Janela partidária já está aberta
Arnaldo Neto 04/03/2020 23:03 - Atualizado em 10/03/2020 14:58
Câmara Municipal de Campos
Câmara Municipal de Campos / Antônio Leudo
O calendário eleitoral tem uma data importante, hoje, para configuração do tabuleiro. É a chamada janela eleitoral, período no qual os vereadores podem trocar de legendas sem correr risco da perda de mandato por infidelidade. Em Campos, mais de 80% dos parlamentares da atual legislatura sinalizaram, em matéria publicada pela Folha no último domingo, que trocarão de partido. Poucas definições são declaradas agora, mas muitas mudanças vão acontecer até a data limite para troca, dia 3 de abril. Sociólogo e cientista político, George Gomes Coutinho analisa as causas desses movimentos, mas ressalva que “não se trata de movimento ilegal. É permitido dentre os códigos que normatizam as relações político-partidárias brasileiras”:
— Temos como variáveis um sistema político estruturalmente personalista no Brasil, com partidos muitas vezes sem maior coesão e elementos de conjuntura que assinalam o abalo sísmico das democracias representativas aqui e alhures, tendo consequências sobre a saúde dos partidos e, consequentemente, afetando a capacidade destes agentes coletivos em organizarem o próprio sistema.
Na Câmara de Campos, apenas quatro vereadores não sinalizaram mudança de legenda. Abu e Fred Machado, presidente da Casa, apontam que vão continuar no Cidadania do prefeito Rafael Diniz, mas estão prontos para qualquer mudança caso seja a necessidade do grupo político. Pastor Vanderly também pretende continuar no Republicanos, mas aguarda orientações superiores antes de declarar se ficará na legenda, bem como para confirmar se será ou não candidato à reeleição. Já Rosilani do Renê diz que pretende continuar no PSC, mas aguarda uma conversa com o governador Wilson Witzel, da mesma sigla, sobre a possibilidade de uma candidatura própria da legenda a prefeito, para só então definir se continuará no partido.
Embora ainda não revelem suas preferências, os vereadores de mandato têm direcionamentos para outubro. As alianças só serão reveladas quando a janela estiver perto de fechar. Eles têm outras preocupações, como suas campanhas de reeleição e as nominatas para a primeira eleição proporcional sem coligação.
No cenário campista, George avalia outro diferencial para as mudanças partidárias, além do grande número de legendas e a falta de representatividade delas. “Temos como fenômeno local de suma importância o garotismo. O garotismo, seus movimentos, adversários, aliados, recursos, organizou o sistema político da cidade de 1988 até praticamente a eleição de Rafael Diniz de maneira direta ou indireta. Neste sentido, o garotismo como um conjunto de elementos da cultura política local que até mesmo transcende o próprio Garotinho, ajudou a eclipsar a formação e consolidação de partidos localmente. Disto deriva em uma constelação partidária local com dificuldade em construir organicidade junto de população e perenidade, na medida em que o debate muitas vezes gravitou entre um favorável ou contrário ao Garotinho”. 

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