Cabral diz que esquema de propina começou no governo Garotinho
03/02/2020 19:33 - Atualizado em 19/02/2020 16:47
O ex-governador Sérgio Cabral (MDB) afirmou, em depoimento na Justiça Federal do Rio de Janeiro, nesta segunda-feira, que os seus antecessores no cargo, Anthony e Rosinha Garotinho, começaram um esquema de arrecadação de propina de empresários que cobraria até 20% de empresas com contratos com o Governo do Estado.
No depoimento, Cabral relatou que o também ex-governador Luiz Fernando Pezão (MDB) – então seu vice e secretário de Obras – ajudou a estruturar o esquema, que teria passado para o valor de 5% durante sua administração. As declarações fazem parte das investigações da operação Boca de Lobo, pelo qual Pezão chegou a ficar preso por quase um ano.
— Antes, eram 15% a 20% pagos aos governos anteriores da Rosinha e (Anthony) Garotinho. Eu estabeleci junto com Pezão o percentual de 5%: 3% para o meu núcleo, 1% para o núcleo dele, que era a secretaria de Obras, e 1% para o TCE (Tribunal de Contas do Estado), para aprovação das licitações — disse Cabral.
Cabral disse ainda que Pezão foi o inventor da chamada “taxa de oxigênio”, mas que esta propina estava englobada nos 5% cobrados dos valores.
— O vice-governador Pezão participou da estruturação dos benefícios indevidos desde o primeiro instante do nosso governo (da organização criminosa). Desde mesmo da campanha eleitoral e durante os oito anos em que fui governador e posteriormente tenho algumas informações a respeito (da continuidade do esquema)”, disse Cabral.
O ex-governador disse também que recebia uma mesada de R$ 500 mil da Fetranspor. Em abril de 2014, ao renunciar ao cargo para o sucessor, afirmou que Pezão deveria receber. Além disso, Pezão teria recebido R$ 30 milhões só da Fetranspor para a campanha a sucessão.
— Foram R$ 30 milhões (da Fetranspor) para o governador Pezão para sua estrutura (de campanha) e R$ 8 milhões para meus deputados a quem eu tinha interesse de ajudar. Quando chegou em 2015, Pezão me procurou para me ajudar financeiramente, ele se ofereceu. (...) A campanha dele chegou a R$ 400 milhões, então teve sobra de caixa e ele me ofereceu. Essa situação (do repasse de Pezão a Cabral, de R$ 500 mil) ficou quatro, cinco meses em 2015”.
Pezão também prestou depoimento, quando negou as acusações feitas pelo antecessor. “Me desculpe o desabafo, mas é a primeira vez que tenho chance da falar. Fui tirado dali do Palácio Laranjeiras e jogado na cadeia. E minha família passando por isso tudo. É uma inverdade, uma mentira grande (o que o Cabral disse).
Em outro depoimento, em agosto do ano passado, Cabral afirmou que Garotinho também recebia propina da Fetranspor. “Com o dinheiro da Fetranspor, Garotinho comprou a TV Band no Sul Fluminense. Usa uma pessoa chamada Mauro como um testa de ferro, tem um jornal em Campos, O Diário, que é do Mauro mas na verdade é dele (Garotinho), e eu continuo presidente da Alerj cuidando da caixinha da Fetranspor nesse período”, relatou Cabral.
Em postagem nas redes sociais, Garotinho negou as acusações de Cabral. “Hoje, em depoimento ao juiz Marcelo Bretas, Sérgio Cabral confessou alguns de seus crimes e a participação de seu vice, Pezão, em alguns deles. Seu ressentimento em relação a mim e a Rosinha ficou evidente ao afirmar que ‘diminuiu a taxa de corrupção antes praticada’. Se tem alguma prova contra mim deve entregá-la ao Ministério Público, como fiz em relação a ele seus comparsas. Não respondo a nenhum processo na Lava Jato, apenas ações movidas pela Justiça de Campos, por perseguições de grupos locais”. (A.S.) (A.N.)

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