Restauração das torres da sede da Lyra de Apollo é concluída
Matheus Berriel 25/09/2020 13:56 - Atualizado em 26/09/2020 12:29
Maestro Ricardo de Azevedo acompanha colocação das peças
Maestro Ricardo de Azevedo acompanha colocação das peças / Foto: Rodrigo Silveira
 
Com 150 anos completados em maio, a Sociedade Musical Lyra de Apollo, considerada patrimônio cultural pelo Conselho de Preservação do Patrimônio Histórico e Cultural de Campos dos Goytacazes (Coppam), deu-se um presente na última quarta-feira (23) com a conclusão de mais uma etapa da obra de sua sede histórica. Foram colocadas pelo restaurador João Batista Teixeira as extremidades das liras no alto das duas torres do prédio, atingido por um incêndio em 1990.
— No incêndio, houve perda total das peças originais, mas existem fotos. Através das fotografias do acervo do maestro Ricardo de Azevedo, foi feito o projeto das liras, por uma engenheira do Rio, a Silvia Puccioni. E, através deste projeto, nós executamos a volumetria, com solda, os cortes, montagem... As peças são todas de zinco — afirmou João Batista Teixeira. — No início, foram uns oito meses trabalhando em meu ateliê, no Rio. Quando eu trouxe para cá, começamos a montá-las nas torres, que já estavam prontas (em fevereiro de 2019). Colocamos as duas liras, e ficaram faltando as extremidades, que são as vértices das torres. Assim, finalizamos agora as torres. Ao todo, foram aproximadamente 18 meses de trabalho — completou o restaurador.
Tombada pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac), a sede da Lyra de Apollo, situada à praça do Santíssimo Salvador, no coração de Campos, começou a ser reformada em 2012. De acordo com o maestro Ricardo de Azevedo, presidente da banda desde 2008, já foi investido mais de R$ 1 milhão, totalmente com recursos da entidade, oriundos dos aluguéis de dois pontos comerciais, além de dinheiro do próprio Ricardo e de outros integrantes. Atualmente, apenas um dos pontos está alugado, abrigando uma padaria, enquanto o outro também passa por reforma.
— Concluir mais esta etapa da reforma da sede histórica é uma grande vitória, porque é uma obra difícil e cara. Para realizar uma obra dessa usando apenas recursos próprios, juntando cada tostão do nosso único meio de renda, que são os aluguéis, e ainda conseguir fazer tudo isso, não é qualquer diretoria que consegue desenvolver um trabalho desse. Não há ajuda do Inepac, não há ajuda do Coppam... Nunca tivemos ajuda de ninguém, nada disso, nem tampouco políticos da região nos deram nada — lamentou o presidente da Lyra de Apollo.
Entre as etapas já feitas estão incluídos gastos com telhado, assoalho, estrutura metálica, escada, barroteamento, projeto de incêndio, entre outros. O próximo passo será reformar detalhes da parte interna do prédio, como as paredes, para em 2021 priorizar a restauração da fachada.
— Almejar essa obra toda completa é um sonho, porque comecei aqui ainda criança. Estou com 81 anos. Comecei a tocar na banda aos 14. Já andava por aqui antes. Então, acompanhei a evolução histórica da banda. Quando isso tudo foi destruído, foi uma tristeza para a minha vida. Se hoje sou músico militar, devo à Lyra de Apollo, porque foi onde eu aprendi a música. Hoje, estou dando à Lyra de Apollo o retorno do que recebi dela — relatou o maestro Ricardo. Segundo ele, a entidade conta atualmente com cerca de 25 músicos. A filiação ao grupo é gratuita, como também são as aulas oferecidas ao público, no momento paralisadas devido à pandemia da Covid-19.
Fundada em 1870, a Lyra de Apollo passou a ocupar o prédio em que se encontra, com arquitetura eclética, a partir de 1912. “Infelizmente, em 1990 houve um incêndio que pôs a perder boa parte da estrutura. Mas, com o esforço e o apoio dos músicos da própria Lyra e da sociedade campista, a gente percebe que ela está conseguindo se reerguer”, comentou o diretor geral do Inepac, Cláudio Prado de Mello.
De acordo com Cláudio, após ser informado em março, via ofício, do projeto de incêndio que estava sendo providenciado pela presidência da Lyra, o Inepac tentou realizar vistoria em maio, mas não obteve êxito. “De qualquer forma, enviamos um ofício pelo correio e não obtivemos resposta. Dentro dessa tratativa, a gente está com uma questão de, justamente, fazer o acompanhamento das intervenções que estão sendo realizadas, no sentido de o Inepac, como órgão gestor, poder contribuir para a excelência que a gente tem certeza que é o objetivo da Lyra na restauração e na recuperação deste prédio”, afirmou o diretor do órgão estadual.
Cláudio disse ainda que a Lyra de Apollo será uma das entidades beneficiadas com a instalação em Campos do escritório técnico do Inepac no Norte Fluminense. “A gente está nos últimos momentos para a criação e o estabelecimento do escritório técnico, exatamente no Museu Histórico de Campos e, portanto, em frente à Lyra de Apollo. Vamos ter um arquiteto muito capacitado contratado para dar assistência não só à Lyra, como a todos os bens de Campos e aos outros todos que vão ser tombados nessa sequência. O Inepac se coloca à disposição. Em qualquer emergência, a gente fica à disposição pelo telefone de Brigada do Patrimônio, que atende 24h, pelo número (21) 98913-1561”, concluiu o dirigente do Inepac.
Também consultada, a Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima (FCJOL) informou em nota ter “o maior respeito e orgulho do patrimônio cultural de Campos, incluindo as bandas centenárias, mas a Prefeitura é impedida de realizar intervenções em prédios particulares, como é o caso do prédio da Sociedade Lyra de Apollo”. Foi ressaltado que “o prédio se enquadra e é beneficiado pela lei 8.487, que permite que o poder público municipal, com a concordância do Coppam, reduza o IPTU dos bens imóveis tutelados, protegidos/preservados e/ou tombados sempre que for indispensável à manutenção do bem”. Sobre a realização de projetos, a Prefeitura alegou se manter “aberta ao diálogo e a novas possibilidades, como estabelecer parcerias com a iniciativa privada, visto que o município vem atravessando queda de arrecadação”.
Ajustes finais em uma das torres do prédio da Lyra de Apollo
Ajustes finais em uma das torres do prédio da Lyra de Apollo / Foto: Rodrigo Silveira

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