Josué Teixeira lista feitos no Americano e diz que errou em não montar time competitivo para a Seletiva
27/01/2020 19:32 - Atualizado em 07/02/2020 16:28
Após deixar o Alvinegro, treinador concedeu coletiva de imprensa nesta segunda (27)
Após deixar o Alvinegro, treinador concedeu coletiva de imprensa nesta segunda (27) / Genilson Pessanha
Um dia após ter sido anunciada sua saída do Americano, o técnico Josué Teixeira concedeu coletiva de imprensa na tarde desta segunda-feira (27), num hotel na Pelinca, em Campos. Na entrevista, apontou pontos positivos de sua passagem pelo clube, que durou um ano e 10 meses, tendo como maiores destaques o retorno à primeira divisão do Campeonato Estadual e o título inédito da Copa Rio em 2018. Sobre o momento ruim enfrentado pelo Americano, com eliminação na Seletiva e a atual lanterna no Grupo X, disse que seu grande erro foi não ter montado uma equipe competitiva. Após a derrota por 4 a 0 para o America, no sábado (25), Josué teve seu número de telefone vazado e relatou ter recebido ofensas de torcedores em grupo de Whatsapp.
Confira declarações do treinador na coletiva:
Balanço da passagem — Acho que foi um período excelente. A gente pegou o clube, em março de 2018, com várias dificuldades. Chegamos e não tinha nem uniforme para treino. Hoje, a gente deixa o clube com todo o material de treinamento; as categorias de base com todo o uniforme; bolas no saco, ainda guardadas, sem usar. Cheguei e não tinha dinheiro no clube. Trouxemos um investidor para pagar o meu salário, o dinheiro foi utilizado para pagar dívidas de administrações atrasadas. Encontramos funcionário com sete meses de salários atrasados. Hoje, os salários dos funcionários estão todos em dia. Para isso, também teve uma parte do meu sacrifício. Acabo lendo em rede social, meio sem entender, que eu tenho que largar o osso, que estou pegando dinheiro do Americano, roubando o Americano. Eu coloquei dinheiro meu para os funcionários terem salário em dia. Até hoje. A direção sabe disso, conversei isso com o (Carlos) Abreu. Num momento de crise, ano passado, quando estavam até, na época, fazendo vaquinha no Goytacaz para poder pagar os jogadores, a gente estava sem recurso. E eu tirei do meu bolso para pagar o salário dos funcionários, para que o Americano não tivesse a mesma repercussão negativa que estava tendo o Goytacaz. Hoje, a gente escuta alguns comentários maldosos de pessoas que vão para a arquibancada para usar como política, o que não ajuda em nada. Só servem para prejudicar o clube.
Melhorias no CT — Encontramos o CT totalmente desestruturado, desorganizado. Se você for no CT, hoje, ele está totalmente administrado. Fizemos um espaço novo na área da churrasqueira. Inclusive, um pré-candidato à presidência do clube se ofereceu várias vezes para ajudar em alguma coisa e nunca ajudou em nada. Vivem muito de falar, e não fazem nada. Promete, promete, promete, e nem um palito de fósforo é ajudado. Para que se saiba, também foi com meu dinheiro para fazer o telhado da churrasqueira. Eu coloquei lá para fazer. Botei dinheiro para reparar as máquinas da academia, que estavam com um problema lá. Isso para as pessoas que falam que eu estou chupando o osso do Americano. Eu botei o filé lá. Acho injustos os comentários, mas a gente não tem como pontuar as pessoas. Elas têm ou não têm caráter. Não existe mau caráter. Ou você tem ou não tem. Eu, felizmente, tenho caráter. Nunca falei nada disso para ninguém, nunca joguei para a imprensa ou torcida, sempre posicionei à direção.
Elogios a Carlos Abreu — O presidente Carlos Abreu é uma pessoa digna, honesta. Acho que o Americano vai perder muito se ele sair do clube. Essas pessoas que se dizem Americano tinham que fazer, hoje, uma força tarefa e tentar segurar o Carlos Abreu por mais tempo possível, porque é uma pessoa super digna. Digo sem a menor dúvida: foi o melhor presidente com quem trabalhei. Nunca trabalhei com uma pessoa tão honesta quanto ele.
