MPF responde sobre caso Cambaíba, herdeiros negam e Bolsonaro ironiza Garotinho
08/08/2019 09:29 - Atualizado em 09/09/2019 14:32
MPF fala sobre Cambaíba
Na última quinta (1º) a Folha gerou três perguntas ao Ministério Público Federal (MPF) de Campos. Que naquele mesmo dia divulgou inquérito apontando que os corpos de 12 presos políticos da ditadura militar foram queimados nos fornos da usina Cambaíba, entre 1973 e 1974. As denúncias iniciais foram do ex-delegado do Dops Cláudio Guerra, no livro “Memórias de Uma Guerra Suja”, de 2012. O caso voltou ao noticiário nacional no dia 29, quando o presidente Jair Bolsonaro (PSL) disse que um dos 12 presos, o ex-militante de esquerda Fernando Santa Cruz, citado por Guerra, teria sido morto pelos próprios companheiros.
MPE já tinha falado
A intenção inicial da Folha era ter, via assessoria do MPF, as respostas do procurador da República de Campos, Guilherme Virgílio, até o sábado (03), para publicá-las no domingo (04) junto de outra entrevista, com o promotor do Ministério Público Estadual (MPE) Marcelo Lessa. Ainda em 2012, ele arquivou investigação sobre as denúncias de Guerra, concluindo: “desses supostos assassinatos ou ocultação de cadáver, não há o menor indício sério e idôneo de quem possam ter ocorrido em território campista”. Marcelo recebeu as perguntas na sexta, um dia depois do MPF. Ainda assim, enviou suas respostas a tempo da publicação no domingo.
Respostas do MPF (I e II)
Via WhastApp, a Folha tinha tentado contato diretamente com o procurador Guilherme desde o dia 30. Mas não houve retorno. Ontem (07) o MPF de Campos enviou, via assessoria, suas respostas às perguntas do jornal: 1) Quantos depoimentos e de quem, caso seja possível revelar, além do Cláudio Guerra, foram utilizados para embasar a denúncia? MPF: “Foram realizadas mais de 25 oitivas, mas a identidade física das testemunhas segue em sigilo, para protegê-las”. 2) Quais foram os documentos e quantos foram analisados também para chegar a essa conclusão? MPF: “Foram centenas de documentos”.
Respostas do MPF (III)
Por fim: 3) Houve relatos de alguém além do Cláudio Guerra que corroborou sua versão? De quem e de quais funções? MPF: “Sim, vários depoimentos corroboraram os fatos narrados, mas, como já dito, a identidade das testemunhas permanece em sigilo”. Pelas respostas curtas e genéricas dadas pelo procurador da República, cujo sigilo e cautela se entendem, não dá para saber muito mais sobre o polêmico caso. Ontem, no link da postagem da entrevista de Marcelo Lessa à Folha no Facebook, quem levantou argumentos para contestar a conclusão do MPF foi o policial civil José Bainha, representante da família herdeira do espólio de Cambaíba.
Resposta de Cambaíba
“A data das alegadas incinerações de oito dos 12 corpos, antes do início da moagem, torna essa versão absurda. Os fornos de uma usina não são como fornos domésticos ou de padaria, que podem ser ligados a qualquer momento. Na moagem não existe ‘calada da noite’, o funcionamento é 24h em turnos de 12h/12h, cada um com 20 funcionários, fora os caminhões de cana que avançam a madrugada. Além do mais, os fornos ficavam diante de uma via pública e um vilarejo com 200 casas. Sou neto de Heli Ribeiro Gomes (falecido proprietário da usina) e digo como família que vamos rebater essa narrativa infundada”, garantiu Bainha.
Bolsonaro mentiu!
Após investigação, a Comissão Nacional da Verdade concluiu que Fernando Santa Cruz foi preso, torturado e morto pelas forças de repressão da ditadura. Mas deu duas alternativas ao destino do corpo: teria sido incinerado em Cambaíba, como dizem Guerra e o MPF de Campos, ou enterrado em vala comum no Cemitério dos Perus, em São Paulo. Na dúvida, uma certeza: Bolsonaro mentiu quando disse que o pai do presidente da OAB, Felipe Santa Cruz, teria sido morto pelos próprios companheiros. O relatório secreto RPB 655, do Comando da Aeronáutica, prova que Fernando Santa Cruz foi preso pela ditadura em 22 de fevereiro de 1974.
E ironizou Garotinho
Bolsonaro voltaria a colocar Campos na pauta. Na segunda (05) uma entrevista à jornalista Leda Nagle. Nela, ironizou o ex-governador Anthony Garotinho (sem partido). Sobre a violência do Estado do Rio, a repórter lembrou que houve quem já tenha prometida acabar com o problema em seis meses. Ao que Bolsonaro respondeu rindo: “Mas ele era Garotinho”. E, ainda rindo, emendou: “Fez até um livro, né?”. O presidente se referiu a “Violência e Criminalidade — Diagnóstico e Propostas para uma Política Democrática de Segurança Pública”, publicado por Garotinho em 1998, quando se elegeu governador. E deu no que deu.

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