Luta pelo heliporto em tom de disputa eleitoral na Câmara
Paulo Renato do Porto 03/03/2020 21:12 - Atualizado em 10/03/2020 14:57
O movimento pela permanência do heliporto da Petrobras no Farol de São Thomé, cujo prazo de utilização pela empresa terminou em 2014, esquentou a sessão desta terça-feira na Câmara Municipal de Campos, e abriu a senha para a disputa política com foco na sucessão municipal deste ano, com discursos acalorados e até mesmo agressivos. O objeto da discórdia foi um requerimento do vereador Igor Pereira (PSB) pedindo ao prefeito Rafael Diniz (Cidadania) imediata intervenção para a renovação do termo de uso da base aérea pela companhia. Antes, o vereador havia promovido na segunda-feira uma reunião no balneário entre vereadores, além de lideranças empresariais e comunitárias. Ao final do encontro, os vereadores assinaram um documento de adesão ao movimento.
Integrante do antigo G8, grupo intitulado independente no Legislativo, Igor desta vez assumiu uma postura firme de oposição ao prefeito. “Fizemos uma reunião que considero histórica. O prefeito tem sido inerte e covarde, mas o povo unido e este Parlamento não vão deixar isso acontecer. O heliporto que lá funciona há 26 anos e gera 600 empregos vai continuar no Farol”, apostou Igor.
— Eu não fui, nem assinei o documento porque a pessoa que fez circular o documento não me merece confiança. Até porque era um documento apenas oficioso, não oficial, e o prefeito já encaminhou ofício ao presidente da Petrobras solicitando uma audiência para resolver essa questão — disse Genásio (PSC), líder do governo na Casa.
Paulo Arantes (PSDB) também imprimiu tom político ao debate e acusou indiretamente vereadores da base de apoio ao governo. Entre críticas pelo que considerou “demora” na solução do problema, Arantes acionou baterias contra o governo. “Quem apoia esse governo só pode estar levando alguma vantagem”.
Foi o suficiente para subir ainda mais temperatura da sessão. “Eu respeito o posicionamento de qualquer vereador. Mas não apoio o governo para levar vantagem e não sou corrupto. Se alguém tem alguma acusação de desvio de conduta de minha parte, que suba a tribuna com provas. Faço este desafio”, respondeu o vereador Abu (Cidadania).
Alvaro César (PRTB) anunciou: “Já começou a campanha eleitoral. Mas eu acho que é preciso respeito, tem que dobrar a língua para falar assim dos vereadores, que são chefes de família e não estão aqui para brincadeira”, rechaçou.
O vereador Eduardo Crespo (PL) propôs elevar o nível do debate. “Vamos levantar o nível da discussão. Precisamos de mais união para não sofrermos mais esta perda, até porque a receita dos royalties está caindo, mas a Petrobras quer investir no Farol e vai precisar do heliporto. Já perdemos as operações da Petrobras no nosso aeroporto. O governo não tem acertado, mas essa negociação não pode dar errado”.
A linha de argumentação dos vereadores da oposição se sustenta na necessidade de uma contrapartida da estatal para a renovação da cessão de uso defendida pelo governo. “O que o prefeito está fazendo é negociar com a Petrobras, que usa o solo do município sem pagar nada, uma contrapartida para Campos”, disse o vereador José Carlos (DC).
A conotação política do movimento foi também destacada pelo o presidente da Câmara, Fred Machado (Cidadania). “Não assinei o documento porque havia palavras depreciativas contra o prefeito e o grupo político a que pertenço. Mas eu sonho que a Petrobras vai nos atender numa contrapartida com obras de saneamento na Vila dos Pescadores. No passado, e empresa entrou com uma contrapartida com a construção da UBS no Farol. Por que não agora?”
— O prefeito não é maluco em não querer renovar o uso para a permanência do heliporto, mas este contrato de cessão não pode ser um contrato de mão única. É preciso que a Petrobras venha contemplar os interesses da prefeitura no Farol — comentou Luiz Alberto Neném (PTB).
Segundo vereadores da situação, entre as propostas de contrapartida do governo à Petrobras estariam também as condições para a implantação de uma Zona Especial de Negócios (ZEN) no Farol. Apesar do tiroteio verbal, o requerimento de Igor foi aprovado por unanimidade. 

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