Números — Você faz 66 jogos. São 33 vitórias, 21 derrotas e 12 empates. Acho que é uma marca importante. Você passar 22 meses em um clube e ter 21 derrotas em 66 jogos, isso é muito importante. Fazer 45 jogos pontuando, isso é importante. Mas, friamente, você vê os últimos resultados e as coisas não agradaram tanto.
Pós-eliminação — Como eu tenho caráter, não sou um cara de me esconder de nada, na eliminação contra o Friburguense, que para mim foi a mais dolorosa de todas; a maior decepção da minha carreira, reafirmo isso; eu não me escondi. No dia seguinte fui ao presidente e, mesmo já tendo proposta de outro clube; no sábado mesmo recebi proposta para sair daqui; eu entreguei o cargo e falei que não ia para lugar nenhum, que ia para casa. O presidente não aceitou.
America 4 x 0 Americano — Foi um absurdo. Perder de 4 a 0, como eu li de uma pessoa ligada ao clube, “vergonhoso”. Uma pessoa que vende a imagem do clube, mas está na rede social postando coisa contra o clube. Não é bom. Um jogo que a gente dominou o tempo inteiro e toma quatro gols. É difícil de explicar. Agora, quem estava presente, viu. Quem não estava presente faz qualquer tipo de comentário. Inclusive, quem estava presente fez comentários absurdos para fazer a parte política. Não tem como afastar o psicológico do futebol. A gente viveu um luto grande pela decepção do jogo em Friburgo, não tinha como. Mas, hoje o ambiente está natural, os jogadores motivados. Fizemos um grande jogo contra o America. Aí você leva três gols de bola parada... É do jogo, mas aí entrou a desatenção. Se você pegar o vídeo do jogo, vai ver o quanto mais o Americano controlou a bola. Parece que no primeiro tempo, falaram, tinha 61% de posse de bola contra o America. Ganha jogo? Não ganha jogo. Muita gente fala que o Josué só coloca um time reativo, que rouba a bola e joga no contra-ataque. Não, a gente teve posse de bola o tempo todo e não ganhou.
Formação de atletas — Esse meu período de 22 meses teve muito mais coisas positivas. Tem as parcerias das categorias de base com Flamengo e Vasco, tem três jogadores no Grêmio, tudo com percentual para o Americano, coisa que não acontecia. Os jogadores saíam do Americano roubados, mas ninguém fala, é legal. É bom ser desonesto em alguns lugares, pelo visto, mas não é o meu perfil. Em março, vão mais dois para o Grêmio. Antes ou depois do Carnaval, estou esperando a data do Fluminense, vão quatro para Xerém, que vão sair da escolinha de Campos. Muitas coisas que as pessoas falam que eu não fiz, está tudo envolvido. O Josué não era só o treinador de futebol.
Decisão da saída — Tenho convicção de que o Americano não vai ser rebaixado. Também, quando o presidente conversou comigo, fui muito claro. Disse que não dá, o ambiente não está mais legal. Não posso ir para um jogo importante como esse e não ter ninguém da direção. Tem coisas que a gente tem que pontuar e colocar um limite. Não dá mais para o Josué. Vou continuar apoiando o Americano. Temos tratativas para receber o percentual da venda do Diogo para o Flamengo, eu que tive que fazer os contatos, providenciar o e-mail, essas coisas todas. O que ainda cabe a mim como gestor, saindo, é terminar as negociações que estão encaminhadas. Não é para o Josué receber, é para o Americano ter o seu resguardo de documento necessário para o futuro.
Vazamento de informações — Quando a gente foi eliminado pelo Friburguense, era clara, nítida e notória a insatisfação de parte da direção. Natural. O Americano teve um sofrimento grande em Friburgo também contra o Goytacaz, teve uma repercussão grande. E repetir tudo isso, você acaba tendo uma ferida, acaba mexendo com todo mundo. Eu senti uma dor. Para eles, que estavam na segunda passagem de sofrimento, aumenta a dor. Era natural a insatisfação com os resultados de campo. Acabaram acontecendo conversas. E aí começam a vazar notícias. Isso não é bom, porque eu nunca vazei nenhuma notícia do clube. Mas, cada um sabe. Tenho a minha responsabilidade. Sei aquilo que eu faço, que eu falo e o que posso fazer. Mas, não posso responder pelas outras pessoas.
