No Dia da Mulher, pedido é por mais direitos do que flores
Camilla Silva 07/03/2020 09:20 - Atualizado em 10/03/2020 14:42
No Dia da Mulher, pedido é por mais direitos do que flores
No Dia da Mulher, pedido é por mais direitos do que flores / Divulgação
Neste domingo, 08 de março, em que se comemora o Dia Internacional da Mulher, as homenageadas talvez desejem um ação diferente. Flores, bombons e saudações podem até alegrar o dia, mas as mulheres entrevistadas pela Folha listaram demandas que consideram urgentes, como o fim da violência, a abertura de espaço e o respeito às diferenças de cada uma. Em comum, muitas relatam o cansaço de precisar sempre lutar por tais direitos.
— Sou empresária, mãe, filha, irmã, amiga, avó. Sou tantas outras coisas que não consigo me definir por inteiro, e nem tenho esse objetivo. Meu grande desafio é ter meu lugar em uma sociedade extremamente machista, preconceituosa e corrompida eticamente. Quero ter o direito de escolher ser o que eu quiser! Não tenho medo da fome (dessa eu já ganhei), mas tenho pavor do preconceito rebuscado em frases de efeito — afirmou a empresária Andrea Machado, de 47 anos.
Entre outras reclamações, a necessidade de se impor para ser respeitada. “Ser mulher é cansativo. Ter de se impor o tempo todo, lutar por direitos básicos, como salários iguais. É ter de provar o tempo todo que é competente no que faz, gritar para ser ouvida, ficar exigindo respeito todas as horas do dia e da noite, viver com medo (os números de feminicídio estão aí para não nos deixar mentir) — afirmou a professora de letras Gizelya Morais, de 31 anos.
Essa também é a percepção de Camila Santos, 19 anos, estudante de Direito e Geografia. “Um grande desafio que ocorre comigo, e acredito que com a maioria das mulheres, e que eu detesto profundamente é o de ser testada, geralmente por homens, sobre determinado assunto que eu falei que gosto ou domino, como se só depois de provar para ele que sei é que meu conhecimento ganha validade”, declarou.
A representatividade de mulheres nos espaços de poder também é um assunto em destaque e que, inclusive, é tema de palestras nesta segunda-feira (9), às 18h30, na 12ª Subseção da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), em Campos. Apesar de a legislação prevê cota de 30% das mulheres nas legendas e que os partidos destinem ao menos 30% dos repasses de campanha a candidaturas femininas, as mulheres ocupam apenas 15% das vagas no Congresso Nacional. Na Câmara de Campos, são quatro mulheres entre 25 vereadores. No Norte Fluminense, entretanto, elas são as responsáveis pelo Executivo em quatro das nove cidades: Carapebus (Christiane Cordeiro, PP); Quissamã (Fátima Pacheco, DEM); São Francisco de Itabapoana, (Francimara Barbosa Lemos, SD); e São João da Barra (Carla Machado, PP).
Eventos marcam data com reflexão e ações
A programação para o Dia Internacional da Mulher, da secretaria municipal de Desenvolvimento Humano e Social, prossegue até o dia 19, com diferentes atividades. Dia 16, haverá palestra no auditório da Prefeitura para os funcionários do Centro Administrativo José Alves de Azevedo, aberta ao público. Dia 18, O Centro de Referência Especializado da Assistência Social (Creas) reunirá suas assistidas para tratar do tema “Mulher, empoderamento e autonomia”. Já no dia 19, o Centro de Referência da Assistência Social (Cras) de Goitacazes fará uma oficina com a temática às 14h. No mesmo horário, o Creas 2 também promoverá palestra sobre Empoderamento Feminino na Contemporaneidade.
Secretária da pasta, Pryscila Marins diz que, na rede de Proteção Social Básica, o trabalho acontece de forma a se antecipar à ocorrência de situações de risco a que estão sujeitos os grupos populacionais que sofrem discriminações, incluindo as mulheres que vivem em situação de vulnerabilidade social, bem como diante de vínculos afetivos fragilizados. O trabalho de prevenção acontece por meio do desenvolvimento de potencialidades.
A força feminina de poder estar com quiser
Glaucia Fernandes é operadora de guindaste do Terminal Multicargas do Porto do Açu, a única mulher que atua na área de operações de guindaste. Ela é casada, tem dois filhos, uma adolescente de 14 anos e um menino de 2 anos e 8 meses, e mostra a força feminina de poder estar onde quiser. “Os meus colegas de trabalho me tratam muito bem. Me respeitam e, mais que isso, se eu tiver alguma dificuldade, me auxiliam. Não sinto nenhum preconceito, não tem piada. Acho isso muito importante”, explicou.
Mas essa não é a sensação em todos os lugares. Lays Campos é aluna do curso de Engenharia Elétrica do Instituto Federal Fluminense e tem 22 anos. Ela é administradora de um grupo de whatsapp que reúne as mulheres que atuam na área dentro da universidade. “O nosso grande e real desafio é conseguir se desenvolver como mulher sem a surpresa da sociedade ao visualizar uma mulher cientista. A média é de 5 mulheres para uma turma de 40 alunos, mas na última seleção não tinha nenhuma caloura. A engenharia ainda é vista por muitos como um lugar sem mulheres. Que exige força e inteligência masculina, por isso temos muito para fazer nessa área da ciência”, explicou.
Um pesquisa que ela realizou com 14 estudantes apontou que 64,3% das participantes já sentiram prejudicadas dentro do curso por causa do gênero e mais da metade - 57,1% - não faziam parte de nenhum projeto da instituição. O trabalho será apresentado nos dias 13 e 14 de março no I Simpósio Mulheres em STEM (sigla para Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática no Instituto Tecnológico de Aeronáutica.
 

ÚLTIMAS NOTÍCIAS