Educação fora das salas de aula
Camilla Silva 04/04/2020 20:17 - Atualizado em 12/04/2020 11:16
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Ana Flávia criou uma rotina de estudo para o filho Lucas, mas diz que ele, como o irmão Arthur, ENTITY_quot_ENTITYquer aulas ao vivoENTITY_quot_ENTITY / Rodrigo Silveira
Alunos do ensino infantil ao universitário, professores, diretores e famílias. Desde as últimas semanas, todos que fazem parte da comunidade acadêmica parecem estar correndo atrás para tentar entender a nova realidade imposta pelo necessidade de distanciamento social em tempos de coronavírus: estudar fora da sala de aula. Escolas e faculdades particulares saíram na frente, mas, mesmo nelas, o momento é de adaptação. Na rede pública, o estado do Rio de Janeiro também implantou o novo sistema, enquanto outras instituições descartam esse tipo de atividade no momento.
Mãe de duas crianças em idade escolar, a auxiliar de serviços gerais Ana Flávia Batista da Silva, de 38 anos, conta que os filhos reclamam de não irem à escola, mas que conseguiu estabelecer uma rotina de estudo. “Artur tem 4 anos e está no Jardim II, já o Lucas tem 8 e está no 3º ano do Fundamental. Eles não têm muito costume de ficar no computador, então estamos tentando e se adaptando ao novo sistema. A gente senta para fazer as atividades que chegam das professoras. Conseguimos um horário bom para fazer isso porque eu também fui liberada do trabalho. Mas eles sentem muita falta da escola, falam que não aguentam mais ficar em casa”, afirmou.
Aluna de Direito de uma universidade particular, Léria Nunes diz que pensou em trancaro período: “Disponibilizam os vídeos das aulas e, se não tenho problema de acesso ou estou trabalhando, consigo assistir. Mas nunca quis fazer nada no formato de Ensino a Distância e, por mais que eles falem que não é EAD, é estranho. Percebo que alguns professores estão tentando se adaptar também e estão tendo a mesma dificuldade”.
Carla lembra que acesso à internet não é universal
Carla lembra que acesso à internet não é universal / Rodrigo Silveira
No campo pedagógico, Carla Sarlo fala sobre as vantagens do uso da tecnologia, que pode tornar o processo de aprendizagem mais interessante e atrativo, mas ressalta que isso requer uma reorganização organizacional e que não adianta transmitir a mesma aula que seria dada presencialmente: “atividades e avaliações precisam ser diferentes”.
— Para uma aula virtual com interatividade, que é o que a gente precisa, é necessária uma plataforma, aplicativos, internet, computadores, celulares. Mas nem todos os alunos possuem e nem todos tem acesso a internet. Além disso, muito professores não estão treinados. Hoje a escola pública não está preparada para isso — defendeu a pedagoga.
O modelo da rede estadual de ensino foi anunciada pelo secretário estadual de Educação Pedro Fernandes. “Na melhor das hipóteses essa situação deve se manter por até três meses. A gente sabe que nada pode substituir a presença do professor na sala de aula, mas nós estamos em lidando com uma crise, estamos tendo fazer o melhor possível”, afirmou o secretário.
— Os alunos assistem à aula e ficamos a disposição deles em grupos de whatsapp. Alguns pais reclamam, dizendo que os filhos não têm suporte em casa para assistir às aulas e que queriam aulas ao vivo — relata uma professora da rede particular que pediu para não ser identificada.
Método descartado para cursos presenciais
Para tentar suprir a lacuna deixada pela suspensão das aulas durante a quarentena para combater o coronavírus, o secretário estadual de Educação, Pedro Fernandes, emitiu, há cerca de 15 dias, circular autorizando implantar de imediato o modelo de Educação à Distância para os alunos da educação básica e superior em todo o estado.
O Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação (Sepe-RJ) se posicionou de forma contrária à medida. “O Sepe/RJ reafirma sua posição de preocupação com as condições de trabalho dos profissionais de educação frente a proposta do secretário Pedro Fernandes de imposição das chamadas aulas on line na rede estadual. Até agora a Seeduc não apresentou nenhum documento oficial regulamentando a política educacional para rede nesse tempos de pandemia, se restringindo a informações extra oficiais divulgadas na imprensa e pelas redes sociais. O Sepe insiste que tais atividades não devem ser consideradas dias letivos e reafirma a necessidade de uma audiência com o secretário Pedro Fernandes para tratar da temática”.
A Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf) descartou a utilização do método para os cursos presenciais neste momento e informou que a modalidade de Ensino a Distância- EAD somente poderá ser executada nas situações nas quais esta modalidade de ensino já é prevista nos projetos pedagógicos, conforme a legislação em vigor.
“Neste período, no qual se recomenda o distanciamento social, o uso das mais diversas formas de Tecnologias de Informação e Comunicação – TICs, para manter o relacionamento com os estudantes e/ou promover e difundir experiências e estimular a formação do conhecimento científico será estimulado. A modalidade de EaD é muito mais complexa, na sua estrutura e conceito, que o simples uso das TICs como apoio ao ensino”, defendeu a universidade.
Sem treinamento para uso das ferramentas
Quem trabalha com ensino presencial conta que a transposição para aulas virtuais é um desafio. “Desde a primeira semana de quarentena estamos usando a plataforma do sistema de ensino da escola (que não suporta a quantidade de material), além do Google Sala de Aula e um aplicativo de webconferência. Tem sido problemático, porque ninguém estava capacitado com as ferramentas. Há professores mais velhos que mal sabem lidar com um celular. A impressão é que estamos trabalhando o dobro, mas o resultado para o aluno não está sendo satisfatório”, contou uma profissional de uma escola particular.
A Secretaria de Estado de Educação e o Google For Education iniciaram as atividades na plataforma online na última segunda-feira. A primeira semana seria de treinamento e adaptação. “A gente está sem uma informação de como será o funcionamento do sistema. Não temos orientações específicas do que e como temos que fazer, ou por quanto tempo”, disse um professor de ensino médio que também preferiu não se identificar.
Conteúdo será inserido na próxima semana
Em nota oficial, a Secretaria de Estado de Educação (Seeduc) informou que a primeira semana foi de ambientação. “É necessário esclarecer que esta primeira semana, iniciada no dia 30, foi de ambientação na plataforma Google Classroom para professores e alunos. A próxima semana será de inserção do conteúdo na plataforma e treinamento. As aulas estão previstas para serem iniciadas no dia 13. O aluno acessará a sua escola na plataforma e entrará na sua turma. Ali ele terá as pastas de cada disciplina com o conteúdo do dia. Os professores poderão fazer tutoria online para auxiliar e tirar dúvidas”.
Para a Seeduc, é importante manter os alunos mobilizados. “Neste primeiro momento, o importante é dar continuidade à relação estudante/ professor. Manter os alunos mobilizados para os estudos, recebendo conteúdo online e implementando as atividades de ensino a distância, para que os estudantes percam o mínimo de conteúdo possível, pois já foi anunciada a manutenção da data do Enem e dos vestibulares no final do ano. As formas de avaliação ainda estão sendo analisadas”.

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