Pela porta da frente — Quando acabou o jogo, eu estava só aguardando a ligação do presidente para falar como foi o jogo e chegar num (consenso). O presidente não queria que eu saísse. Tentou ainda, a gente conversou ontem (domingo, 26) de novo. Mas, chega num momento que não dá. É melhor você sair com a cabeça tranquila, falando com todo mundo, recebendo mensagens das pessoas do que sair fechando a porta, que não é o meu caso. Não quero pular a janela nem sair pela porta do fundo. Quero sair pela porta, naturalmente, como eu entrei aqui no Americano.
Erro na montagem do elenco — Você nunca contrata para dar errado. Eu acho que nós fizemos boas contratações com jogadores que não deram certo. O Rogerinho é um jogador que trouxemos para ser o camisa 10, ser um cara diferente, pelo histórico dele já de grande jogador, e ele não deu resposta. Só que ele já foi para o último jogo com pré-contrato com outro clube. Você só toma ciência depois. Há outras situações de outros jogadores com propostas já para sair e fazer um calendário inteiro. Fazer a Seletiva é muito difícil. Vou fazer uma mea culpa: eu escolhi o perfil errado. É a minha terceira Seletiva. Em todas as Seletivas, você tem que fazer uma equipe tipo (para a Série) B1: guerreira, voluntária. Se você pegar os jogadores super técnicos, eles não vão competir na Seletiva. Foi o grande erro que eu tive. Daniel Farias nem jogou, participou de 15 minutos contra o (sub-23 do) Corinthians (em jogo-treino). É um jogador que a gente apostou na contratação. Meu grande erro foi não montar uma equipe competitiva.
Resposta a críticas — O Americano está recuperado, tem uma equipe basicamente encaminhada. Torcer para os meninos permanecerem. Aí entra outro debate de que o Josué perdeu o vestiário. São pessoas que nunca frequentaram o CT... Eles nem imaginam que cor está a parede, e falam que eu perdi o vestiário. Se pegar meu Whatsapp, o que tem mensagem de jogador que nem está aqui, só para agradecer o período em que esteve comigo, o aprendizado como jogador e homem. Sempre falei com eles que não quero estar preocupado só em recuperar jogador; quero trabalhar o homem. Quero que ele saia de um trabalho comigo de dois anos como um homem de verdade, que assuma suas consequências. Felizmente, tive essa resposta.
Futuro profissional — Um clube já me procurou querendo conversar para a gente ver uma situação. Estou me preparando para, no futuro, sair do campo e ser só um gestor, ficar na parte de administração de clube. No momento, continuo como treinador. Se eu chegar num clube em que tenha necessidade de fazer as duas funções, vou fazer. Mas, a ideia ainda é ser treinador e, no futuro, pegar como gestor.
Amizade mantida — Não tem nada de que Josué está magoado, chateado. Isso é coisa do futebol. A gente vai entrar e sair de clubes. Sempre faço uma questão: tenho que sair pela porta da frente, da mesma forma como entro. Não ia ser diferente no Americano, com certeza não foi. Continuo amigo deles todos (da diretoria), sem o menor problema.
Saio de cabeça erguida. Acho que fiz um grande trabalho no Americano, não tenho a menor dúvida disso. Estou deixando o Americano muito melhor do que quando encontrei. Tomara que chegue um profissional com mais capacidade ainda para melhorar o clube.
Telefone vazado — A gente lamenta que, às vezes, as pessoas vazem o teu contato pessoal para a torcida criar um grupo de Whatsapp e ficar te hostilizando, ofendendo. Isso é bem comum em ano político, com pessoas que têm maior interesse em prejudicar o Americano e não criar alguma coisa construtiva.
Seletiva — Todo mundo sabe como é a Seletiva. Joguei três Seletivas, passei em duas. Na última, fiquei na última rodada, pelo saldo de gols, em um jogo horroroso, feio. Vai acabar, só tem mais uma Seletiva agora. Quem for, tem que fazer um time competitivo. A grande diferença é essa. É um curto período. Jogadores de qualidade não querem vir, porque querem fazer um Campeonato Carioca, Paulista, com a sequência toda, não querem correr o risco. E aí você tem que ter uma equipe competitiva que vá lutar e brigar pelo resultado, independente do que seja. Que vai estar disposta. Foi isso que tivemos na vez passada, foi isso que tive com o Macaé. Bem limitado, mas que todo mundo queria a mesma coisa. Aí, é muito mais fácil. Quando você pega jogadores com outro perfil, outra cabeça... De novo: esse foi o meu grande erro.

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