estado. Seguimos atuando na prevenção e redução de danos, monitoramento e no atendimento das necessidades básicas da população afetada — diz o governador Cláudio Castro.

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