Nova perícia na Usina Cambaíba
Aldir Sales 17/02/2020 22:31 - Atualizado em 10/03/2020 14:49
A Comissão Especial sobre Mortos e dos Desaparecidos Políticos (CEMDP) marcou para quarta e quinta-feira (20) uma inspeção no antigo parque industrial da Usina Cambaíba, em Campos. O presidente da CEMDP Marcus Vinícius Carvalho e um perito do Instituto Médico Legal Afrânio Peixoto vão acompanhar a missão, que terá como objetivo analisar a versão do ex-delegado do Departamento de Ordem Política e Social (Dops) Cláudio Guerra, que afirmou que utilizou os fornos do local para incinerar os corpos de 12 presos políticos, entre 1973 e 1974, durante a ditadura militar. O advogado Carlos Alberto Senra, que representa a família do proprietário à época, o ex-deputado Heli Ribeiro Gomes, disse que entrou com recurso no Tribunal Regional Federal (TRF) para incluir novamente a usina no processo: “queremos provar, como vamos provar, que não aconteceu nada do que o Cláudio Guerra falou”.
No ano passado, o Ministério Público Federal (MPF) concluiu um inquérito em que afirma, com base no depoimento de Guerra e na investigação de documentos, que houve a incineração dos corpos no local. Um deles seria, de acordo com o MPF, Fernando Santa Cruz, pai do presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, Felipe Santa Cruz.
A versão de que o corpo de Santa Cruz teria sido incinerado em Cambaíba não é a única. A Comissão da Verdade aponta também a possibilidade dele ter sido sepultado em vala comum, no Cemitério do Perus, em São Paulo.
Cláudio Guerra foi denunciado por ocultação e destruição de cadáveres pelo MPF. O ex-delegado informou que sugeriu o forno da usina Cambaíba como forma de eliminação sem deixar rastros, dado que já utilizava a usina e seus canaviais para desova de criminosos comuns. Foi realizada em 19 de agosto de 2014 uma reconstituição no local, com a presença de Cláudio Guerra, com a confirmação de que a abertura dos fornos era suficientemente grande para a entrada de corpos humanos, de acordo com o MPF.
A defesa da família Ribeiro Gomes alega na época da moagem, os fornos funcionavam 24h por dia e que seria impossível de ninguém ficar sabendo de eventuais corpos. Em 2012, o promotor Marcelo Lessa, do Ministério Público estadual, decidiu por arquivamento de inquérito, após não encontrar elementos suficientes.
— O juiz tinha determinado a guarda e vigia do local por parte da família, mas o antigo parque industrial da usina não pertence mais à família Ribeiro Gomes. Ele foi arrematado em leilão por uma empresa de São João da Barra, que foi incluída no processo. No entanto, a Usina Cambaíba foi excluída. Mas nós queremos voltar a fazer parte desta ação para podermos provar que o que não aconteceu nada do que o Cláudio Guerra disse. A usina não foi notificada, mas entramos com pedido para o adiamento desta missão do CEMDP — disse o advogado. 

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